Monday, October 03, 2011

Um livro belo consegue furar o bloqueio da greve dos correios...





Um Homem

De repente
como uma flor violenta
um homem com uma bomba à altura do peito
e que chora convulsivamente
um homem belo minúsculo
como uma estrela cadente
e que sangra
como uma estátua jacente
esmagada sob as asas do crepúsculo
um homem com uma bomba
como uma rosa na boca
negra surpreendente
e à espera da festa louca
onde o coração lhe rebente
um homem de face aguda
e uma bomba
cega
surda
muda



António José Fortes
Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda.

Chambel Santos enviou este belíssimo livro,  de Lisboa, escambo poético. Confesso que não conhecia a poesia de Antonio José Fortes e estou aqui, encerrada em uma casa, com a mesma sensação que lembrei hoje, aquela colisão com poetas maravilhosos. Abri o livro e li esta poesia, e
li outra e outra e fiquei feliz... 

Poesia: a paixão da linguagem


pequeno fragmento do ensaio Poesia: a paixão da linguagem - Paulo Leminski:

(...)


Qualquer editor principiante sabe: poesia não vende. Existe este hiato, realmente poesia não vende, e é bom que não venda! Sabe aqueles que reclamam dizendo, é um absurdo, um país como o nosso, não sei o quê, tchê, tchê, pá, pá, e poesia não vende. Vamos nos rejubilar. Poesia não vende. Poesia é um ato de amor entre o poeta e a linguagem. E esse é um território como se fosse assim uma reserva ecológica do mercado em que vivemos que resiste ao fato de se transformar em mercadoria. Não é uma infelicidade e nenhuma inferioridade da poesia escrita, falando da poesia escrita, da poesia, escrita, da poesia livro, a dificuldade dela em se transformar em mercadoria é uma grandeza. Quem não entender isso não entendeu a verdadeira natureza da poesia, ela é feita de uma substância que é, basicamente, rebelde à transformação em mercadoria. A gente pode criar um mundo assim, o império total da mercadoria, tudo pode ser vendido, coisas, sensações, as coisas mais incríveis, os momentos mais emocionantes. Uma coisa, porém, não pode ser transformada em mercadoria, que é o amor. Amor é dado de graça, alguém pode comprar amor? Pode-se comprar sexo de outra pessoa, mas o amor a gente sabe que é o último reduto que resiste à transformação em mercadoria. Então, eu acho que realmente a paixão do poeta pela linguagem, da linguagem pelo poeta, é coisa que tem amplas implicações sociológicas, históricas, transcendentais ...

PAULO LEMINSKI
In OS SENTIDOS DA PAIXÃO, Ed. Companhia das Letras, São Paulo, SP



Tenho o livro Anseios Cripticos da Editora Criar, alguns ensaios deste livro e o ensaio acima estão no site da Revista Sibila, link acima.

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