Rebecc@ M@rvil
Gilda
estava em suas mãos, ele sabia. Sabia quando uma mulher daria a ele toda a sua
vida, suas roupas, seu corpo, sua coragem, seu endereço. Pax vivia assim, desde
que deixara Dallas e a primeira viúva rica com quem viveu dos dezoito aos vinte
e poucos anos. Cansou da pele estranha da sua querida Molly, de suas tortas de
framboesa, de seus dentes de ouro entremeando um hálito que ele odiava. No
entanto, ela havia herdado poços de petróleo, herdara as joias e as relíquias.
Herdara tanto dinheiro que nem sabia como o gastaria. Os amigos acenavam com
mil deduções sobre o moço bonito que ela adotou e levou para sua vida. Sussurravam
teorias temendo pela sua vida. No entanto, Molly tinha a velha essência dos minerais,
como se seu pai a tivesse retirado das entranhas da terra junto com todo o seu
ouro negro. Molly era intocável. Ela sabia. Algumas pessoas são intocadas. E
Molly amava esta palavra – Intocada. Já beirava os sessenta, nunca tivera
filhos. De bom grado deixaria sua herança para Pax. Ele, no entanto, não queria
viver décadas ao lado dela e sabia que ela era uma daquelas pessoas
centenárias, que a vida não verga. Sabia que teria que viver por muitos anos
ainda com seu corpo de menino atrelado ao corpo de Molly. O corpo que já
começava a emanar aquele odor da velhice, seu sexo ressecado e sem a quentura
úmida da primeira vez em que se aventurou em seus lençóis de seda. Em uma manhã
jogou suas roupas em uma mochila, apanhou todas as joias do criado mudo de sua
amante e saiu pela porta da frente do velho casarão, sem olhar para trás. Dizem
que, ainda hoje, em algum lugar do Texas, uma velhinha coloca na janela da
cozinha uma torta suculenta de framboesa. Espera pela volta dele para o café
da tarde, espera pela quentura dele entre as suas velhas carnes. (Bárbara Lia)
- Fragmento do meu romance inédito: 18 h no bar "O Torto" depois do Apocalipse