Tuesday, December 15, 2009

Marcos Prado

Canção do camelo




desse deserto conheço cada grão de areia
à noite me segue sempre a mesma estrela
você é meu oásis e minha tâmara
rara como brisa em flor de âmbar



estou vivo dentro de uma natureza morta
não reconheço minhas próprias pegadas
nem a impressão de minha passadas passadas
atalhos que me trarão de volta



do alto, você chamusca o chão que eu piso
minha sombra é uma nuvem de gafanhotos
por esse mar arenoso eu deslizo



a sede dos meus cantis rotos
bebe a areia que virou vidro
e eu blatero ao sol meus perdigotos!


Marcos Prado & Edson de Vulcanis

- Marcos Prado nasceu em 15 de dezembro, em 1961. Longe de meus olhos sempre, eu nunca o vi com vida vi a vida vertida em cada verso e canção, em cada palavra. Grande poeta que a gente perdeu tão cedo e vez por outra eu o vejo como a última gota de água em um deserto. Ele morreu aos 35, a mesma idade com a qual eu comecei a escrever pra valer. Na verdade a morte é mesmo uma passagem. Morre-se para um tempo e um modo de vida e nasce-se para outro. Nasci para a poesia aos 35. Ou abri as portas de um lugar onde a palavra estava lacrada. Vez por outra eu penso no que está perdido. A luz e a força que eu tinha e que não virou verso algum. Agora escrevo um desterro, escrevo medos e escrevo dúvidas. Não materializei o fogo contínuo dos meus vinte anos, a minha dança entre as estrelas. Uma noite na cantina da Faculdade um garoto disse que eu era - uma menina cabeça - eu assombrava alguns e continha minhas chamas, na verdade nunca revelei meu universo interior, eu não registrei as ideias e talvez eu as guardasse pra não chocar a cidade pequena, a família, toda a gente. Lembro de um universo meu, dentro, um planeta. Um planeta que nunca nominei. Acho que Marcos Prado trafegava por lá, o fantasma de Rimbaud, um amor que eu ia encontrar muito tempo depois, uma terra de livres, este choque de estrelas. Quem sabe um dia eu crie uma fábula, uma peça, um conto, pra resgatar aquele interior onde eu trafegava. Meu imaginário - um feto que nutri em uma gestação longa, muito longa.

estante #32




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