Thursday, June 30, 2005

Nada podeis contra o amor - Eugenio de Andrade



"Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.
Podeis dar-nos a morte a mais vil,
isso podeis - e é tão pouco!"

Frente a Frente - Eugênio de Andrade - Poeta português.

Estou descobrindo Portugal e outros poetas lusófonos- fascinada com poetas de Angola e Moçambique. - quem puxou o fio foi Mia Couto.
Momento de me organizar... Por isto está economizando meus poemas, guardando para eventuais concursos, os poucos inéditos que restam. 
No Congresso Brasileiro de Poesia em 1.998, na sala de exposições dos poemas visuais, Fernando Aguiar, poeta visual, artista plástico, professor da Universidade de Lisboa - my friend - e Hugo Pontes, poeta mineiro, não sei se devo dizer poeta visual, ou concretista, conversaram com a Bárbara - sobre - "escolher entre a prosa e a poesia". 
Vez ou outra eu penso nisto. Mas, nunca segui o conselho de ambos e sigo escrevendo poemas e novelas, e romances e contos, até que eu mesma vire um livro.

phobo by Joana Kosinska

henfil


Quando tudo escurece e o céu se torna negro, igual ao céu de O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë, eu começo a pescar as cenas belas. Penso na mandala, no círculo da vida, na gangorra do vai-e-vem - um dia de sol, outro de chuva. Quando estou no cenário de Emily, à beira do abismo, na charneca, resgato as boas horas. O tempo da luz sem medo, de estar inserida no céu líquido, no azul inenarrável. Penso no sorriso da minha mãe e na primeira manhã em que fui Deus - quando colocaram a Paula, minha primeira filha, em meus braços e me sentí dona da criação. Eu tinha uma boneca de carne - minha obra de arte. O primeiro amor, essas delícias. Recupero a certeza de que virão outros dias tão plenos e tão belos. E meio ao caos nacional, eu recupero as belezas - e as minhas saudades - acreditando que em algum lugar existe alguém como o irmão do Betinho, um dos caras mais lindos que eu vi, e que é da safra 1.944 - o ano mágico em que nasceu - Chico Buarque, Leminski, Henfil, Frei Betto... e sabe-se lá quem mais de beleza que a gente não tem visto. Grande beijo Henfil e uma carta que narra a tua alma de estrelas:
*
São Paulo, 1º de setembro de 1978.

"Eu nunca soube amar. Eu nunca soube amar a cada um. Eu nunca soube amá-los como indivíduos. Eu nunca soube aceitá-los como feios, fracos e lentos. Tragam-me um doente e não chorarei com ele. Mas me mostrem um hospital e derramarei rios e mares. Eu não sei falar e ouvir um homem, uma mulher ou uma criança. Eu só sei fazer coletivo, massa, povo, conjunto. Sou capaz de ser herói, mas não sou capaz de ser enfermeiro. Sou capaz de ser grande, mas não sou capaz de ser pequeno. Eu nunca dei uma flor. Nunca amei uma pessoa. E tenho amor. Dou desenhos, dou textos, escrevo cartas. Sem contato manual, sem intimidade, sem entregar. Por que desenho, por que escrevo cartas? Minha arte é fruto da minha importância de viver com vocês. Um dia, vou rasgar o papel que escrevo, rasgar o bloco que desenho, rasgar até esse recado covarde e vou me melar e besuntar com vocês, tudo com meu grande beijo. Vocês vão me reconhecer fácil: vou ser o mais feliz de vocês. Henfil"
(Cartas da mãe)
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para assistir "Cartas da Mãe", documentário de Fernando Kinas e Marina Willer - acessar:

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...