Sunday, September 28, 2008

Ao ritmo do tempo




Bárbara Lia, autora que desenvolve linguagem e texto refinados, depois de quatro livros de poesia, publica agora o romance Solidão Calcinada (Márcio Renato dos Santos)


Na semana anterior o jornalista Márcio Renato dos Santos, da Gazeta do Povo e também do Jornal Rascunho, conversou com esta poeta para traçar um perfil da minha vida e obra. O texto foi publicado hoje no Caderno G da Gazeta do Povo. Este fiel retrato meu. Foco no romance Solidão Calcinada.
Confiram!
...
Para quem reside nas cidades paranaenses com Biblioteca Pública ou Biblioteca Cidadã, o livro deve aportar por aí. Em Curitiba, também nas Bibliotecas dos Bairros (Faróis do Saber).

com as próprias mãos





FESTIVAL DE CINEMA DO PARANÁ
apresenta:
"COM AS PRÓPRIAS MÃOS"
Filme de Aly Muritibacom Andrew Knoll, Ludmilla Nascarella e André Luiz Rathunde.


12/10/2008
20h
Museu Oscar Niemayer.

Friday, September 26, 2008


Monet

.

Tangência de ferros nos trilhos
rasga em uma ternura que ofende
de tão bela.
Existirá paisagem de dor mais fecunda
que trens rasgando trilhos?
Nuvem ao redor: que nuvem aquela?
Cenário trepida
por trás de uma cortina estremecida.
Até o ar se emociona
quando o trem se aproxima,
diante dele a ternura de açúcar fervido
balançando em dobras de olvido...
Esquecer!
Ser este trem que parte e vai levando
diante dele a cortina:
nossos corações diluídos
acima dos trilhos.

Eu e você: recorda?
Recorda a fumaça do teu cigarro,
tua pele clara, o gozo líquido -
cortinas de açúcar.
Recorda?
Recordam – eternamente –
trens triturando trilhos.

BÁRBARA LIA


O sal das rosas - pg.22

Noir - pg.48

Thursday, September 18, 2008

kamikazes




Doze kamikazes
arrastam a delicada
açucena.

Doze kamikazes.
As lágrimas descem
feito fontes.

Nenhuma música
de anjos sonoros,
nenhuma.

Nas nuvens que passeiam,
exausto de tédio,
atira longe
o grão da maldade – o dragão da guerra.
BÁRBARA LIA
- O sal das rosas- Lumme editor, 2007
Neuza Pinheiro cantou o meu poema, musicado por ela e acompanhada de Tonho Penhasco (violão/guitarra), da banda Sabor de Veneno de Arrigo Barnabé e Ronaldo Gama (baixo/violão) da banda Nhocuné Soul. Uma honra infinita para esta poeta. Foi uma bela noite, apenas ressentimos todos a falta de carinho com que algumas pessoas tratam nossos visitantes. Ou a palavra seria respeito. Ou um desejo apenas de ser notado que toma conta de algumas pessoas em um ambiente. Mas, ainda assim, os meninos deram um show de música, e não se abalaram com o descaso da mesa ruidosa. Só mesmo uma noite como a de terça-feita - Flores de aço - para me tirar da introspecção e meu retiro voluntário. Rogério Holtz estava acompanhada de uma banda ótima, que não lembro o nome de todos os meninos, apenas do Fábio Cardoso e Glauco Sotter.

Wednesday, September 17, 2008




Decreto:
Proibido derrubar
qualquer árvore

(exceto para
construir
berços
e violinos)

Bárbara Lia

in Pequeno Tratado da Delicadeza

Saturday, September 13, 2008

Tarsiwald



Tarsila do Amaral - Percurso Afetivo. Museu Oscar Niemeyer
A partir do Diário de Viagens da década de 20 o curador Antonio Carlos Abdalla definiu a seleção a ser apresentada aqui em Curitiba. Antropofagia, Procissão, a segunda versão da negra (fiquei pensando e olhando o quadro - o que faz a mulher mostrar um seio, esconder o outro, como quem se dá pela metade?) Gravuras, desenhos, pinturas, e os painéis delatando o itinerário em panfletos, cartões. Uma emoção no final ao olhar o diário aberto na primeira página:
NOSSA FELICIDADE É IRREMEDIÁVEL
Tarsiwald, assim Mário de Andrade dizia. O retrato de Mário de Andrade está lá... eles me parecem próximos, como velhos amigos, como se eu visitasse a casa dos ancestrais...
Um quadro que amei - Manacá (1927).
E a presença de Oswald prá todo lado.
A ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE (O. A.)


