Friday, January 03, 2014

Inaugurando 2014



Casa de areia com vista para Aldebaran





Há algo de intransferível no poeta.
Ao homem comum não custa muito mudar os hábitos, mudar de mulher, 
mudar de casa, trocar de carro, de corte de cabelo, de loção.
O poeta não pode mudar seus hábitos.
Segue Universo sem fragmento.
Não pode cortar nada, amputar-se, diluir.
Os homens comuns levam uma vida assim:
Terno, família, futebol, financiamento, férias.
O poeta leva uma vida distinta, plena de diálogos interiores:
- A flor amarela cresceu um pouco mais e segue agarrada ao muro.
- Há dois dias não ouço aquele pássaro que lembra Gardel.
- Morro de pena dos anjos, pois sei que eles nunca dormem.
- Voltei a pensar em Chopin noite e dia e em sua dor de tísico em Nohant... Na dor de perder a amada: aquela mulher-areia - Sand. Aquela que lhe concedeu uma filha emprestada e paraísos de orvalho. Os homens fogem do amor, e com razão...  Quem decifra estes corações com asas? E apenas as mulheres com asas nas artérias seguem inesquecíveis... Chopin que o diga.
Em dias de dor insuportável o poeta pensa: - Ah! Quem dera uma vida morna, um terno lindo, reuniões plenas de gráficos e cafezinhos.
Mal seca as lagrimas, continua assim:

Casa de areia com vista para Aldebaran.

Bárbara Lia

O desencanto mata os centauros brancos...



Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo...
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua. 

Sierguiéi Iessiênin



O desencanto mata os centauros brancos
Quem antes deblaterava contra o negror
Morre branco de dor no Hotel Inglaterra

O desencanto raspa a tintura do poema
Rasga peles à carne viva
Mata meninos na flor da bonança

Os homens desde os Césares até Bush
Os homens desde a antiga Babilônia até USA
Os homens desde a primeira fala até o último ditador
Vestem o desencanto como luva

E havia nele tanto amor!
Morrer não é difícil – ele disse -
Difícil é o ofício de ressuscitar a esperança
Respiração boca a boca em todas as manhãs

Lá vai o menino pelos campos
Infância a caminhar em tábuas rústicas
Molha a lua com seu xixi audacioso

Lá vai o menino pelas ruas
O verso na boca
O coração aos saltos

Em Moscou ama Isadora meio à fumaça
Do "Cão Vadio". Maiakovski, a poesia, a luta
A neve diabolicamente alva de dezembro
A colorir-se de rubra dor
Na parede a mensagem escrita a sangue

Viver é difícil, sim, viver é
Este é teu canto real
Ao qual nenhum poeta escapa
Bárbara Lia

* depois das poesias para as - musas de acetileno - escrevi algumas para os poetas suicidas como Hart Crane e o belo Iessienin... 

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