Tuesday, December 28, 2021

Livros de 2021 - O Ano da Poesia

 


Em Marte Sem Passaporte"
Poesia 
Bárbara Lia / Thomas Gabriel
Edição Independente  (2021)
40 páginas 
Capa: o desenho é do Arthur - neto da poeta Bárbara Lia - 
sobre fotografia de Marte (NASA).



Em 2002 meu filho Thomas participou da Oficina Sarah Sal,  do poeta Fernando Karl ( in memoriam).
Sempre quis imprimir os poemas do Thomas. Karl destacou o talento poético do Thomas, mas Thomas escreveu apenas durante a Oficina e à época ele tinha 13 anos.  Os poemas do meu filho Thomas Gabriel falam de temas propostos durante os três meses que ele escreveu poesia sob a batuta do Karl. 
Meus poemas passam pelas estações do ano, temas esparsos e encerra com o poema longo "Contra a morte da luz" que fala da degradação do planeta (e dos homens) e dialoga com o poema "Do not go gentle into that good night" do poeta Dylan Thomas.
O livro foi impresso sob demanda. A tiragem foi apenas 50 exemplares. Edição esgotada.


A janela se fecha no coração

Magnético

Em que olhos puxam vitrais

 

Olhos se fecham

Viúvas se matam

Caixinhas de música

 

Não tocam mais música

Apenas se fecham


Thomas Gabriel 

Em Marte Sem Passaporte 

Poesia (2021)



**


É mais fácil ver anjos caídos

Em jardins pomposos

Os anjos transparentes

Vivem nos becos

Nas encruzilhadas tristes

Nas peles rasgadas

Nos catres surrados

Viver em Poesia

Ajuda a ver anjos

E pássaros

E ajuda a esquivar-se

Dos jardins amorfos

E dos risos pálidos


Bárbara Lia

Em Marte Sem Passaporte 

Poesia (2021)




foto by Sabrina Gomes



"Põe a mão em mim, viro água" reúne poemas escritos durante o ano de 2020.

Apenas os três poemas da série - O céu ainda é azul - foram escritos antes da pandemia, após a visita à exposição de Yoko Onno, no Instituto Tomie Othake, São Paulo.

O livro é dividido em três blocos com os seguintes títulos:

- 'Põe a mão em mim, viro água'

- 'O céu ainda é azul'

- 'A arte de não morrer'

O título é fragmento de uma fala da personagem Doralda, do livro "Corpo de Baile" - de João Guimarães Rosa: "Estou adoecida de amor. Põe a mão em mim, viro água".

Capa e ilustrações internas do pintor tcheco Alphonse Mucha.


*

Para que haja luz lá fora

 


À sacralidade da natureza nada estremece:

O canto do pássaro

O assombro da rosa fúcsia

O coração da natureza -

Pura matéria das estrelas

 

Nós somos enxertados

Pelo sopro de dois anjos

O anjo do bem - descido das alturas

O anjo do mal - que veio a galope do desconhecido

 

Qual deles está amalgamado ao teu ser?

 

Amor se reconhece no ato

O ódio é este infiltrado

Via fatos, pessoas, eventos

O ódio é multifacetado - enganoso

O amor é como um menino

Livre e nu

Correndo de peito aberto

 

Gosto das pessoas eletrizadas

São as que amam

As que odeiam são contidas

Escondem sob a pele a farpa

As pessoas que odeiam

Voltam-se para dentro de si

Feito criptas

As que amam saem ao luar

Ao vento, ao destino

 

Invejo pássaros, rosas, rios e vento

Por saber que a sacralidade da natureza

Não é atingida pela onda

Esta que ora chega 

 

Como chega a tantos lugares

De tempos em tempos

Esta que persegue e carimba

Segrega e mata

 

Quando encontrarem nossos ossos

Eles serão leves

Serão como somos hoje:

Sol, liberdade e Poesia

 

Ninguém saberá quem odiou

E quem foi odiado

A mesma ossatura humana

Sem distinção

O negro, a mulher livre,

O mendigo ou cada poeta

Nossa ossatura tal e qual

A dos que –hoje – se conclamam deuses

E dizem que são escolhidos

E acham que podem

Com seus dedos de ódio

Brincar de: “uni duni tê o escolhido foi você

Virarão pó e ossos e igualdade

- Enfim -

 

Resta dobrar de encontro ao coração

O estrondo do mundo

Para caber no peito

O quão grande é

E foi tudo

 

