Friday, May 31, 2013

Onde andará Esmeralda Green? - Bárbara Lia







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Desde menina eu levo este mundo debulhado em pele sangrada e urina em minhas costas: 


Cheiro de pólvora e crianças putrefatas. 

Este mundo viscoso, de óleo raro e mesquitas flamejantes, mantos brancos, negros, azuis, olhos de lince, 

olhos de cobra, olhos de harpias, olhos de demônio...

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prosa poética da série: Onde andará Esmeralda Green? 


Bárbara Lia


Imagem: Girl in green - William James Glackens





Esmeralda Green?
É mais ou menos assim...
Fragmentos fora da ordem, anotações, poemas, livros inacabados, interrogações. Parte de uma pequena história plasmada para dar sentido ao caos. A Poesia no reino da ficção: Uma velha senhora aluga o sótão para moças solteiras para complementar sua renda parca. Por um tempo, lá viveu uma garota que pintou de verde o sótão, comprou cortinas, lençóis, enfeites verdes. A garota vestia-se de verde, pintava de verde suas unhas e todo o esplendor verde ficou lá quando ela se foi. Na cama ela esqueceu seu caderno de capa verde. Este é o legado de Esmeralda Green, o que restou da garota, entre o verde e o espanto.

Wednesday, May 29, 2013

Em julho...








Paraísos de Pedra traz narrativas da Infância da autora na cidade de Peabiru e contos que utilizam como cenário a cidade de Curitiba: Memória e Invenção. 
“Paradiso” trafega por locais curitibanos: A Feira de Artesanato do Largo da Ordem, o chafariz _ A fonte da memória _ do escultor curitibano Ricardo Tod que evoca os tropeiros que vinham a Curitiba para comercializar seus produtos transportados por carroças e mulas. Naquela época os animais utilizavam o pequeno bebedouro _ ainda existente _ no Largo da Ordem. O bar Sal Grosso _ reduto de poetas e artistas. O Café Express e a Confeitaria das Famílias. O Mercado das Flores, a Rua XV...
“Cinema Paradiso” utiliza títulos de filmes para narrar uma infância mágica vivida em Peabiru. Alguns garotos da cidade a denominaram _ Parisbiru. Uma cidade que tem o poder de cravar dentro da alma dos que ali viveram uma indescritível nostalgia que faz com que o pensamento sempre retorne para suas ruas marrons, para sua praça pequena e para os detalhes que fazem desta cidade uma espécie de paraíso perdido.
Os contos da maturidade tem a urgência de dizer: A vida escoa. 
Os da infância perdem-se em relatos da memória, longos como os dias em Peabiru. O sol ao lado, sempre.



A imagem da capa é do reporter fotográfico curitibano _ João Debs
O livro tem 110 páginas
ISBN 978-85-66266-34-3
Selo Castiçal, da Editora Penalux - Guaratinguetá (SP)

Sunday, May 26, 2013

Sonhatório - Fran Ferreira




aquilo que em mim sonha
de vinte a trinta de abril de dois mil e treze

Fran Ferreira




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dia dois

abro la puerta al hombre de mis sueños, que traia
entre sus manos un ramallete de margaritas
presurosas, deshojo una a una cada flor
-... me quiere, no me quiere, me quiere... ¡no me
quiere! - y el definitivo pétalo se escurrió sin
esperanza entre sus dedos
el se fué muy triste, estaba ilusionado
comigo
yo me dormi de nuevo queria volver a soñar


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Ontem no Café do Paço da Liberdade, dentro do Projeto Café, Leite-Quente e Poesia encontrei a Fran e o Adriano:

O livro de Poesia da Fran Ferreira, com o tema _ Sonhos _ e a apresentação do vídeo _ Sonhatório. Leitura de Poemas da Fran Ferreira e do Adriano Smaniotto, do primeiro livro do Adriano _ Arcano_ que, por coincidência, tem como tema _ Sonhos.
O Caderno Poéticas é organizado pelo poeta Rafael Walter, ele prometeu-me o Caderno publicado em homenagem ao Cláudio Bettega. Sempre uma emoção relembrar o Cláudio Bettega. Foi uma tarde poética, encontrar os poetas que já caminham há muito por esta estrada, como Batista de Pilar. Ouvir os poemas da primeira publicação da Fran. O enlace dos fios da poesia. Ando a publicar uma sequencia de sonhos, sonhos antigos, sonhos dos dias de hoje. Aquela vontade que brota ao ter um livro artesanal nas mãos. Depois do lançamento do meu livro de contos, vou retomar o projeto _ 21 Gramas. Amo tudo que é artesanal. Valeu Élisson Silva pela convocação destes dois poetas. Sempre uma alegria voltar ao palco do começo, onde há muito tempo também li meus poemas no Café do Paço. Valeu Fran Ferreira e Adriano Smaniotto. A Poesia segue, entre o sono e a vigília, retirando com as mãos úmidas de vida, os sonhos. Nossos sonhos.

