Dois corações selvagens
na selva do impossível
tão perto que o respirar
deles é transfusão de sangue.
Depois da noite nuclear –
amantes
rompendo o ventre
da laranja mecânica -
a mostrar viva as entranhas
do céu
nego-me a escrever versos
para amores lúgubres
plenos de tédio
de flacidez no olhar e no abraço
no passo e no sorriso
Depois de deus...
quem me levará ao paraíso?
Prefiro o inferno na selva.
Dois corações selvagens
Perto
Perto
Perto
Bárbara Lia
- corações - arte de Ia Santanché
foto de Rebecca Loise - eu na madrugada curitibana
LAYLA
calçadas molhadas
- uma lâmpada grávida
estremecida de sol
pequeno -
a lembrar
que ainda é verde o trigo.
florirá
amanhã
em sol granulado,
farpas de doçura,
sempre.
Bárbara Lia (A última chuva/2007)
DESDÊMONA
Olhou-me como nuvem,
a sugar os vapores
da minha alma.
Por que ele é meu deus,
guardei-o em um lago
onde iago
jamais chegará.
Bárbara Lia - A última chuva/2007