A esplendorosa vida

A delicada vida

A orgástica vida

Esta que dançou em minha pele

Nadou no meu sangue

E espera, em paz, meio à natureza,

Que ignora a podridão

 

Lembrar o último beijo

O verso último que brotou ainda agora

Ter a certeza de que ainda faltam séculos 

Para que haja luz lá fora

 

 Bárbara Lia

"Põe a mão em mim, viro água"
Poesia (2021)


Quem desejar este livro (põe a mão em mim, viro água), enviar e-mail para a autora: barbaralia@gmail.com


--




Antologia organizada por Rubens Jardim que reúne 328 poetas de todo o Brasil, de épocas, estilos e estados diferentes. Participo com dois poemas. Para adquirir o livro clicar no link abaixo.

http://www.arribacaeditora.com.br/as-mulheres-poetas-na-literatura-brasileira/



*

Friday, December 17, 2021

Soledad - Bárbara Lia

 



Soledad

Vi em um filme de Bruno Barreto
Elizabeth Bishop e Robert Lowell
A passear pelo Central Park entre
Risos e passos lerdos de poetas
Ela disse ao seu amigo: eu devo ser
A mulher mais solitária do mundo -
Isto deve constar no meu epitáfio
Elizabeth, eu te apresento minha vida:
Longas noites nesta cama desabitada
Manhãs tomando café com pássaros
Tétrico corredor de sombra única
Um prato e um copo à mesa do jantar
Mesa redonda, cadeira fria e escura
Horrível trono de rainha viúva
Minha solidão é de extremada textura
De quem vive a arranhar a carnadura
Da odiosa palavra - Não
Posto que, diferente de ti, eu nunca vi
O luar de Ouro Preto ao lado do amor
Nem recebi - de mão beijada -
Uma casa serrana diante do infinito
Nem ninguém atravessou o oceano
Para morrer ancorado em meu corpo
Dito isto fica combinado então:
Mudarei meu nome para – Soledad
Nem sempre fui Bárbara na vida
Com certeza sempre fui solidão

Bárbara Lia
L'amour me ravage
Poesia (2019)
Carnavalhame - 3ª edição

Friday, November 19, 2021

O Romance "Arrependimento" na Revista Trajanos





Texto de Bárbara Martins para a Revista Trajanos, clique no link abaixo para ler. 

"Arrependimento" é um livro que tem como cenário Paranaguá, esta cidade sempre presente em minhas narrativas. É mistério até para mim, atualmente é Guaraqueçaba que se apresenta como um dos cenários de um romance que escrevo. 

Gracias, Bárbara Martins. Amei suas palavras.

https://revistatrajanos.wixsite.com/trajanos/post/arrependimento-livro-de-b%C3%A1rbara-lia



Thursday, November 11, 2021

Em Marte Sem Passaporte - Bárbara Lia / Thomas Gabriel



Este é meu primeiro livro em parceria. Já participei de várias Antologias, mas é meu primeiro livro com outro autor. Em 2002 meu filho Thomas participou da Oficina Sarah Sal,  do poeta Fernando Karl ( in memoriam).

Sempre quis imprimir os poemas do Thomas. Karl destacou o talento poético do Thomas, mas ele escreveu apenas durante a Oficina. 

Os poemas do meu filho Thomas Gabriel falam de temas propostos durante os três meses que ele escreveu poesia sob a batuta do Karl. 

Meus poemas passam pelas estações do ano e  minha participação neste livro encerra com o poema longo "contra a morte da luz" que fala da degradação do planeta (e dos homens) e dialoga com o poema "Do not go gentle into that good night" do poeta Dylan Thomas.


Saturday, November 06, 2021

Adeus Karuguá - Bárbara Lia

 

 (Matéria para o Site - Vejo São José. Em 2006 atuei como jornalista cobrindo a COP8. Quinze anos passados e segue tudo como era dantes no quartel de Abrantes. Greta Thunberg era praticamente um bebê em 2006).


Ampulheta colocada no hall de entrada do Expotrade Convention Center pelos integrantes do Programa do GreenPeace (Kids for Forest). Dentro, os animais se transformando em dinheiro e o pedido para que virassem a ampulheta ao contrário.

