ilustração - Rafa Camargo
(soneto publicado no jornal rascunho com a ilustração acima)
Paisagem de Chuva para Bernardo Soares
Há qualquer coisa do meu desassossego
no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna
inutilmente por sobre a terra.
Bernardo
Soares
As árvores fogosas escolhem seus amantes
Quando eles se aproximam ampliam o verde
Encolhem os caules que se enlaçam ofegantes
Como a mulher trança suas pernas sem alarde
Para prolongar o gozo mais silencioso que o ar
As pedras se abrem e voluptuosas expandem
Para acolher aos amantes que fazem tiritar
Seu coração de granito, oco de luz ou sangue
E eu que sou chuva aprendi a ser humana
Para amar com uma molécula de Oxigênio
Para não brigarem entre si com ódio e gana
As minhas outras duas moléculas de Hidrogênio
Cada gota cumpre o acordo tácito com lealdade
Esplendor lírico/líquido nas esparsas tempestadesBárbara Lia