Tuesday, September 04, 2007

PÉ DE SANTA BÁRBARA

Eu tinha doze. sonhava ser jornalista, correspondente de guerra, escritora. Era a menina-poeta, criando mundos. Metáforas e vôos. No balanço à sombra daquela árvore que me acolheu manhãs, manhãs, manhãs... Tinha manhã de geada, tinha manhã de sol irascível, tinha manhã amena...
No balanço de madeira, ou varrendo as minúsculas folhas da árvore eu alimentava esta certeza - quero ser escritora.
Tive os filhos que sonhei. Amores, mais que imaginei.
Nada tão cor pastel ao som daquela música de Doris Day - Que sera sera - trilha sonora da infância...
ou - Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento - que foi a trilha sonora do primeiro amor...
Sonhava, à sombra de uma árvore, e tinha um cara anotando lá em cima, anotou os pedidos. Anjo competente...
Anotou cada pensamento pequeno, cada desejo secreto mesmo não revelado. Fez de minha vida um enredo diverso... E eu me sentei à mesa e encarei todos os banquetes- Bárbara audaz, que não foge da guerra, nem do que a vida trouxe de bandeja - meus banquetes - de rosas, de ossos, de chuva, de dentes rangendo, de estrelas espocando, de madrugadas de descobertas, de ternura, de mágoa...
Bebi a vida, solenemente, gota a gota...
...
Vou dar uma trégua no blog - acho que era isto que ia escrever, e quase conto minha vida. Necessito um tempo para escrever uma história.

A ÚLTIMA CHUVA






















um tango com Deus

tranquei os covardes na sacristia
e explodi o templo

desci a rua de pedra rasgando em fúria
os ídolos e seus pedestais
as estátuas e seus ancestrais.

tranquei os covardes na sacristia
e tombei as torres áridas
que nunca chegarão ao céu
e impedem o tráfego
da poesia & pássaros.

tranquei os covardes na sacristia
guardei nas dobras da alma
os que amo e são meus,
na clareira incendiada de papoulas
dancei um tango com Deus.
Bárbara Lia

Para ler sobre - A última chuva (ME ed. alternativas, 2.007)

Guia de Poesia de Luiz Alberto Machado
http://www.sobresites.com/poesia/poeta/barbara.htm

O SAL DAS ROSAS

















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http://www.lummeeditor.com/


KAMIKAZES

Doze kamikazes
arrastam a delicada açucena.

Doze kamikazes.
As lágrimas descem
feito fontes.

Nenhuma música
de anjos sonoros,
nenhuma.

Nas nuvens que passeiam,
exausto de tédio, atira longe
o grão da maldade – o dragão da guerra.

BÁRBARA LIA

A POESIA DO PERTENCIMENTO DE BÁRBARA LIA
Quando eu disse à poeta Bárbara Lia que percebesse, mediante circunstâncias singulares, o que realmente fazia sentido e que se traduzia em um sentimento de pertencimento, minha intenção era que estimasse tal noção partindo de critérios avaliativos subjetivos, ou seja, do que fosse mais verdadeiro e autêntico em sua vida e projeto literário; e não pensei que ela levasse tão a sério aquelas palavras. Qual não foi a minha surpresa quando me deparei com o poema que abre este “O Sal das rosas”, cujo título é “O que me pertence”. Somos assim, e que bom. Movidos algumas vezes pelo verso do outro, por palavras escritas ou proferidas em algum momento, em alguma luz ou treva, e que o atento escriba sabe captar em suas faixas, para irradiar na sintonia de outros canais. Afinal, o que mais nos pertence, além da extensão de nós mesmos e de nossa alma? Algo como os filhos, por exemplo; ou a própria literatura, porque viaja nessa dimensão, do pertencimento mágico ao real, num movimento pendular entre o que temos e somos e o que anelamos e projetamos. E, afinal, o que não nos pertence? Algo que nos escapa ou no qual nãonos encaixamos, este sentimento de não-adequação tão comum à própria noção de não-pertencimento. E a quê? A tantas coisas inumeráveis, situações e coisas não-poesia.
O projeto de Bárbara Lia continua, ainda que na contramão das coisas não-poesia, das condições não-pertencimento, contrapondo-se justamente pelo viés do autêntico e do verdadeiro, do que mais lhe pertence. E aqui, neste “O Sal das Rosas” ela os apresenta, como se vê, na maioria dos poemas, seja através do “riso dos filhos”, dos amores e dores, ou do seu constante exercício de pensar e reescrever o mundo de suas leituras e diálogos, indissociáveis, de todo modo, de suas identificações ideológicas, passionais e de sua busca constante pelo ideal humanista.
Márcio Davie Claudino
Poeta – autor do livro “O sátiro se retirou para um canto escuro e chorou” SEEC- PR. Curitiba, verão de 2007.

NOIR




















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BARCO DE LIA NO RIO DE CORA


No escuro escrevo como quem
adora
teu olhar que o passado inteiro
descora.
Zero duplicado em infinito
ancora
- istmo - o oceano dos medos
deflora,
rasga em amor, imprime a tatuagem
canora.
Seres do Olimpo a ressuscitar
Pandora.
Amor - linha e linho - como Gil e
Flora.
Teu, meu corpo banhado em tesão na
aurora.
Teus, meus versos banhados no rio de
Cora.