Saturday, May 18, 2013

No sofá de Jung n° 2




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Meu pai não era meu pai e minha mãe não era minha mãe. Éramos os três bem jovens em uma casa que nunca vi. Luis Serguilha, o poeta de Portugal, veio visitar-me. Em uma grande lanchonete deitamos em um sofá e nos cobrimos. Minha prima Gláucia viu o poeta e ficou paquerando-o, não quis olhar para mim e ignorou que eu estava com ele. Quando ela saiu eu a chamei. Ela teve um chilique e disse que era vergonhoso, nós dois ali, em um lugar público, como um casal. Saímos _ Serguilha e eu  _a andar pela cidade e súbito estávamos nadando em um mar verde jade e uma estátua de pássaro passou por nós, levando no dorso dois amantes. Parei para olhar. Serguilha dizia que devíamos continuar e eu fiquei abraçada ao imenso pescoço da ave verde _ de musgo e mar.

Bárbara Lia
9/6/2009

Friday, May 17, 2013

A palavra é Pedra.



Para Camille, com uma flor de pedra












Para Camille, com uma flor de pedra:



Este livro foi inspirado na vida e obra de Camille Claudel. Como olhar-se no espelho. Camille esculpiu Sakountala (O abandono) antes de perder o amor de Rodin. O encontro de dois artistas em potencial e a rejeição, a exclusão, que fez com que ela se fechasse em conchas e abdicasse de tudo sendo sepultada viva por sua família em um hospital de loucos, abandonada até a morte. Nada soa tão trágico quanto este choque entre os dois. Se Rodin viu nela uma sombra à sua Arte? É possível. Rodin com todo o seu valor não conseguiu superar a genialidade dela com suas Mãos de Deus. Mas, esta rejeição fez com que ela se consumisse no fogo como Sakountala e não renascesse - Fênix. Este estranhamento de ver o sepultamento em vida da beleza (dela) encontrou  ressonância em minha alma passional e insubmissa.
Para isto me nomeei irmã de Camille, em intemperança pura- Filhas de Sakountala. Vesti sua pele, usando de licença poética, nos poemas de   Hamadríade - a ninfa das árvores. Camille era belíssima e usava guirlanda de flores nos cabelos. No final da vida, para ressuscitar sua época de realeza, ela esculpiu o busto da ninfa e deixou que uma cascata de nenúfares rolasse por suas costas. A dor do amor e da perda que ela viveu com Rodin se concretiza em dura pedra. Algumas perdas e estranhamentos meus se concretizam em palavras, das pedras, a mais indestrutível. 
Náiade, ninfa da água doce. Em Náiade me visto de momentos e me cubro feliz nas noites com um lençol de nebulosas. Eco era uma Oréade (ninfa da montanha) . A ninfa Eco é a personificação perfeita deste momento do passado:  Desprezada por Narciso. 

Bárbara Lia


* No livro,  optei por manter os títulos dos poemas em francês, incluindo a poesia  RUE NOTRE-DAME-DES-CHAMPS. Neste endereço Camille vivia quando conheceu Rodin. As demais esculturas – SAKOUNTALA – (ou, O Abandono);  L’IMPLORANTE (A Suplicante);  L’ÂGE MUR (A Idade Madura);  HAMADRYADE  (Hamadríade); LE DIEU ENVOLÉ (O Deus que Voou) e NIÓBILE BLESSÉE (Nióbile Ferida).

O livro integra a "Coleção 21 Gramas". Projeto de 2010. Livros artesanais.

