

Abril lembra o poema de T. S. Eliot (Terra desolada), que começa assim...
Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
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Lembra a canção de Zeca Afonso
"Grândola, vila morena,
terra da fraternidade,
o povo em ti é quem mais ordena
dentro de ti ó cidade".
Zeca Afonso
terra da fraternidade,
o povo em ti é quem mais ordena
dentro de ti ó cidade".
Zeca Afonso
Lembra Tanto Mar de Chico Buarque...
Em um abril descontente, escrevi esta poesia-vaticinio quando ainda não sabia do amor belo na varanda de beija-flores e chuva, como se o poeta fosse também; profeta. (Há que alguém me amar sem desafinar letra e canção?...)
Abril é o mês dos cravos, da Revolução dos Cravos, e comprei um cravo da cor rosa, e quando fui olhar o significado do cravo rosa - fidelidade. Um dia, curiosa com a obsessão que meu pai tinha pela personagem Bárbara Heliodora, uma das conjuradas de Vila Rica, perguntei a ele a razão de tanta admiração - e ele disse que admirava a fidelidade dela, de ter ficado só após o degredo de Alvarenga. Por um amor de admiração paterna por ela fui assinalada com esta vida ferrada, de guerreira mesmo, e com esta característica de fidelidade ao amor... Ou talvez, eu apenas esteja ficando velha, com saudades daquele ar que queimou meus pulmões quando saí do cinema e andei pela Rua XV inteira me sentindo humana, depois de assistir Capitães de Abril. Ou, meu amor por Portugal se expressa em canções e saudades, uma Terra que eu nunca pisei, mas, que amo mesmo assim.
BÁRBARA
Cristal de fogo este sol de abril
Felicidade ardida em oposição à esta mágoa fendida
Cerro negras cortinas, na penumbra rasgo o passado
Em rotação errada nas paredes da memória
A mesma antiga declaração dos homens sem imaginação...
"Bárbara, Bárbara.
Nunca é tarde
Nunca é demais”
Há que alguém me amar sem desafinar letra e canção?
Como um barco sobre o Tejo, como rosas se abrindo no chão
Asas de colibri, fogos de São João
Uma canção que não seja tarde, nem demais
Que seja abril... Nada mais.
Do livro - A última chuva - ME, ed. alternativas (MG)