Bárbara Lia



TEXTO CRIATIVO SOBRE ´´NOIR´´ DE BARBARA LIA
A Sonoridade dos tigres das metáforas mobilizam as homenagens solares e a Barbara encaminha as linfas dos elementos energéticos até à desvairada obscuridade das criptas. As palavras como cordas expansíveis desencarceram os pássaros loucos da sua interioridade. NOIR símbolo da febre submarina e dos silêncios das escamas incandescentes que flutuam sobre as abóbadas da angústia e do medo. NOIR PALAVRA INESGOTÁVEL tentando completar a Barbara em sucessivos renascimentos. O lugar inaugural da catarse canta a solidão da rebeldia e transpõe a diminuição dos abismos como a verdadeira arte da mudança. Barbara restaura os magnetismos das palavras para iluminar a decisão primordial do desejo, libertando o silêncio e a vida absoluta porque quer a manifestação sensual na incorruptibilidade do ser.
Barbara diz ´´que é a palavra´´, ou o vivo movimento das origens das suas impulsões plenas de mistérios e de metamorfoses poéticas, revelando regeneradoramente o jogo erótico onde os astros soltam as línguas infindáveis. Os vestuários das inflexões atravessam os instantes do cromatismo das feridas, este circulo de crisálidas alucinantes que BARBARA encandeia com a violência dos seus ecos, com o naufrágio da claridade dos ritmos, com o sal-húmus das gargantas dos cenários.
As imagens ampliadas dos corpos fluem através das mandíbulas líquidas que proliferam sobre os acordes inatacáveis deste livro, porque a Barbara modela-se a si própria entre as unânimes correspondências: aqui a reciprocidade das vibrações forma os cavalos dos limites onde as loucas marchas despertam os halos do pulsar erótico.
A performance da palavra explora o bálsamo perfeito e descodifica a arqueologia dos sentidos. Barbara explora a jubilação da folhagem humana, desenha a efervescência da comunicação para consumar o ciclone paradisíaco ou a loucura da graça do absurdo .
O balanço afrodisíaco e vegetal sopra sobre os espelhos enunciadores da andadura dos signos onde a gigantesca luz do amor é sempre trágica e incompreendida.
O olhar de NOIR abre o ancoradouro solar e tropeça nas árvores cósmicas como um corpo secreto a alimentar as coordenadas criadoras doutro corpo, porque quer abraçar livremente o mundo.
A musicalidade ramifica a navegação da génese das palavras e eleva a Barbara a uma paisagem de fantasia. O sofrimento humano interroga as fugas inextinguíveis como uma constelação de aprendizagens sobre obstáculos permanentes.
NOIR procura profundamente a respiração visual do desejo, relembrando Ramos Rosa ´´ que não pode adiar o amor para outro século ainda que o grito sufoque a garganta´´.
LUIS SERGUILHA
Nasceu em Vila Nova de Famalicão - Portugal, em 19 de 1bril de 1.966, Já foi arqueólogo da época Castreja e agora é arqueólogo das palavras. Publicou - por várias editoras - os livros: O périplo do Cacho, O externo tatuado da visão, O murmúrio livre do pássaro, Lorosa’e - Boca de Sândalo,
Embarcações, A singradura do Capinador, O outro, Entre nós (narrativa)

O SORRISO DE LEONARDO

















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BEM-TE-VI


Ramagem arranha janela.
Sonho: Aeroporto fantasma.
Espíritos de náufragos do Titanic.
Ku Klux Kan ateando fogo ao enforcado.


Sequência horripilante:
A mulher sem olhos na cama,
entre lençóis úmidos de chuva.

Acordo com o bem-te-vi
na manhã de sol
na mesma paisagem.

BÁRBARA LIA

O SORRISO DE LEONARDO (Kafka ed. 2.004)
A poesia de Bárbara Lia junta um lirismo muito
feminino à realidade que todos os dias bate
à porta dos seus olhos.
Poética dos homens, da terra, mas,
também dos sonhos onde
“Para quem dorme a chuva tem
A magia do canto das sereias”
FERNANDO AGUIAR
(Lisboa, 1956)
Desde 1972 que se dedica à poesia
experimental e visual.
Desde 1983 apresentou mais de 100
performances poéticas
em vários países europeus,
Canadá, México, Brasil,
U.S.A., Japão, Colômbia
e em Cuba.

HERMANOS

O primeiro site que publicou minha poesia fora do Brasil foi - Ala de Cuervo - da Venezuela.
De um contato com Teòdolo Lòpez Mèlendez, que conheceu minha poesia, penso que através do site cronópios.
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- Depois a Argentina - a poesia "Camino" no site
Conestabocaenestemundo. "ANTOLOGIA: POETICAS de MUJERES de America"
"Nuestro largo combate fue también un combate a muerte con la muerte, poesía. Hemos ganado. Hemos perdido, porque ¿cómo nombrar con esa boca, cómo nombrar en este mundo con esta sola boca en este mundo con esta sola boca?" OLGA OROZCO
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Mês passado, ao acaso, descobri - Águas de Alexandria - publicado em um site de Portugal -
Edit - on Web.
- Géneros en volta - e uma epígrafe:
A poetisa e professora de História Bárbara Lia faz poesia com a água da Alexandria.
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... agora de novo em espanhol:
LA LUPE
Círculo Internacional de Literatura Vanguardista
El escritor vanguardista busca en el arte algo que responda a esa novedad interna que vive el hombre, apoyándose en el descubrimiento original que uno lleva por dentro.
Juego constante de símbolos, necesidades que no se adaptan a formas fijas, la negación a la versificación tradicional, son algunas de las características que hacen a un vanguardista, ya que lo fundamental no es lograr un sonido agradable, sino perseguir la libertad de expresión adecuada a su mundo interior.
- Os editores de La Lupe encontraram-me. A minha página está em construção. Entre los hermanos. Não importa se aqui na América do Sul, ou em Portugal, a minha poesia atravessa fronteiras que meus pés ainda não alcançaram, mas, alcancarão um dia, eu que amo muitas terras...

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...