Sunday, September 07, 2008

O lobo eterno

Um homem que dedica um livro de poesias "aos que não enlouqueceram nem lucraram com a loucura alheia" aprendeu que é difícil não enlouquecer neste mundo. Neste mundo onde uns lucram com a loucura, dor e agonia do outro, o Acrobata pede desculpas e cai na paz e em algum campo de papoulas aonde todos os seus sonhos vão se tornar reais em cada flor, em cada flor.
Li em muitas matérias de escritores e jornalista uma dúvida sobre - qual seria o grande romance brasileiro do século XX - falavam assim como falam quem será o próximo Guimarães Rosa ou a próxima Clarice Lispector. Como em Curitiba vivem sondando o próximo Leminski... Uma noite em um café o Rodrigo Madeira falou, enquanto fumava um cigarro e uma garoa fina caia na praça Santos Andrade: Estão sempre querendo achar o melhor, não é? Eu sorri e nos calamos em um silêncio que dizia mais que a nossa vontade de que a poesia fosse sempre maior que tudo. Rodrigo Madeira e eu não estamos com os olhos nesta disputa provinciana, estamos buscando contato com os verdadeiros monstros da poesia. Rodrigo me confessou que em uma noite, após ter conseguido o telefone do Ferreira Gullar, ligou para o poeta; eu, escrevi ao Fausto Wolff há uns seis anos e me debulhei como fã ardorosa, e ele teve a ousadia de publicar meu poema Labirinto em seu blog antigo. Para quebrar este rito de não me preocupar com o pódium, devo dizer, como uma homenagem verdadeira: Fausto Wolff escreveu o maior romance brasileiro do século passado. Entre tantas opiniões, nada vai abalar a minha opinião. À mão esquerda é um livro possante, e só um escritor potente em todos os sentidos pode escrever sua autobiografia e torná-la uma obra de arte sem rasura, Joaquim Nabuco fez isto com Minha Formação. Mas, vivemos em um país onde seus grandes escritores são esquecidos, e isto de forma mais violenta se ele tem a coragem que Fausto Wolff tinha. Quando menina eu via aquele rosto jovem e bonito, no tempo que ele foi apresentador de TV, me apaixonei pela imagem, e a vi depois, lendo - À mão esquerda. Minha paixão platônica dos quinze anos, voltando nas páginas de um livro escrito com uma verdade e uma poesia que arrancava lágrimas, risos e todo o campo da alma e cada milímetro palmilhado dentro de mim, exultava por aquele menino precoce, que se torna jornalista aos 14. Um homem que ama e seduz todas as mulheres que encontra. Um lobo que encontra o amor na meia idade e toma posse dela, pois é preciso viver o amor em calmaria. Um revolucionário ardente, inteligente, instigante, mas, sofrendo às raias da loucura, por entender que é preciso ser muito forte para não enlouquecer neste mundo.
De poeta para poeta, toda a imensa saudade. Fausto Wolff, um lobo na eternidade.

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IDADE
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Às vezes,
Os deuses que fodem
Na névoa do teu cérebro
Se vingam.
Outras não.
Por via dessas dúvidas
Etílicas
É preciso tomar cuidado.
Livra-te, portanto,

