Thursday, July 21, 2011

L'amour ça sert à quoi ?


Magritte


Porque Era Ela, Porque Era Eu
Chico Buarque


Eu não sabia explicar nós dois
Ela mais eu
Porque eu e ela
Não conhecia poemas
Nem muitas palavras belas
Mas ela foi me levando pela mão
Íamos todos os dois
Assim ao léo
Ríamos, choravamos sem razão

Hoje lembrando-me dela
Me vendo nos olhos dela
Sei que o que tinha de ser se deu
Porque era ela
Porque era eu

L'amour ça sert à quoi ?




La vie en noir

Cantar a dor – Piaf
Pintar a angústia – Kahlo
Esculpir a mágoa - Claudel


Não me afasto dos mitos
Escrevo o abandono
Com a coluna partida
La vie en noir

Bárbara Lia

L'amour ça sert à quoi ?

Camille Claudel posando para Rodin





Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
Entre nós não foi apenas valsa
Como a que dancei com Debussy
E talhei em mármore.
Não foi espanto apenas
Como meu olhar azul na onda
- Fuji ao fundo -
Terna reverência à Hokusai.
Lampejos de esperança – nosso encontro -
Sem saber que em minha vaga
Ao tecer crianças prestes a um naufrágio
Reproduzia o meu destino trágico
Mas, com minhas mãos pequenas
Esculpo apenas o que pulsa
Cão criança mulher amado.
Amado!
Raptado pela rosa fendida
Rose, meu espinho
Tu, carinho que eu perdi
Entre as vagas e a maré de egos.



Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
A minha agonia que nem podia
Esperar o novo dia
Estar em tua porta
Deitar-me
Natureza morta
Para que me eternizasse
- Danaide -
Sem saber que meus dedos
Iam moldar meu alienado fim:
Rupturas e súplicas.
Espanto em rostos de Ninfas
Medusa, Castelãs, Crianças.



Rue Notre-Dame-des-Champs
Tua criança amorável eu era
Dezoito anos, olhos de céu no dia da criação
Lábios sensuais em flor. Comecei a esculpir
– Pés, pés, pés...
Sem saber que dentro
Da alma fera e feminina
Esculpia um coração de vidro
Sem imaginar que um dia
A onda mais alta e brilhante
Me soterraria –Viva!

Bárbara Lia
Para Camille, com uma flor de pedra
21 gramas/2010

L'amour ça sert à quoi ?

imagem do site a place in the sun




O amor é uma sombra.


Como você chora e mente por ele.

Ouça: estes são seus cascos; fugiram, como cavalos.

 
fragmento de Olmo - Sylvia Plath

L'amour ça sert à quoi ?








Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.

Havia revistas e jornais velhos em todos os cantos, pilhas de negativos em placas de vidro, móveis quebrados, mas tudo estava preservado da poeira por mãos diligentes. Embora o ar da janela houvesse purificado o ambiente, ainda persistia para quem soubesse identificá-lo o rescaldo morno dos amores sem ventura das amêndoas amargas.

“Não faltará por aqui algum louco de amor que lhe dê a oportunidade um dia destes.” E só ao dizê-lo percebeu que entre os incontáveis suicídios que lembrava, aquele era o primeiro com cianureto que não tinha sido causado por um infortúnio de amor. Algo se alterou então na sua maneira de falar.

- Quando encontrá-lo, preste bem atenção – disse ao praticante: – costumam ter areia no coração.



Gabriel Garcia Marquez in O Amor nos Tempos do Cólera

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...