Thursday, December 17, 2009

hermanas

Bia
Ane Fiúza - artista plástica que ilustrou o livro Noir
Lu Grasso - nos conhecemos aos dezoito anos
Simone Rezende - minha amiga de fé irmã camarada


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Um ano termina e outro começa e as mesmas figuras maravilhosas estão lá. Muito tempo pode passar, décadas e uma vida. Por isto eu quero dividir com quem lê este blog alguns rostos e nomes de quem ajuda a tornar mais terna esta minha vida. Há uma ausência da ternura no mundo. Falava sobre isto com minha irmã Fátima lá em Sampa. Quando contei sobre o Bortolotto e o assalto e quando falei quanto ele era íntegro (no sentido épico mesmo) ela emendou - Este é o processo, daqui pra frente. As pessoas boas vão ser aniquiladas e vai ficar mesmo só os que abraçam este tipo de vida. A matéria acima de tudo, o sucesso acima de tudo. Senti um frio na espinha. O jeito é ir em frente e acreditar que ainda há espaço pra ternura, poesia, gente que encanta. Tem muita gente mais que eu gosto de encontrar. E ternura maior não há que ouvir a Edith Camargo cantar. Fui com a Ilse Bastos (falta a foto dela e de outras pessoas queridas) ver Sing Song semana passada. Paz. Luz. Flanar dentro de uma canção francesa e pensar - é isto. Tudo no mundo é uma questão de escolha. Cantar uma canção diferente, ainda que não seja aquela que canta toda a gente. Quero fazer isto com minha poesia, - que ela seja uma canção tão terna e tão pura quanto a voz da edith, um piano, uma harpa... E a gente atravessando a vida, com os amigos eternos e a força que ainda nos resta...

Milhões de eternidade cabem num suspiro - Emily Dickinson


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Carnaval no Clube 10 - Campo Mourão
Com o sobrinho Dudu em uma rua de Curitiba
Casa de uma amiga em Londrina
Tocando flauta na praia - Aracaju

- hoje abri o álbum antigo de fotografias - cenas de Bárbara Lia.


Mother



Minha mãe com Paula - minha filha mais velha - na foto em preto e branco e com a Tahiana na foto colorida. O nome dela era muito diferente - Patrocinia. Saudade de pedra.

O filho da minha filha

Arthur. Meu neto. Nasce em janeiro. Arthur transformou minha vida em uma maratona. Anunciou sua chegada meio a um cenário de poesia e medo. Recordo que o grande medo da minha vida era não ter filhos. Quando marquei meu casamento um médico disse que ia ser complicado e quase impossível que eu fosse mãe. Citou as razões médicas esquecidas e enterradas quando minha primeira filha nasceu na semana que completei um ano de casada. O que eu temia era que a sequela da polio interferisse na maternidade de alguma forma. Isto não aconteceu. Vez por outra eu lembro a Jô. A Jô era uma garota baixinha, que tinha a lingua presa e muita vivacidade. Língua presa qual Clarice Lispector, mesmo que muitos ainda publiquem o tal sotaque. Clarice declarou naquela entrevista antológica. Ela tinha mesmo uma fala diferente, por causa da língua presa. Estava muito triste ao fim da vida, é claro. Os que praticam a escrita puramente pela escrita vão ser sempre os tristes. Os que olham e ficam impotentes e não vêem outra saída além de ficar tristes. A Jô com a sua fala pungente quase me convenceu a ir com ela para o convento. Era um verão. A rua deserta da cidade pequena, nossos corpos refrescados voltando do clube depois de passar as tardes na piscina. A paz dos vinte anos e o mundo inteiro - alameda aberta à nossa frente. Visitei a Jô uma vez no convento das Mercês, aqui em Curitiba. O que acontece é que eu queria ser mãe. Mais que tudo. Naquela época estava dividida entre ser Madre Tereza de Calcutá ou ser simplesmente mãe de alguém. Muitos anos passados guardo esta certeza de que ser mãe, de todos os sonhos, foi o mais cobiçado. Mas, tinhas delírios de ser santa. Hoje eu sei que não sou santa. Agradeço imensamente a Deus por isto. Por me livrar deste desejo de santidade e colocar em mim apenas o desejo de humanidade. Tahiana é a minha segunda filha. A mãe do meu primeiro neto - Arthur. Arthur anunciou sua chegada em um tempo estranho. Vivi alguns meses como quem vive dentro de um filme. O inverno chegando e com ele a primeira epidemia séria que esta cidade viveu. O medo que chegava através das notícias diárias. Nossa cidade tão famosa por suas estruturas fortes, por ser um modelo disto e daquilo, não passou pelo teste e perdeu de lavada para o vírus H1N1, muitos mortos e uma infinidade de pessoas infectadas. A gripe infectou muita gente em toda parte. Aqui o medo de que faltasse o tamiflu levou à uma saida perigosa ao controle excessivo. Passei dias e dias em casa com a menina grávida. Por ser comissária de voo ela entrou em licença especial. As tardes serenas tecendo o enxoval do Arthur em silêncio com ela nesta casa lembrava um paraíso perdido. O que eu temia era aquela avalanche que nada detinha. A contagem dos mortos, notícia que eu acompanhava aflita. No começo de agosto chegou a notícia. - Meu primo José Tadeu apanhou o vírus. Morreu. Nem deu tempo de saber que ele estava de hospital em hospital. Não deu tempo para o adeus. Aquilo chegou como uma onda gigantesca plantando com mais furor aquela certeza - O risco era real. Real a ponto de tocá-lo. Fiquei com saudades do tempo em que tive minhas filhas em uma cidade pequena sem nem ao menos sonhar com este tipo de coisa, sem temores desta espécie. Agora falta bem pouco para a chegada do menino. Vai ser logo na virada do ano, vai ser o primeiro acontecimento. Eu vou viver outra história. Eu vou escrever muitas histórias. Passamos pela fase do terror. Do bafo de um vírus além da porta. Eu que temia não poder ser mãe um dia, breve vou ter um neto. Isto me dá a certeza de que 2010 vai ser um ano especial. Em 2009 eu vi a morte ao lado. Senti profundamente duas perdas. Do poeta do Rio - Rodrigo Leão e do meu primo que atravessou etapas da minha vida ao meu lado. Tinha quase a minha idade e tinha uma bondade que não se nomina. É o ciclo da vida e do recomeço. Fico pensando no meu neto e na certeza que tenho - Não vou poder dizer pra ele assim de cara - Este mundo é uma merda, meu menino. As pessoas são péssimas na maioria das vezes. Cada vez que você amar prepare-se para pouco tempo depois retirar uma espada em brasa do seu coração. Endureça dentro pra suportar ver um terço da humanidade morrendo de fome. Não acredite em todo mundo nem em todos os discursos. Para ser bem sincera eu devia dizer tudo a ele antes que ele entrasse no jardim da infância. A redoma que colocaram ao meu redor fez de mim aquela rosa do pequeno príncipe. Sozinha em um planeta pequeno com muitos carneiros para me devorar e certamente nada vai me livrar disto. Se eu quiser demonstrar que amo este menino que vai se chamar Arthur terei que desencantá-lo quanto à uma infinidade de coisas. Vai sobrar bem pouco. Poucas coisas que fazem a vida ser esta coisa incrível e miraculosa. Estes pequenos segredos é que preciso guardar para ele. Isto que me faz ser feliz apesar de tudo. Talvez eu diga isto em um livro. Para que além das porradas do mundo ele consiga encontrar um mundo, uma rosa e muitas palavras capazes de regenerar por dentro. Este é o graal. Ainda estão procurando por ele.

