Sunday, September 12, 2010

Constelação de Ossos

Jackson Pollock


O ar raspando o sangue seco da alma. Alma mutilada a minha. Sangue incrustado em suas paredes desde a infância, algumas feridas já cicatrizadas. Minha alma um painel de Pollock. Onde ainda não cicatrizara, a tinta escorria espessa. Por muitas noites eu não dormia. A cor que mais doía era o amarelo aflito, aquele amarelo gritante.
Constelação de Ossos
Bárbara Lia
(Vidráguas/2010)
pg.35
Kandinsky


Pensei: vou morar em uma lágrima.


E vi cenários de Kandinsky
atrás da cristalina dor.
Vi os retorcidos rostos
detrás dos espelhos d’água.
Vi uma casa-banheira
eu sempre líquida.


Vi um teto vidro fosco
eu a olhar estrelas.
E quando secasse a minha casa?
E como secar meu coração?


Bárbara Lia

À Sombra dos Murais em Flor



(para Frida Kahlo)

(Cravos na pele
os seios
a coluna jônica
a pele tolteca
os pregos
os pregos
via-crucis
expiação)

Pinto em palavras
A tua dor.
Sonho teus sonhos.
Vivo os maremotos sutis.
As espinhosas horas
Que nos traz o amor.


Pinto girassóis de aço.
Espumas.
Estrelas.
Vou colorindo
Com vulcânicos
Abraços
A solene tela
(Riso-sol de meu Diego,
À sombra
Dos murais em flor)

Bárbara Lia
O sal das rosas/Lumme - 2007
Imersa em cena de Dali
Bebendo chispas/raios mel
dos olhos teus
Lágrimas caindo no rio
pentagrama
compasso de folhas
acordes de pássaros
e voz navalha
de Tetê Espindola

BÁRBARA LIA


Dali

Mondo Modigliani


Amedeo Modigliani



Paris e um amor
A voz de Piaf acorda
As pedras de um beco:
“C'est lui pour moi
Moi pour lui dans la vie”
Um passo uma dança
O peito tísico abraça:
Pele lunar de Jeanne
- A musa sem olhos -
Os bêbados rasgados
A lua amassada
E o triste passado
Do menino de Livorno


Bárbara Lia


Kandinsky


Poetas gozam
Cenas açucenas
Lençol de Kandinsky
Que cobre
O sangue coagulado
Da humanidade ferida
A esconder a realidade
Que rasga suas almas
De madressilvas


Bárbara Lia

Magritte




Jardim de rosas falsas
em valsa
céu azul Magritte

(pano de fundo
para esta dor
azeviche)

Bárbara Lia

A tela e eu



Edvard Munch



“Grito” de Munch

Estupor
Raspas do limão da alma
Fumaça do escândalo
Solidão emparedada
Pelos ginetes sem Deus
Intrusos em nossa cena


“Grito" de Munch
Estupor
Fumaça do limão
Estilete em minha carne
Tua palavra

Tatuada:
NÃO!
Bárbara Lia

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...