Sunday, March 31, 2013

Primavera atemporal com Samuel


The Pillow Book by Peter Grennaway




E como explicar o desejo?
A flor que se abre – à revelia-
Sôfrega, desvairada, atônita
Tudo se reparte
Em crisálidas mirabolantes
Parindo estrelas adormecidas
Aos borbotões


Bárbara Lia





SEGREDOS DE BEM-TE-VI



Tu - raiz - incendiando os labirintos da flor
A canção o grito o silêncio os passos a dor
Pisando nuvens e atirando palavras febris
Bilhetes sépia pelas frestas, gestos sutis


Casa de fogo, asas de cera, seda e estrela
Versos ao vento de um lugar - nadie os busca
As paredes espelhadas de som, água e vela
Bilhetes flanando plenos de amor que ofusca


O bem-te-vi saúda a cada nova manhã
Gritos de desejo lacrados atrás da porta
Versos memórias peles com febre terçã           


A gritar a saudade louca desfraldada
Bem-te-vi a espiar pela janela torta:
O beijo do homem de sol e da mulher alada

Bárbara Lia



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Éramos Eros: Cio miraculoso uníssono
Éramos Eros: Como respirar mesmo ar

In Até secar o Sol (2012)




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As palavras rolavam na grama e molhavam o chão com o desejo enrustido
As palavras eu as colhia e depositava entre as coxas - O fogo adiado

Bárbara Lia 


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Hoje à noite eu o amo pelo modo adorável como ele me deu a Terra.

Anaïs Nin




Gregory Peck - Ingrid Bergman







SÉPIA


Minha luxúria é sépia
Habita estúdios de 1930
Estouro de purpurina
A cada flash do tesão
                                              
Minha luxúria - Polaróide antiga
Imprime postais esmaecidos
Sorrisos em conta-gotas

Minha luxúria lacrou
O livro do amor
- utopia dos desgarrados –

(Adeus suspiros de Monalisa
Carícias de carpideira
Despedidas na soleira)

Minha luxúria é parto à revelia
Quando chegas com fórceps
Quando chegas com toques
Quando tocas meu clitóris
Quando roças meus mamilos

Quando afogas o amor
No mar dos improváveis
E ressuscitas o desejo

Retirando-me das entranhas de Eros
Pra me batizar com teu sêmen
Abençoado sêmen
Amém

Bárbara Lia
até secar o sol - 21 gramas







Humprey Bogart - Ingrid Bergman

d'hiver noir avec le bébé




ORGASMOS DE ÍRIS


Teus olhos enlaçavam os meus
em orgasmos de íris.
Inflorescência de estrelas.

Sempre acordo antes do sol.
Agora, que comecei a te amar,
amanheço antes que o dia.

Espanto as Bacantes gélidas,
que seguem o perfume da tua pele-
lírio do recomeço.

Pedras destilam a bílis
e a mágoa vai vazar em áridas notas
de um blues sem juízo.

As sapatilhas – talismã – azuis
seguem- te em paralela senda.
A dez centímetros e um véu.

O mar recua ante teu passo,
estátuas vertem  suor ao teu lado,
dentro o sol, não te permite sombra...

... E teus olhos enlaçavam
meus olhos
em orgasmos de íris...

Bárbara Lia 
in Noir (2006)




sunset with the poet






LEQUE DE NUVENS PARA O DEUS DAS ONDAS


O leque de nuvens se reflete
na areia de mármore.
Alento de tarde pagã.



Distante, a carranca do deus das ondas
escureceu o mar.




O coqueiro se eriça.
Cais sobre mim




feito neve nos Alpes.
E a tarde abraça o nosso abraço.
Bárbara Lia
O sal das rosas
Lumme/2007











BRISA


Entardecer lilás
brisa de raro fôlego


do deus das nuvens.
Pés descalços


liberdade de estar amando
na era dos mísseis.

Bárbara Lia
O sal das rosas 
Lumme/2007









CONCHA ROSSA
Gosto dos sonhos feito filmes.
Peço aos anjos – Não me acordem!
Quero pisar algas, morangos, açucenas.

Leve flanar que só o sonho alcança.
Pensei haver sonhado aquele encontro
e raptei concha rossa naquela praia.

Dorme no meu quarto, na orla
do meu leito. Não foi sonho,
foi céu real. E o céu é eterno.
Bárbara Lia
-Revista Travessa dos Editores
edição de aniversário/2004






VIOLETAS BRANCAS


Sigo teus passos, feito asteca, sonhando
a terra eterna e rica – tua pele.
Pele de diários, onde leio a lua.
A maré suave que me enlaça nua,

écharpe de brisa e aurora, corais gris.
Adeus soledade de pedra. Paloma triste
em vôo riste, ao longe.
O deus-do-sol-do-meio-dia, colibri azul

da era atômica, é um sopro de luz e sons.
Sonhos delineados na tela fria.
O mundo sangra e transforma a garça

em íbis rubro. Leio um salmo antigo,
acordo em manhãs violetas. Tenho por companhia
um pequeno vaso de violetas brancas.
                                                                 Bárbara Lia - O sal das rosas - Lumme/2007


La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...