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DESDÊMONA
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Olhou-me como nuvem a sugar os vapores da minha alma. Por que ele é meu deus guardei-o em um lago onde Iago jamais chegará.
. . . .MAÕS DE ABRIR NUVENS
Ter mãos de abrir nuvens
Romper o velcro de baunilha
E espiar
Dentro a catedral
Dos sonhos
Um rito de encanto
Crianças e lagos
E mapas emaranhados
A Sexta Avenida
Deságua no Eufrates
E as barcas cruzam
De Bagdad ao Mojave
As mãos se enlaçam
Negras brancas
Amarelas azuis.
Ter mãos de abrir nuvens
Descobrir a alma de neve
E perfume
Que se fazem
Pássaros
Camelos
Bailarinas.
Quem possui mãos de abrir nuvens?
Quem rega pedras
E pesca pássaros
Em tempestades
E ancora no alto
Da montanha mais alta
Suas caravelas.
Quiçá Penélope,
Sem manto, grilhões e espera.
A abrir nuvens
Além da torre de concreto
Em pleno azul
Entre a brancura espumada.
Mãos de mulher livre
A abrir o velcro
Da humanidade encantada.
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PULMÃO DE DEUS
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Sussurro suave ao redor, nuvem de seda embalando astros. Aqui, onde respira a vida,
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perfume de malva, silêncio de córrego entre pedras. Ar lúcido de luz.
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LEQUE DE NUVENS PARA O DEUS DAS ONDAS
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O leque de nuvens se reflete na areia de mármore. Alento de tarde pagã.
. Distante, a carranca do deus das ondas escureceu o mar.
. O coqueiro se eriça. Cais sobre mim
. feito neve nos Alpes. E a tarde abraça o nosso abraço.
(Pulmão de Deus e Leque de Nuvens para o Deus das Ondas - poesias do livro - O sal das rosas - Lumme/2007)
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CLOUD COLD
. Ardor louco em mim aguerrido E o pranto triste derramado Nosso incêndio alastrado Em rio de abandono convertido . Busquei-te nas auroras escondido Todos os nós do meu peito desatado Deste amor que me manteve aprisionado No gelo – da ausência – derretido . Se me abraçasses longamente Em silêncio esquecesses a porfia Preferistes ser prudente . Amor negado se transforma em tirania Como quando o sol em manhã ardente Permitiu que lhe nublasse a nuvem fria . . ....
Minhas nuvens acima, abaixo as nuvens de Sylvia Plath:
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As nuvens passam e se dispersam. São aquelas as faces do amor, aquelas pálidas irremediáveis? Para isso é que meu coração se turba?
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Sylvia Plath (fragmento da poesia - Árvore - trad. Vinícius Dantas)
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