 


A MOP3 começou com uma recepção no Memorial de Curitiba – Largo da Ordem. Três semanas depois, as delegações, ONG’s, jornalistas, Ministros de Estado e até mesmo o Presidente da República deram sua contribuição para colorir Curitiba das cores da Terra e da Esperança. À uma hora da manhã deste sábado (1º de abril) quando se encerrou a última reunião o futuro da Terra, em sua essência mais complexa, foi discutido e dissecado. Ao final, ao que parece, sem merecer o devido cuidado, a primordial atenção e por mais que os integrantes da Convenção, na figura do seu secretário Ahmed Djoglaf faça uma avaliação positiva, ressaltando que houve um grande entendimento e muita sintonia entre os Ministros de Estado presentes, não há muito a comemorar. Ahmed enfatizou a presença de quatrocentos jornalistas, ainda assim, ao menos para esta observadora, o momento merecia muito mais atenção da grande mídia, da população, que se escora em divagações quando questionado sobre o tema. Ouvi de uma pessoa: até lá já morri. Ouvi isto quando comentei sobre a conclusão dos mil e trezentos cientistas que responderam ao pedido da ONU e fizeram um relatório sobre a saúde do planeta. Eles colocaram a possibilidade de dentro de trinta anos o planeta entrar em convulsão, caso nada seja feito a respeito da questão do meio ambiente. Então, quando alguém te responde com esta lacônica previsão – Até lá eu já morri - percebe-se a dificuldade que irão encontrar governos, ONGS, ambientalistas e qualquer um que pense o futuro das espécies e a saúde da Terra: a inércia.

 



Durante alguns dias este ônibus decorado com borboletas nos levava ao MOP/COP – A biodiversidade está na gente – escrito em dois idiomas.

 

No início, na primeira semana o tema girava em torno de duas sentenças: “contém”, e “pode conter” – os chamados transgênicos, ou organismos vivos modificados. A máquina que usei para fotografar estava com a data errada, quiçá em 2.023 borboletas reais circundem os ônibus e comemorem outra mentalidade. A questão da MOP3 levou o Governador Roberto Requião a dizer em um dos seus pronunciamentos “O eufemismo falso do – pode conter- se transportado para um programa de governo, por exemplo, comportaria a dedução de que o programa de governo pudesse ser rotulado como - pode conter interesses contra a Ecologia”.

Do lado de fora da Expotrade, em tendas brancas, acontecia paralelamente o Fórum Global da Sociedade Civil, que teve a participação da Ministra Marina Silva e do Governador Requião na abertura do Fórum.  O evento reuniu ONG’s, Nações Indígenas e integrantes da Via Campesina.

A MOP3 teve avanços na negociação da rotulação definitiva do termo “contém”, muito embora esta prática só entre em vigor em 2.012. Segundo Marina Silva “O protocolo de Cartagena é cumulativo e o que fizemos aqui foi colocar o “contém” na ordem do dia, nos países que são parte do Protocolo”.

Ao final da MOP o Governador do Paraná – Roberto Requião – tomou à frente e assinou um decreto onde, a partir de agora, os produtos paranaenses vão receber o selo “contém OVM’s”, atitude elogiada pela Ministra e por vários integrantes do evento.

Finda a MOP3, a Convenção da Biodiversidade teve início com a chegada à Curitiba de várias etnias, fazendo do Centro de Convenção um lugar onde desfilavam os trajes típicos de várias nações e os povos indígenas de sessenta países presentes. No pátio realizavam cerimônias, diante das ocas montadas, atraindo os visitantes.

 



Cavalhadas

 

Em três noites, durante a COP, aconteceu uma encenação com mais de mil integrantes, do grupo – Ordem dos Cavalheiros – da cidade de Guarapuava (PR), interpretando o espetáculo conhecido como “Cavalhadas”, reproduzindo lutas da Idade Média.

Durante a COP a taxa de ocupação hoteleira em Curitiba alcançou a taxa de 70%, contra 30% no mês período no ano de 2.005.

Dentro, as negociações giravam em torno de temas importantes como a questão da repartição de benefícios e acesso a recursos tradicionais, e a utilização ou não das Terminators.

O Fórum Internacional Indígena sobre Biodiversidade (FIIB) fez críticas aos resultados no último dia do evento - a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8). Segundo os participantes do Fórum “não avançou na construção de um regulamento internacional para o acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais”. Os indígenas esperavam a criação de um sistema de regras mundiais para as pesquisas com plantas e animais, que, segundo eles, se apropriam do saber dos indígenas, quilombolas e extrativistas. Fóruns indígenas anteriores e também a Declaração Internacional de Cancún dos Povos Indígenas, já demonstrava a preocupação dos povos indígenas com esta questão da distribuição de benefícios. Na Quinta Conferência Ministerial da OMC em Cancún em setembro de 2.003. A proposta do Fórum é que haja mecanismos de repartição dos lucros e tecnologia com as comunidades locais. Os povos indígenas dão o nome de Biocolonialismo a esta decisão dos governos agir sobre as suas milenares práticas que começaram a atrair a atenção do homem branco. Segundo o Conselho dos povos indígenas a ênfase na “distribuição de benefícios” tem o efeito de promover ao invés de prevenir, a comercialização dos recursos genéticos. Ainda que a distribuição de benefícios ajude mais os povos indígenas que a biopirataria, apresenta iguais e sérios riscos. Segundo este conselho as vozes dos povos indígenas em todo o mundo estão a questionar a engenharia genética, denunciando os atos de biopirataria e reivindicando os direitos a proteger as comunidades e o meio ambiente contra os depredadores da genes. As iniciativas e forma de