Friday, May 10, 2013

Paraísos de Pedra _ Bárbara Lia _ Editora Penalux


"Paraísos de Pedra traz narrativas da minha infância na cidade de Peabiru, e contos que utilizam como cenário a cidade de Curitiba. Memória e Invenção. Os contos da maturidade tem a urgência de dizer: A vida escoa. Os da infância perdem-se em relatos da memória, longos como os dias em Peabiru. O sol ao lado, sempre."
A _ Editora Penalux / Livros que iluminam _ abraçou a ideia e aprovou a publicação deste livro. No início do próximo semestre o lançamento de Paraísos de Pedra, minha estreia em narrativas curtas.
O título evoca a palavra "Paraísos", por trazer dois lugares, cidades onde vivi: Peabiru / Curitiba. Dois Paraísos. E na busca por uma imagem para a capa, vasculhando monumentos da cidade, encontrei o trabalho do repórter fotográfico João Debs. Em busca do bebedouro do Largo da Ordem, encontrei as fotos dele, uma delas _ A Ninfa da Praça Osório _ impressionou-me. Entrei em contato com João, depois de descartar as imagens do Largo da Ordem, conversando sobre a Ninfa, ele resumiu em algumas frases poéticas algo que assinalou a certeza de que a Ninfa era a imagem para o meu livro. Ele falou alguma coisa sobre, ser esta mulher desgastada, que se volta e lança seu olhar para trás. Ele não sabia que eu era esta mulher com a alma arranhada, rasurada e maltratada que lança um olhar sobre sua infância. É esta Poesia (nada do que faço escapa da Poesia) que a imagem representa. Paraísos de Pedra. Nos contos que tem como cenário _ Curitiba _ as esculturas e as ruas de pedra estão presentes. Por isto, meu livro vai narrar estes dois momentos. A infância de pedra (ainda que feliz) e os contos com cenários de esculturas e ruas de pedra da cidade onde agora eu vivo.
***

fragmento de "A noite dos vivos"
(...)


Esse espaço de pedras é por onde passam os vivos. Réstias de frases cintilam em um espaço por onde caminhei hoje e ecoam em mim como notas de um piano antigo...
_ Aquele professor de Geopolítica é genial...
_ Eu não sei desenhar na pedra...
_ Então... O que teu pai disse?...
Sair com uma frase incompleta de cada colisão com pessoas dialogando no caminho, um conto na cabeça, uma dor no pé de pisar pedras tortas. Depois, sentar no banco para ouvir o diálogo (monólogo?) do homem livre. Esperando o amigo que disse um dia:
_ Cansei de vomitar vinho Campo Largo...
Pedras raras ainda guardam vômitos de meninos como se eles vomitassem o sangue dos parasitas, dos falsos profetas, dos inquisidores, dos covardes...
O homem se despede e algo se move, como se o cavalo voltasse sua horrenda face (ele é mesmo feio) para se despedir do amigo. O único que se enternece e lhe diz boa noite, mesmo que depois diga:
_ Como você é feio!
O mundo se parte ao meio e eu fico com o pedaço de mundo onde tem o Relógio das Flores (memória de um sonho como iluminura medieval), com as pedras lavadas do bom e velho vinho Campo Largo e o lampião antigo que acende para ajudar o pálido crescente _ foice fosca do apocalipse _ a iluminar a noite dos vivos.

Bárbara Lia _ Paraísos de Pedra _ Editora Penalux (no prelo)


Lançamento no mês de Julho!

A Ninfa da Praça Osório _ João Debs

Erotic 4



Photographed by Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin
Ryan Gosling  & Michelle Williams







 :: O desejo saciado é o céu que nos visita ::
 :: O desejo saciado é o amor envelhecido ::
O desejo é um velho sábio, que sacode o ar
E segue sua trilha morto de pena do amor _
Este impostor _ Que há séculos e séculos e
Séculos amém nubla esconde a dádiva mor
            _ Eu te desejo  e _ Tu me desejas
           Utopia não nos sacia... Só o desejo
           Só o desejo que chegou sem aviso
           Registro, AR _ telegrama onírico à
 Nossa frente _ A nos gritar para não adiar
 Teu desejo e Meu desejo _ Murmuramos:
       Eros nos Proteja! Nos Proteja! Amém!



fragmento do poema
Nunca direi te amo - Bárbara Lia

Tuesday, May 07, 2013

Erotic 3





Irina Ionescu



As palavras rolavam na grama e molhavam o chão com o desejo enrustido
As palavras eu as colhia e depositava entre as coxas - O fogo adiado 
- Bárbara Lia 

Erotic 2









Qualquer roupa
depois do amor
é lixa áspera
a arranhar
a pele
beatificada
pela hora sacra

Bárbara Lia

Erotic





Racine du Désir:

Rosa selvagem
Que nasceu do cio
Des Bel Amant

Bárbara Lia
- Até secar o sol (21 gramas)

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...