Saturday, April 12, 2008

SOLIDÃO CALCINADA






Nos próximos sessenta dias deixarei aqui o convite para o lançamento de "Solidão Calcinada". Finalista do Prêmio Sesc de Literatura em 2.005. O livro está em fase de impressão na Imprensa Oficial do Paraná.

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(O texto surpreende por sua construção diferenciada, ao embaralhar gêneros e formas literárias. É narrativa interiorizada, carregada de elementos do gênero lírico, o que dilui contornos espaciais e temporais. Capitulos em prosa estão entremeados por outros em versos, explicáveis na trama, e revelam a queda das barreiras na escritura contemporânea)


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Este texto é parte da análise do Conselho de Editoração. No ano anterior os poetas Márcio Claudino e Rodrigo Madeira passaram pelo crivo do conselho com os livros - O sátiro se retirou para um canto escuro e chorou e Sol sem pálpebras, respectivamente. Neste ano os dois livros a serem lançados pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Paraná é o meu e do escritor Paulo Martins, de Maringá (contos). Aguardem!

ASAS DE NIETZCHE

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A visão da loucura e da morte na metáfora da gaiola absurda do pássaro, um crânio branco, um vôo metafísico, que se apóia na epígrafe Nietzschiana [1], “a essência da felicidade é não ter medo”, a qual se contamina ainda em termos de insânia, quando Nietzsche escreve ou diz no manicômio: “Sejamos alegres! Eu sou deus, e fiz esta caricatura”. [2] Para Bárbara, poesia é ter a loucura bela de um Ícaro, voejar “céus de antes”.

Asas de Nietzsche

a essência da felicidade é não ter medo
(Nietzsche)


Em urdidura silenciosa
escondem o pássaro
no crânio branco
-- arapuca tétrica --
caveira fria.
Asas em valsa colorida de raios
que entram pelos olhos vazados
e aquecem feito o fogo
e as papoulas
da primeira primavera.
Asas de pluma se ferem
No osso-cárcere – sangram;
asas metafísicas
voam céus de antes.

(A última chuva, p. 19)

A metonímia das asas, frágeis, delicadas de plumas são o símbolo maior da liberdade personificada pelo pássaro e a sua quase irrestrita ação de vôo. Seu movimento é preso por algo frio, estático: o crânio-arapuca, o cárcere-gaiola; a imagem é forte: as asas do pássaro em movimento arrastado de “valsa colorida” sendo feridas nas janelas-olhos vazados. A flor símbolo é a papoula, sombria, misteriosa, fúnebre em contraste com a beleza da primavera, a bem dizer como uma recordação do funeral dessa primavera que já passou. Se as asas sangram, esbatendo-se na grade-osso do cárcere, outras asas, metafísicas, ensejam o vôo passado de outros céus.

[1] MILLER, H. A hora dos assassinos. Trad. de Milton Persson. Porto Alegre: L&PM Editores, 1983, p. 78.
[1] Id.

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DUAS TENDÊNCIAS DA NOVÍSSIMA POESIA CURITIBANA NO ALVORECER DO SÉCULO XXI - MÁRCIO DAVIE CLAUDINO DA CRUZ

(O mínimo fragmento que cita a poesia Asas de Nietzsche é parte da monografia do poeta Márcio Claudino. As duas tendências: poetas de expressão vital e poetas de expressão onírica. Engloba uma fração da poesia que está sendo produzida em Curitiba, e poetas que publicaram livros depois de 2.001. Estou entre os poetas de expressão onírica neste delicado, poético e abrangente estudo do Márcio)

FIGO & FIGO



Figo

do figo, adivinho suas carnes
que entre os dentes deitam
a doçura ardente
da manhã primeira
da humanidade

do figo, adivinho sua seiva
seu desmanchar-se
estriadas nebulosas
quando dissolvido
em morte amorosa

do figo, gosto da luz escondida
atrás da cortina camurça
que enruste
a vítrea forma
da semente:
estrelas diminutas

do figo, raro pomo
quero provar sem pressa
com a vidraça aberta
fazendo inveja à lua

Bárbara Lia

Figo é uma das minhas frutas favoritas, sai procurando uma imagem de figo e descobri que o Luís Figo combina com esta poesia, e como combina! 

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...