Monday, January 21, 2008

O trem caipira

Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar

Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar

(Ferreira Gullar)



Pensamos - Viagem!
Ele abre o baú de partituras
e delineia em minhas costas,
ventre e coxas, as partituras:
- sinfonias fados e tangos -
A que mais amei?
- o trem -
de Villa-Lobos.
O trenzinho caipira que corta
minhas ondulações, matas,
declives...
Sente o vento?
O perfume da serra?
Rasca de nuvens vão de carona
nos lábios dele
pelas notas
pelos trilhos
pelos pêlos
pela pele
e tudo termina
em suor do amor evaporado
borra minha virilha
rasura um Lá extraviado
e ele queda dentro
do Sol.
A vida palpita
aquém além da cortina
da cabine perfumada

- fim da viagem -

BÁRBARA LIA

TRENS TRITURANDO TRILHOS

.
.
Tangência de ferros nos trilhos
rasga em uma ternura que ofende
de tão bela.
Existirá paisagem de dor mais fecunda
que trens rasgando trilhos?
Nuvem ao redor: que nuvem aquela?
Cenário trepida
por trás de uma cortina estremecida.
Até o ar se emociona
quando o trem se aproxima,
diante dele a ternura de açúcar fervido
balançando em dobras de olvido…
Esquecer!
Ser este trem que parte e vai levando
diante dele a cortina:
nossos corações diluídos
acima dos trilhos.
Eu e você: recorda?
Recorda a fumaça do teu cigarro,
tua pele clara, o gozo líquido
-cortinas de açúcar.
Recorda?
Recordam – eternamente –
trens triturando trilhos.
BÁRBARA LIA


A minha poesia (Tangência de ferros nos trilhos...) e um texto que escrevi quando visitei o Museu da Língua Portuguesa e vi - A hora da estrela - exposição sobre vida/obra de Clarice Lispector estão no site Coletânea Artesanal, que dedica esta edição à cidade de São Paulo, que está de aniversário neste mês. Editado por Lunna Guedes

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