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Decreto:
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Proibido derrubar
qualquer árvore
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(exceto para
construir berços
e violinos)
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AZUL NOTURNO .
O anjo louco do casario deserto,
era invisível feito música.
De noite subia na árvore.
De dia descia ao poço.
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A voz – imã de luz.
O perfume – avenca suave.
A sombra – azul noturno.
O olhar de mar – salgado.
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Anjo sem céu.
Anjo da terra.
Enlouquecido
de som e luz.
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(O sal das rosas - Lumme Editor / 2007)
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HABIB
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Cedros do Líbano, entre-folhas secretas
Gravam nosso idílio - Saara incendiado.
Dança do ventre - teu olhar tâmara ardente.
Corpos reluzindo azeite - deleite - estrelas
Do deserto espiam. Alá me guia!
Tens sabor de damasco,
Olhos egípcios, pele de sol.
Habib. Habib.
Sussurro no auge.
Luz bruxuleia - tenda ao luar.
Luar a nos enlaçar
Na luz azul.
Guardar o gozo etéreo - eterno.
Habib - murmuro. Teu corpo se queda
Saciado, em meu corpo. Movendo astros.
...
(...)
Acordo
E tem um rio podre
Em minhas veias
Rasga e acelera
Meu coração
Em mágoa coagulada.
Nas pessoas, não há sorrisos.
Nem esperanças de primavera.
E na luz do dia, me apavoro...
Rostos que olho e
Vejo cadáveres,
Meninos mortos, esqueléticos.
Árvores sangrando
Folhas negras
E vento rasgando a rua.
Os cachecóis coloridos
São forcas esgarçadas
E as calçadas, areias movediças.
A música enlouquece em
Guitarras estridentes.
Anjos satânicos dedilhando gritos.
O sol esfria nas artérias.
O aroma do pão fresquinho congela no ar
E não chega aqui, para me lembrar — é dia!
(...)
(Fragmentos)
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ARCO-ÍRIS BRANCO
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Pássaro bicou a paina
no galho alto,
repercutiu neve.
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Caías em mim
— arco-íris
branco
fragmentado
em sete tons —
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pele
sorriso
fumaça do cigarro
esperma
notas do violão
(Noir / 2006)
Link para o conto - Mulher na àrvore
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— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
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— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...
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— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
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Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
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Augusto dos Anjos
(1.884 - 1914)