Monday, July 17, 2017

um poema do livro "Forasteira"




Bárbara Lia

Frida! Frida! Frida!

"9 de novembro de 1951
Menino-amor. Ciência exata.
vontade de resistir vivendo
alegria saudável. gratidão infinita
Olhos nas mãos e
tato no olhar. Limpeza
e maciez de fruta. Enorme
coluna vertebral que é
base para toda a estrutura
humana. Um dia veremos, um dia
aprenderemos. Há sempre coisas
novas. Sempre ligadas à
antiga existência.
Alado - Meu Diego meu
amor de milhares de anos.
Sadga. Yrenáica
Frida.
DIEGO"


Maryam Mirzakhani


A liturgia da louça.

O momento ficou imantado por uma aura sagrada. Aquilo que detestas transmuda com o barulho cadenciado de uma torneira mal aberta que te embala com um som de água arrancada que sai à revelia e canta como era o canto dos escravos, algo melódico e triste. E você lembra Maryam Mirzakhani a moça bonita que morreu de câncer aos quarenta anos depois de arrebatar a Medalha Fields - O prêmio maior de Matemática. E seus olhos marejaram diante daquele rosto que esconde o futuro, aquele olhar de quem sabe. Já não importa se a tarefa é sempre fardo, ela vira uma liturgia. 
Câncer nos seios é esta chaga que sempre acossa pessoas que amo e as derrota. Dor de ver a feminina flor aritmética partir. Rasgo em tiras minha rebeldia e me ponho a amar o cotidiano simples e penso naquelas estratégias adolescentes, de promessas e trocas e pedidos. Opto por amar o que antes me irritava, sem pedir nada em troca, como um tributo a quem não pode mais ouvir o som da água na pia pela manhã, a dança dos pratos entre os dedos, a espuma de detergente, o roçar dos lábios do filho que sai para a rotina enquanto o céu azul pálido lá fora lambe a vidraça. 
Vou criar uma menina linda em um livro que teço. Ela será Maryam e terá estes cabelos curtos e estes olhos grandes de quem enxerga equações nas estrelas. Adeus Maryam... E ao te dar adeus abro uma página onde diz que você queria ser escritora quando era menina... E isto me aproxima um pouco da mente que dançou entre dois momentos: números oup  palavras. Nossa mente matemática. Isso me dá a certeza de que vou mesmo criar uma menina-você como homenagem, fique em paz e obrigada.


La nave va...

'O Corpo' - Poesia - Bárbara Lia

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