Saturday, August 23, 2008

Agosto Feminino V



.



Os rios
Sabem mais
Do que cantam

Sabe a folha perdida
Dádiva sem juizo
A navegar na tessitura
Verdelânguida

Partitura líquida
A sussurrar
Lendas e operetas

Rio embriagado
De absinto
A murmurar por aí

Nossa história onírica
Perfumada
De diamantes

Bárbara Lia

Agosto Feminino IV

Ana Lúcia Vasconcelos
Hilda Hilst


...
Ana Lúcia Vasconcelos é atriz, jornalista, escritora e tradutora, e está escrevendo um livro sobre Hilda Hilst. Edita o site - Sal da Terra Luz do Mundo. Nasceu em Campinas... Outra mulher de agosto, e escreveu sobre a poeta que eu mais amo - Hilda Hilst:



Agosto Feminino III

Quadro de Ana Kaminski - Paraíso Suave


Ana Luisa Kaminski:


Movimentos Vitais

Renovar (olhares e mundos)
reciclar (olhares e laços)
reinventar (olhares e mapas)
necessidades vitais
das almas aladas
vivazes-viajantes...

Agosto Feminino II

Rebecca Loise - por Mariana Alves




Rebecca Loise:

Aceita estes galhos mortos

..



Aceita estes galhos mortos
colhidos no cimento ácido.
Quiçá as solas dos pés
rachados
ajudam-me a fuga deste monólogo.
Doem em ti as rosas?
Perfuram-te as âncoras
de um amor que manifesta o labirinto?
Os caminhos dançando a valsa.
A cortesia da textura das pétalas
era para servir a tua raiva da entrega:
teu coração em vitrine.
A bailarina de mim te concedendo
a paralisia.
Tu estátua jacente,
revelando o desconhecido do imediato.
Que é preciso o abismo
tu nunca ousaste entender?
Que assim há o casamento
da eternidade com a respiração mortal
tu nunca ousaste sentir?
Se rosas não te enfeitam,
aceita estes galhos mortos
colhidos no cimento ácido.
Dissolverei o labirinto
ao declarar que me encontro perdida.
Não há qualquer rumo
quando se dorme os sentidos,
quando o silêncio de uma protagonista voz
sequer se ouve interpretando o seu papel.
Aceita estes galhos mortos.

Agosto Feminino I

Luciana Cañete por Bárbara Lia


Luciana Cañete:



.
Ah, esses meninos que teimam
em colecionar pedras nada preciosas,
emparedam-se vivos,
montando uma coleção
que vai pra museu nenhum.
Ah, se essa rua fosse minha eu mandava
arrancar, lavar, e banir
essas pedrinhas das suas mentes brilhantes.
E depois ia brincar com eles,
que nem me aguentam
tão feliz e saudável
e me deixam assim
a ver navios afundados
em latas de coca-cola.
...
...
- Agosto feminino, a série:
Entre os dias 21 e 24 de agosto, quase uma semana de agosto enfileirada, minhas poetas mui amadas estão todas de aniversário, culmina com o meu amanhã... por isto, cá estamos nós, a comemorar outra data querida, em poesia...
Uma mínima homenagem!

Luis Serguilha

Um fio de espadas roucas combaterá ao lado do coreógrafo nos lençóis brancos das casinhas esquecidas e um espírro dos goivos alimentará a sentença das raízes entre os mamílos engordurados pelo prado carregado de evaporações.
Lorosa'e - Boca de Sândalo - Luis Serguilha (Campos das Letras Editores S/A, 2001)
...
.
... segue um mínimo fragmento do novo texto do Luis Serguilha, que cita meu livro de poesias Noir, parte de um ensaio que o poeta escreve... quando relançar Noir vou incluir os textos do Serguilha, ao menos um livro meu vai ter algo que meus livros geralmente não tem - prefácio e apresentação...

...as imagens ampliadas/profundas dos corpos fluem através das mandíbulas líquidas-cosmológicas fundadoras do centro atómico-NATUREZA-MULHER:________ as unânimes correspondências das energias libidinais exercitam a plenitude -animal-rizomática-maternal entre as aberturas/devorações/encruzilhadas do corpo-outro e o diálogo labiríntico-original com o mundo:_________ a reciprocidade do fogo das vibrações-das-centelhas-uterinas-das-celebrações forma os cavalos da heterogeneidade dos limites e da auto-construção-genésica onde as loucas marchas do elementarismo paradisíaco/dionisiaco despertam os halos da revisitação do pulsar erótico-alquímico-infabulador fundindo a alteridade, a pluralidade e o analogismo :_________a sonoridade/sensualidade/liberdade dos espelhos das metáforas, as árvores-da-potencialidade-criadora ; as crisálidas das eclosões alucinantes, a respiração expansiva-epidérmica-visual-do-desejo regressam vertiginosamente à dramatização prodigiosa de BÁRBARA LIA.
- Luis Serguilha - Portugal.

IL MIO CIELO!

(Lasciate ogni speranza
voi ch' entrate
Dante Alighieri)

Disubbidiente,
vivo i miei purgatori,
con lo zaino della speranza
attacato alla schiena
e torno
com scapole spezzate
e la speranza sgranata
scorrendo
per la sua cerniera lampo
zollette sprecate
di dolcezza.

Sia il mio cielo!
Per la tua bocca
di garofano e petali
è restata uma sola
zolletta di zucchero.

Sia il mio cielo!
Incantami,
come incanti
il colibrì colorato
nella tua veranda bianca.

Sia il mio cielo!
E aprile tue labbra
francescane
perché io adagi
ques' ultima zolletta
come un' ostia

Sia il mio cielo!
Incantatore d’uccelli
di fiumi
e di donne,
Luce agreste ultima
che mi resta.




MEU CÉU!

Desobediente,
vivo meus purgatórios,
com a mochila da esperança
atrelada às costas,
e volto
com as omoplatas fendidas
e a esperança debulhada
escorrendo
pelo seu fecho éclair
torrões desperdiçados
de doçura.

Seja meu céu!
Para tua boca
de cravo e pétalas
restou um único
torrão de açúcar.

Seja meu céu!
Encanta-me,
como encantas
o colibri rajado
na tua varanda branca.
.
Seja meu céu e abra
teus lábios
franciscanos
para que eu deite
este último torrão,
feito hóstia.
.
Seja meu céu!
Encantador
de pássaros,
de rios
e mulheres.
Luz agreste última
que me resta.
..
.
TEU CÉU
.
Que lindo o teu poema, Bárbara Lia…
e com que lirismo cantas a esperança,
abres a alma como uma criança
e com teu encanto eu ganhei meu dia.
.
Essa ânsia de amor no teu caminho,
tuas omoplatas fendidas, tuas penas,
tua canção de cravos e verbenas
nesse céu onde declamas teu carinho.
.
É teu sonho de amante que palpita,
a tua doçura que se escorre e grita
junto ao colibri rajado na varanda branca…
.
Não fosse esse teu céu por testemunha
e os teus versos soltos…, eu supunha
ler um soneto de Florbela Espanca.
Manoel de Andrade
.
Meu céu! Minha poesia que a Camilla Gretter traduziu para o italiano, ganhou um soneto do poeta Manoel de Andrade.

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...