Meu pai amava
A amada do poeta
Quando nasci
Ele cavou mistérios
Usou critérios
De Neruda
Pra convencer
Sua musa
Que o meu belo nome
Já havia nascido
Uma montanha
Desenhada
Em meu berço
Todos os Josés do mundo
A devolver-me
A pergunta:
E agora?
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Agora é tempo de mariposas
A menina escapa viva
Quando já está na boca das raposas
Menina ventania alma espinhada de rosas
Rasgando os véus do aço
Aço Aço Aço - dona das glosas
Segue cortando o inócuo
E as heras venenosas
O nome ouro de catedral
O nome sacro
De relâmpago e vendaval
O nome banido
Pela Coroa Imperial
Um patchwork mineiro dentro de mim:
Odes a Nise e restos do manto
Do Alferes
Orgasmos de Dona Beja
E água memorável
Labirintos de Rosa
Perfume de Diadorim
Um suspiro de Adélia
Um olhar de Drummond
Um dominicano a enviar-me
paz em postais
Dois poetas meninos
Vestidos de pedras e haicais
Milton voz de nuvem
cimento veludo mel
Nunca esqueci
a pedra no meio do caminho (1)
A voz do anjo torto
Sentado na pedra a sussurrar
Os sonhos não envelhecem (2)
“O cuitelinho não gosta
que o botão de rosa caia
ai ai ai”(3)
Nunca esqueci
que a festa acabou pra mim
E também pra José
Meu pai plantou-me
Em Minas
Deixou-me
Sem mar
Sem José
Sem amor
Minha herança
Sertões
Sonetos
Canções
Nunca foi meu este lugar
Nunca foi minha a minha casa
Estou só e longínqua
Meu nome é uma montanha
Minha sombra uma memória
Plantada naquela esquina
- Verso da poesia “No meio do caminho” – Carlos Drummond de Andrade
- Verso da canção “Clube da Esquina II” – Lô Borges e Milton Nascimento
- Versos da canção “Cuitelinho” – Paulo Vanzolini e Antonio Xandó
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imagem retirada daqui