acima está a incógnita
a esfinge
a escuridão selada
desde menina é bem ali
- vórtice do enigma -
minha casa
distanciada
calada sempre
translúcida
invisível
vez ou outra
alguém vê
a invisível
e pelos olhos
de outrem
me reconheço:
corpo ameríndio
fera fêmea
gosto
quando amam
minha voz
reafirmam
o que gosto
em mim
gosto de vozes
e imagino o som
das vozes ignotas
dos amados
esqueço rostos
cheiro
noites helênicas
nunca as vozes
suas senhas secretas
indiscretas
não basta ser mulher
é preciso ser
vento e unção
é preciso ser
inesquecível
no vórtice do enigma
vou ficar
- invisível -
ainda que doa
não saber
em que tom
tua voz ressoa
Bárbara Lia
- poema da série: quando eu quis atravessar as grandes águas -