Do canalha, idiota, torturador
Que, sorridente,
Enche o teu saco
Na mesa ao lado.
..
...
.
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O INVASOR
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Dizem que não trabalho as vírgulas.
Acusam-me de ignorar as hipérboles.
Riem dos pontos da minha exclamação.
O único Alexandrino que conheço
Era almirante em Botafogo.
Querem um poeta que ponha a rima rica
No fogo.
Não sei ser tão complicado.
Minhas metáforas entendem
Seu próprio significado.
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...
.
LIVRO
.
Nem sei como me ajeitei
Sem me machucar muito
Na máquina de moer fé.
Acho que fui protegido
Por um livro
Achado no lixo
Chamado Robinson Crusoé.
..
...
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LIBERDADE
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Fure os tímpanos
Corte a língua,
Vaze os olhos com um garfo,
Ponha ácido nas narinas,
Corte as mãos.
Dance na escuridão da cela
Do tamanho do seu caixão.
Então sim, possibilidade.
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FAUSTO WOLFF - O pacto de Wolffenbüttel e a recriação do homem (Bertrand Brasil, 2001) este livro tem na contra-capa uma carta do Manoel de Barros...
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Carta de Manoel de Barros sobre o primeiro livro de poesia - Cem poemas de amor e uma Canção despreocupada.
Campo Grande 5/11/00
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Caro poeta Fausto Wolff,
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Você não tinha nada que pedir desculpas por sua poesia que é poesia que é poesia. O que a gente sente é que você pegou a tarefa de livrar o mundo de suas chagas. Trabalhou e trabalha ainda através de seu verbo sarcástico para atacar as hipocrisias, etc. Por tudo isso o poeta foi abafado. Estava lendo os seus poemas com a Stella e ela comentou: como que um homem tão enorme, tão comunista e tão alcoólatra (como está confessando) pode ter uma alminha de borboleta e de passarinho! Eu respondi: é porque o Fausto brigador abafou o poeta. E porque a liberdade do poeta é terrível carcerária. Só agora deixou escapar por uma fresta a sua alminha de ternuras. Nossos parabéns e nossos beijos.
Stella e Neguinho.

...

Última crônica do Fausto Wolff:

http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/09/05/e050910341.html

Friday, September 05, 2008

Música para sair do carro




Inicia hoje o MUSICA PARA SAIR DO CARRO, uma proposta de reflexão sobre o uso irrestrito dos automoveis em Curitiba e a preferência deste modal de transporte sobre todos os demais. Os carros degradam o espaço urbano,destroém o silêncio, poluem o ar puro, agridem e matam irrestritamente. O urbanismo deve levar em consideração as pessoas e não as maquinas. A rua como espaço de convivência, encontro e dialogo acontece pela valorização dos ciclistas e pedestres. Ruas com pessoas, musica, arte e interatividade. Ruas com vida.
Esta atividade faz parte do calendario do
ARTE BICICLETA MOBILIDADE
http://www.artebicicletamobilidade.wordpress.com/
que/ esta reunindo diversos artistas, grupos e pensadores em torno da questão da bicicleta na cidade. O auge do evento acontecera no dia 22 de setembro, DIA MUNDIAL SEM CARRO, com uma conversa com os candidatosa prefeito sobre as bicicletas na cidade e a MARCHA DAS 1000 BIKES, com saida marcada pras 18hs na reitoria da UFPR. Valelembrar que os candidatos estão convidados a comparecer de bicicleta para comprovar a falta de estrutura ciclistica da 'capital ecologica'.

Serviço:
MUSICA PARA SAIR DO CARRO
Local:
Esquina das ruas Augusto Stresser e Barão de Guarauna
Horario:
A partir das 18hs
dia 05 - Quintetinho e amigos
dia 11 - Caê Selector e Projeto Tábua
dia 18 - Performance Tamo
dia 24 - Mistura Brava e Anomalia Antipoluição

Monday, September 01, 2008


- Lago Barigui - um verão antigo -

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Passei a vida inteira comendo sonhos.
Comendo sonhos como os homens das cavernas comiam carne crua.
Passei a vida inteira comendo possibilidades abortadas.
Recolhi a flor no ventre escuro do caule.
Acendi estrelas com incenso em brasa.
Passei uma vida de encantar o tolo e encantar-me pelo nada...
Só tua carne me alimenta.
Só tua possibilidade é o parto de uma nebulosa de gerânios...
Eu, a parteira, recebendo mil flores entre os dedos...
Só tu acendes estrelas com teus dedos de carne.

Bárbara Lia
...

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...