vida dos povos indígenas continuará demonstrando ser uma alternativa de em uma era de globalização que trata de monopolizar e comercializar todos os recursos da vida.

Para os participantes do Fórum Indígena, o único avanço da COP-8 foi manter a proibição absoluta (estabelecida em 2000) para pesquisas com tecnologias genéticas de restrição de uso da Tecnologia Terminator – que diz respeito a plantas que foram geneticamente modificadas para produzir sementes estéreis na colheita, através de mecanismo molecular induzido. Desenvolvida pela indústria multinacional de sementes/agroquímicos e o governo dos Estados Unidos para evitar que agricultores guardem e replantem sementes colhidas que foram desenvolvidas pelas corporações de biotecnologia e de sementes.

O Greenpeace avaliou a COP8 como um fracasso. E a falta de avanço, segundo a organização compromete seriamente as metas definidas pela própria Convenção de reduzir a perda de Biodiversidade até 2010. O adiamento da lei sobre Repartição de Benefícios segundo Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, ganhou-se tempo para que a indústria farmacêutica, especialmente dos Estados Unidos, etiquetasse e colocasse a biodiversidade em código de barras.

A discussão sobre o papel da conferência em identificação de reservas marinhas em alto-mar não avançou.

Em resumo, a COP8 como avanço pode comemorar apenas a permanência da proibição do uso das Tecnologias de Restrição de Uso Genético – GURT’s, ou Terminator.

Este tema relativo aos Terminator entrou no tema da convenção este ano. Este e outros temas terem entrado na agenda é visto como um avanço na luta contra a perda da biodiversidade. Pelo Brasil foi trazida a iniciativa de mapear as espécies de animais e plantas exóticas invasoras. Segundo a ONU, tais espécies dão um prejuízo de US$ 1,4 trilhão, sendo a primeira causa de redução de biodiversidade em ilhas e a segunda nas demais regiões do mundo. Entre os invasores estão arbustos, aves, peixes, répteis, e vírus exóticos.

Em 2008, na Alemanha, a COP9 terá como pauta uma gama enorme de pendências, a dois anos da meta estabelecida para que se reduza a perda da Biodiversidade no Planeta.

Certa vez eu escrevi que as ONGs e os Médicos sem Fronteira e os membros do Greenpeace eram os poetas do Terceiro Milênio. Nada poderá ser narrado se a Terra estiver ressequida e nua.

Os povos da floresta parecem ser os únicos que tem noção da importância deste precioso vínculo com a Mãe Terra, e eles, até mesmo eles são parte desta extinção vagarosa e estranha, e o homem branco, globalizado, com um código de barras na alma talvez não compreenda o que Marcos Terena disse:

– Posso ser quem você é sem deixar de ser quem sou.

Considerando a luta em todo o mundo, incansável e sem trégua, o feito de muitos integrantes que acabam presos em manifestações que buscam alertar os homens. Esta minha pequena passagem pela MOP/COP fez com que eu me lembrasse de um poema que fiz em 1.999 para esta organização, que se denominava, no início – Guerreiros do Arco-Íris.

 

 


GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS

 

 

Quando secarem as fontes

E a terra estiver ressequida e nua

O mundo se lembrará dos guerreiros do arco-íris

 

Quando o verde desaparecer

E o último pássaro migrar

Em busca

Da última folha

Da última árvore

Da última floresta

A humanidade saberá

E – tarde demais - acordará

 

 

 

 

Karuguá – em guarani significa Arco-Íris.

As informações sobre o Fórum Indígena em Cancun, em 2.003, foram retiradas do livro – Guerra de Paradigmas – Resistência de Los Pueblos Indígenas a la Globalización Econômica – editado por Jerry Mander y Victoria Tauli Corpuz.

 

 #COP8

#memories2006

#barbaralia

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