A vã filosofia engoliu a seco o tempo das aparências. Antes era nos rios antigos que a gente penetrava, aprendizes do belo, conclamando Camus e Kaváfis. A poesia é pedra consagrada em fogo demorado. Lenta e ofegante como uma ave que sobreviveu ao fim de um tempo e traz a única semente do novo tempo.
Hoje eu parei pra ver Gabriela e Vasco falarem sobre a experiência tua - Hilda Hilst pede contato...
E foi assim:
Você é linda!
A voz dela vem a mim enquanto Gabi diz o quanto é difícil penetrar o Universo de Hilda.
Tento lembrar o que ela me significa: eu que vivi ao lado, ao redor, como uma ama solitária em seu castelo de sol.
Lembro que és ponte para o rebuscado e tuas palavras imprimem coragem. Recolhimento. Até mesmo sua mágoa é amparada em lucidez poética.
Tento encontrar a palavra/definição sobre o que Hilda me significa.
Então soa a voz resoluta e pétrea, um pouco doce enleada em entusiasmo de Hilda:
Contigo aprendi a solidão necessária. Não me escoro mais na era vitoriana de Emily Dickinson para que entendam a misantropia optada. Eu penso em ti que tocou este tempo cibernético e é você a pessoa que me diz: sim é possível ser quem vive em uma casa de sol, ou de areia, ou de sons, para respirar e viver sem contaminar a pele do poema. Eu devo a ti esta certeza de que é dentro da solidão, meio ao caos verdadeiro que as palavras clamam por materialidade.
Toda a mágoa ecoa quando o poeta ainda vive, como se ele não suportasse que ignorassem (não seu espectro humano e pequeno) mas a sua palavra filtrada recolhida daquele desconhecido ponto onde a criação expande. Mas o poeta está morto e não sabe que seu nome será lembrado, que seus poemas encontrarão milhares, que sua vida vai ser mostrada, a sua força fêmea de sol e estio. Então, o poeta morre, enquanto vivo clama por um olhar, e sofre por não perceberem suas mãos transbordantes de pepitas de ouro, diamantes raros...
Foi lindo aquele poema dos mais lindos na voz da grande atriz.
Foi lindo, mas fica esta ternura contaminada pela certeza de que é como uma espécie de maldição.
A Poesia nunca abençoa seus grandes poetas em vida.
Espero que você faça contato, e com sua bata azul caminhe por uma cidade onde seu nome será dito muitas vezes - cálido mantra que me acompanha há décadas.