Sunday, March 30, 2008

CIGARRAS NO APOCALIPSE

el curso de la historia humana personalizado
(William Blake)


Quando o poema emerge,
Estridente,
Emudece o verão
Escurece a primavera
Incendeia o outono

Poetas são cigarras
No apocalipse
Sempiterno som
Canto que incomoda

Sacode as esfinges
As filosofias vãs
Permeia a triste Ingrid
Na serra colombiana


Canto ecoa
Em muralhas pagãs
Invade corredores
Cola ao som o hortelã
Das festas de antes
Arranca lágrimas cinzas
No silêncio laranja
De Guantánamo

O som ardido trinca o sol
Escorre gema zelosa
Na chaga das crianças
Da África inteira
Canta a primavera afogada
Da vida ceifada.

A cigarra segue
No apocalipse sem volta
Anoitece areias de Fallujah
Todas as ruas da Faixa de Gaza

Cigarras no apocalipse
São poetas em desalinho
Gestados no ventre escuro
Ninfas subterrâneas
Emergem em canto e vôo
Ao som da trombeta
De um anjo sem olhos.


BÁRBARA LIA

NONADA

... o sábio pronuncia a palavra como fonte de água viva. Não fala pela boca, e sim do mais profundo de si mesmo.
Guimarães Rosa inaugura Grandes Sertões, Veredas com uma palavra insólita: "Nonada". Convite ao silêncio, à contemplação, à mente centrada no vazio, à alma despida de fantasias. Nâo nada. Não, nada.
Sabem os místicos que, sem dizer Não e almejar o Nada, é impossível ouvir, no segredo do coração, a palavra de Deus que, neles, se faz Sim e Tudo, expressão amorosa e ressonância criativa.
do livro A ARTE DE SEMEAR ESTRELAS (Rocco)
FREI BETTO
Assessor de movimentos sociais. Nascido em Belo Horizonte, estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Autor de 54 livros de diversos gêneros literários.

CONFLUÊNCIAS

Uma antiga lenda da Índia nos recorda a existência de um rio, cuja afluência não se pode precisar. No final seu caudal se torna circular e começa a ferver. Uma desmesurada confusão se observa em seu acarreio, dessemelhanças, planuras, concorrem com diamantinas simetria e com coincidentes ternuras. É o Purana, que tudo arrasta, parece estar sempre revolto, carece de análogos e de aproximações. No entanto, é o rio que vai até as portas do Paraíso.
JOSÉ LEZAMA LIMA- pequeno fragmento do ensaio - Confluências.
A dignidade da poesia (Ática ed.)- trad. Josely Vianna Baptista

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...