Enrique Piñeyro - quando menino - sonhava ser piloto de avião. Como comandante da empresa Lapa percorreu por meses os corredores da companhia na tentativa de se fazer ouvir. Por muitas vezes se negou a voar por total falta de segurança. Naufragaram os seus sonhos de sempre. Ele se viu afastado da empresa passou por momentos duros. Até que o Boeing 737, que ele se negava a pilotar, foi ao chão, nas mãos de um outro piloto. Espatifou no centro de Buenos Aires, em direção à Córdoba, em uma noite estranha, causando a morte de 70 pessoas. WRZ era o prefixo do Boeing. Enrique tornou-se diretor de cinema e interpretou ele próprio a sua trajetória em um filme muito bem conduzido que questiona os interesses colocados acima das vidas humanas. Não ando com vontade de dizer nada. Outro dia ouvi direto do labirinto da minha memória aquela poesia de Guerra Junqueiro que meu pai declamava: pobres de pobres são pobrezinhos. O nosso Presidente é pobre. Não o respeitam. As crianças pobres do mundo morrem de fome a cada cinco segundo. Lembro meu amigo Frei Betto dizendo: A fome é a única causa mortis que só atinge os pobres, e por isto, não comove. Nada abala. A estatística não comove. Se fosse noticiada a morte destes anjos de países pobres de - pobres de pobres são pobrezinhos - como quedas de avião. Cairia um avião a cada hora. Não sei se nada tem a ver com nada ou tudo está vinculado. Por ser caótica faço conexões várias. A tristeza acaba chegando com algumas certezas pinceladas. O mundo é um palco, encenamos uma tragicomédia. Alguns piram e se libertam de tudo, são estes profetas vadios das ruas. Outros se matam. Outros vão morar no mato. Outros se sentem impotentes - chorando, olhando o dia nascer tão lindo, a lua em sua dança indiferente. Alguns fazem filmes e denunciam. Mas, no ano passado, quando vi o filme achei aquele homem muito corajoso. Falta coragem no mundo, muita poesia, alguma alegria... Não sei se dá para virar o jogo aos quarenta e seis minutos do segundo tempo. E o mundo está de cabeça para baixo. As crianças continuam morrendo, e isto dói muito, tal qual a dor que vi nestes dias - de mães, pais, filhos, maridos, amigos. Dói e dá um certo asco, perceber que alguns setores usam tanta dor para interesses pequenos. Na Argentina, um piloto que virou cineasta colocou a maior lenha na fogueira, sofreu ameaças, mas, manteve a postura sábia de não conduzir passageiros para a morte.
Saturday, July 21, 2007
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