
“Tristessa”
.
Ame quem te ama e conheça o inferno
Fogo a fogo no porão do medo
Fogo a fogo no cabelo da Medusa
Atiçando cobras
Atiçando demos.
Ame quem te ama e conheça a dor
Amputar pernas braços sexo e coração.
Ame quem te ama
Nesta luta cega
Boitatás no milharal
Não sobra espiga sobre espiga
E o espantalho, mudo, tira o chapéu
E dança triste no chão de palhas.
Ame quem te ama e conheça o inferno
Dois sustos travestidos de sons
Querendo narrar o que o humano não narra
Escrevendo em aramaico o avesso do vivido....
Ame quem te ama
E se arrependa de viver rezando pelo amor.
Ame quem te ama
E descubra
A agulha fina e gelada do olhar
O rio de deus que rola tua nuca quando ele te toca
O que é não sentir o corpo do outro
Cópula de luz.
O que é ter a língua presa o corpo preso o gesto preso
E a alma livre pluma de algodão te levando
Onde não quer
Onde não deve estar, nem teus pés, nem tuas mãos...
in A última chuva
.
-escrevi a poesia acima, após a leitura do livro de Kerouac:
.
"A maneira selvagem como Tristessa fica de pé, as pernas afastadas, no meio do quarto para explicar algo, como um viciado em uma esquina do Harlem, ou em qualquer outro lugar, Cairo, Bang Bombayo e todo o bando de Felás dos Palmeirais da Extremidade das Bermudas às asas do albatroz pousadas que cobrem de penas as rochosas da costa do Ártico, só o veneno que servem das focas Gloogloo dos esquimós e as águias da Groelândia, não é tão ruim quanto aquela morfina da Civilização Alemã à quel ela (uma índia) é forçada a se submeter e a morrer por ela em sua terra nativa.
Jack Kerouac