Há uma rosa em alguma aldeia
Que sabe deste amor em mim
Há uma rosa extasiada, alheia
Que captou - no ar - a vibração
Batuque do alucinado coração
Há uma rosa anônima a valsar
Ao som da agonia silenciada
E o fio que ata – nosotros –
Faz com que eu saiba e sinta
Que sabes o que a rosa sabe
***
Rosa
Flor platônica
Gêmea
Da alma minha
Geme
Acima dos muros
Hipnotizando
Espinhos
***
Uma só rosa no meio do
inferno é o paraíso. Eduardo Lourenço escreveu isto, um poeta lusitano. Uma só
rosa! Rosa sub-rosa extra-rosa proto-rosa magma-rosa ex-rosa. O furor daquela
mulher desabrochou em uma rosa UNA. Os pelos dela nuvem lassa entre as coxas
brancas - nuvem caramelo - pelos perfumados qual o coração. Afundava as narinas
entre os pequenos lábios abraçado às suas coxas e cheirava como a um alucinógeno
- o céu o céu o céu. Afastava a cortina de fogo brando e violava sua flor
acesa. O coração trôpego querendo alcançar o céu da boca... Estes são os dias
em que as aves se debruçam para olhar uma cena e morrem de infarto. Estouram na
calçada, pássaros caídos do nada. Mortos após contemplar a orgia amorosa e
plena.
(fragmento
de uma peça de Teatro inédita e inconclusa).
***
***
Maria chorona?
Que nada!
Acordo todo dia feliz
A pureza é um pomar
Sobre mim
Há um jardim
Aqui dentro
Não aceito misericórdia
Dos tristes
Sou – entre as mulheres –
A que sempre resiste
***
Madrugada esfoliada
Acossada por cenas intensas
A espiar da janela
A cena molhada:
As rosas fazendo sexo
- Despudoradamente -
Diante dos lírios da paz
***
Cronograma
Sazonal:
No verão fujo pra
Ilha do Mel
No outono viro raiz da rosa
Na primavera sou lago de Monet
No inverno fico na minha cama
Com você
***
E
as rosas?
Mínimas almas
E os espinhos?
Mínimas prisões
Cada jardim é um mundo
Guardado por metáforas
Chuviscado de poesia
E ainda há
Os que dizem
Que a vida é fria
Bárbara Lia
imagem: René Magritte