Sunday, April 08, 2007

OZIAS FILHO


o encontro
e tu chegaste
como a palavra que
de súbito
irrompe a madrugada
de tempestades
e eras a calmaria
aparente
com a tempestade
dentro de ti
e eu, tempestade
aparente,
aguardava a calmaria
que vinha de ti
e de repente
encontramo-nos
tempestade e calmaria
calmaria e tempestade
uma dança inevitável
como o sentimento
que escolhe
o par perfeito
OZIAS FILHO
(Rio de Janeiro, 1.962)
Páginas Despidas
Ed. Pasárgada

ANA MESTRE











Ana Mestre

minha amiga do Alentejo






Gotas de limão à flor da pele


Chuva agressiva no vidro da janela,

no telhado...
Música no rádio que me acalma.
Um toque de Jazz, um saxofone
que me entra no ouvido como aguas calmas a cair,
na fonte.
Um fio de estrelas,
flores de algodão,
gotas de limão à flor da pele.


Grãos de açucar na ponta dos dedos,
entranhados nas unhas, cravados na pele.
Gotas de sei lá o quê a bater,
a ficar, a escorrer......
a desfazer os grãos de açucar.


Cristais de gelo nos meus olhos.
Derretem, descem por mim,
congelam de novo a tocar no peito.
Alma de malagueta, que sentes na minha lingua
quando me beijas.


Dispo-me devagar,
de olhos fechados,
a sentir cada milímetro da minha propria pele.
Chuva no rosto,
abraço teu,
múrmurios...


Chuva agressiva no vidro da janela,
no telhado...
Mãos negras dedilhando notas,
saxofone, jazz...
Um fio de estrelas,
Violetas e negras tulipas,
gotas de limão à flor da pele.

ANA MESTRE


www.dflyworld.blogspot.com

LILLIAN HELLMAN















Lillian Hellman veio me visitar em uma noite, era final dos anos oitenta e a rotina fosca e asfixiante havia eclipsado a minha veia literária, os meus anseios de menina, tudo esquecido. Até que coloquei as minhas crianças para dormir, apanhei um filme que havia alugado e fui para meu quarto no andar de cima. No andar de baixo, meu ex assistia -perdidos na noite- eu achava muito propício o nome do programa, e éramos mesmo dois perdidos na noite, na vida, na estrada. Só não sabia que ao ver o filme Júlia ia vislumbrar dentro chispas da antiga luz, e ia ter vontade de voltar para meu lugar. Sei que foi naquela noite, diante da vida de Lillian Hellman, vestindo a pele dela, sentada ao lado de seu Dash, olhando estrelas, envoltos em uma manta. Foi percebendo o meu sonho ali na tela que comecei a romper as amarras com o que me desviava da escrita, da busca do amor que é partilha. A química perfeita: Jason Robards - Dashiell Hammett. Jane Fonda - Lillian Hellman. Sempre volto ao inverno antigo, à cama vazia, ao silêncio do sobrado, as crianças dormindo e eu olhando a cena e pensando: É isto que eu quero para a minha vida! Escrever. Olhar as águas calmas de um rio, ao lado do amor maduro, e mesmo ao lado do amor, ser livre, e ter coragem para lutar por esta liberdade...
e então, eu mudei de idéia, e pintei diferente o quadro dos meus dias...
...
À medida que o tempo passa, a tinta velha em uma tela muitas vezes se torna transparente. Quando isso acontece, é possível ver, em alguns quadros, as linhas originais, uma criança dá lugar a um cachorro e um grande barco não está mais em mar aberto. Isso se chama pentimento, porque o pintor se arrependeu, mudou de idéia".
Lillian Hellman

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...