"Mulher na árvore" e "O que é Poesia?"

1) O que é poesia para você? A poesia é o meu ar. Minha forma de expressão. Meu jeito de dizer e narrar e questionar e transformar a realidade ao redor e assim alumbrar almas. (...) início da entrevista que está no livro organizado pelo Edson Cruz - O que é poesia? (Confraria do Vento/Cáliban) pg. 29
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Passei 2009 pensando neste meu arsenal de livros e como fazer para publicar. Depois eu analisei o meu caminho e fiquei bem calma. Tem ainda esta contumácia dentro da Literatura - valorar o cara depois de morto. O que não for publicado agora vai ser um dia. Esta liberdade que a poesia tem de caminhar sobre o tempo, acima do tempo, dentro do tempo. A poesia que me salva, como eu disse dentro desta mesma entrevista. A poesia está em lugares inimagináveis. Posso dizer que ela tornou minha vida suportável. Epifanias. Hora de esquecer as agruras atadas ao fato de ter voado tão longe a minha poesia. E retomar a obra, com a mesma ternura e volúpia que engendrou os meus livros, os diálogos, as possibilidades. Voltar à poesia que ela é minha e eu sou dela. Nunca vou lavá-la de mim. Por isto 2009 encerra com dois passos firmes na prosa e na poesia. O conto - Mulher na àrvore - selecionado entre os mais de dois mil contos do Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio e estar neste livro organizado pelo Edson Cruz - passos importantes neste ano. O filme do Pipol que vai estrear em breve - H2horas. Outras mídias, coisas tão complexas para mim. 2009 veio pra confirmar que sou uma escritora à moda antiga. Que só sabe escrever e buscar a publicação no velho estilo. Aquela agonia poética do Fante em - Pergunte ao Pó. Ter concluído um romance, organizado um novo livro de poesias e escrito um texto para Teatro. Começar a elaborar outro texto onde eu vou falar da ausência da Ternura - repensar sobre esta vontade de abraçar o mundo. Ser romancista e poeta já está de bom tamanho. Perseverar na escrita e mostrar minha visão de mundo. Samir Yazbek abriu uma janela poderosa no workshop colocando desta forma simples. Todas as ferramentas são instrumentos para dizer algo que espelhe a visão de um autor. Simples. Quero levar a dramaturgia com a mesma leveza com que levo a poesia e a prosa. Sem pressões e sem cobranças. O que acontece na Arte é apenas isto. O que prospera é a obra que tem como uma marca d'água a alma do seu autor. . 2009 foi o ano da produção, sem produção não há publicação. Os livros tem vida própria eu bem sei. Quando chegar o momento eles nascerão.

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...