Monday, February 19, 2007

CHIEKO














Chieko (Rinko Kikuchi)
*BABEL. Um filme que você assiste mudo, como Chieko, que me toca a alma. O sonho de Chieko era o mais bonito, de todos do filme, o mais precioso: SER. A força de Chieko está na contestação. Ser é foda! Ser te aniquila. Ser te isola. Ser... Chieko É. Choca e toca mais que todas as cenas e todo o enredo, Chieko é a vida e seu grito, que espera nua na sacada pelo abraço do pai... E todos os pais do mundo abraçam a nudez dos filhos que não compreendem, ali, naquela sacada... Mais que a força do carisma do menino da aldeia do Marrocos - o que deu o tiro. Mais que a cena de beleza que impressiona, quando o casal se reencontra no beijo de amor, naquele lugar sujo, de sangue suor e urina. É ela que rouba a cena, em nome de todos os excluídos, contra todo preconceito – Chieko.
BABEL. Uma facada na artéria vital, de doer latente, esta certeza, de que mesmo no mesmo idioma ninguém se entende mais.
*
"Babel", de Alejandro Gonzalez Iñarritu (o mesmo de "21 gramas" e "Amore Brutos"), filmado no Marrocos, Tunísia, México e Japão. Globo de ouro de melhor filme -
Cate Blanchett (Susan) Brad Pitt (Richard) Gael García Bernal (Santiago) Adriana Barraza (Amelia) e Rinko Kikuchi (Chieko).

MIGUEL TORGA

DESFECHO


Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)

Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...

E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados, mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.

Miguel Torga



LETREIRO



Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim - meu principal motivo
De insatifação -,
Diante de qualquer adoração,
Ajuizo.
Não me sei conformar
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.

Miguel Torga



ÍCARO


O sol dos Sonhos derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida...

Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.

Miguel Torga
, Diário, XII


MIGUEL TORGA
( 1.907-1.995) - Portugal
Prêmio Camões (1.985)

La nave va...

Um dedo de prosa

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