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Passei a vida inteira comendo sonhos.
Comendo sonhos como os homens das cavernas comiam carne crua.
Passei a vida inteira comendo possibilidades abortadas.
Recolhi a flor no ventre escuro do caule.
Acendi estrelas com incenso em brasa.
Passei uma vida de encantar o tolo e encantar-me pelo nada...
Só tua carne me alimenta.
Só tua possibilidade é o parto de uma nebulosa de gerânios...
Eu, a parteira, recebendo mil flores entre os dedos...
Só tu acendes estrelas com teus dedos de carne.
Bárbara Lia
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