Friday, November 30, 2007

SONHO DE OUTONO
















De 30 de Novembro a 16 de Dezembro
De Sexta a Domingo às 20h
Ingresso: 1 lata de leite em pó
Teatro Cleon Jacques
(Centro de Criatividade do Parque São Lourenço)
Rua Mateus Leme, 4700 –
Tel. (41) 3313-7190 / 3213-7525
Texto – Jon Fosse.
Direção – Marcos Damaceno.
Elenco – Richard Rebelo, Ludmila Nascarella, Rosana Stavis, Luiz Carlos Pazello e Laura Haddad.



Tuesday, November 27, 2007

PORÃO LOQUAX













27/11 - terça-feira

Porão Loquax apresenta Poemas em Prosa (de Baudelaire ao Século XXI)
Baudelaire iniciou o gênero poema em prosa em 1869 como forma literária capaz de captar a intensidade da vida moderna. Gênero que foge dos gêneros, classificado pelo que ele não é, ou tenta não ser, nem prosa, nem poesia em verso.

Serão lidos autores de várias procedências, como Rimbaud, Ponge, Haroldo de Campos, Manoel de Barros, Nuno Júdice etc.¨

ORGANIZAÇÃO: Ricardo Pedrosa Alves (vencedor do Prêmio Helena Kolody- 2006, autor de ¨Desencantos Mínimos¨ - ed. Iluminuras, SP)

PARTICIPAÇÃO: Ulisses Galeto, Keila Kern, Rodolfo Jaruga, Jussara Salazar, Paulo Bearzoti, Rodolfo Schneider, Ricardo Carvalho, Graziella Rollemberg, Ricardo Pedrosa Alves


Wonka Bar : Trajano Reis, 326
fones 3026 6272 : 9142 0810

Saturday, November 24, 2007

"O QUE AMAREI A NÃO SER O ENIGMA?"


- o que amarei a não ser o enigma?" - Sylvia Plath
NOITE 'SYLVIA E O FALCÃO"

30 de outubro no Porão Loquax
Um registro da homenagem à Sylvia Plath:
Carolina Maria e Andrew Knoll do Grupo Processo




PROCURA-SE UMA ESTRELA



















TEATRO PARA O POVO - 25/11 - 11h


A peça Procura-se uma Estrela, que se apresenta no auditório Salvador de Ferrante, Guairinha, do Grupo Processo - Artes Teatrais, foi criada especialmente para as campanhas de cadastramento de Doadores Voluntários de Medula Óssea.
O grupo utiliza a arte como forma de conscientização para esse importante ato de sensibilidade e cidadania. Na encenação uma dupla de artistas acostumada a visitar os pacientes em tratamento de leucemia no hospital de clínicas resolve ultrapassar o limite do hospital para cativar outra figura fundamental nessa estória: O doador de Medula Óssea.
Ingressos:
Entrada Franca
Postos de Venda: Os ingressos serão distribuidos na bilheteria uma hora antes das apresentações.
A apresentação é animada e interativa.
Texto e Direção: Adriano Esturilho. Elenco: Renato Perré, Rafael Barreiros e Carolina Maia. Sonoplastia ao vivo: Adriano Esturilho. Cenário e figurino: Lua Castilho. Iluminação: Judy Fioreze. Produção: Vão Livre – Arquitetura e Artes. Direção de Produção: Carolina Maia.

Thursday, November 22, 2007

REVISTA LITERÁRIA







Gustavo S. de Lima é o editor de uma nova revista literária.

Estamos mantendo um diálogo e estou fazendo parte deste novo projeto:

A Revista Literária da Editora Inverso será publicada a cada 2 meses a partir de fevereiro de 2008. Terá no seu conteúdo poesias, contos, crônicas e ensaios. A assinatura da revista é gratuita.
Se você for um escritor e quiser colaborar com a revista enviando material para publicação, deve entrar em contato pelo e-mail
revista@editorainverso.com
Queremos a colaboração e a criatividade de vocês, leitores e escritores, para definir o nome da nossa Revista Literária. As sugestões podem ser enviadas para o e-mail
revista@editorainverso.com com o título "Nome para a revista". Posteriormente, faremos uma votação com cinco nomes selecionados. Participe!




Wednesday, November 21, 2007

A PELE


























Em pouco tempo vou me afogar, sem sequer estar nadando…

Fur – An Imaginary Portrait Of Diane Arbus, EUA, 2.006.
(Nicole Kidman, Robert Downey Jr, Harry Yullin)
Direção Steven Shainberg.
Inspirado no livro de Patrícia Boswhorts – Diane Arbus, uma biografia.

Diane Arbus é assistente do marido fotógrafo Allan Arbus quando Lionel muda-se para o andar de cima e a atrai, mosca no mel. O vizinho que tem a pele recoberta de pelos. O olhar dela desvenda o bizarro. A lente do olho que segue e enquadra antes da lente da câmera. O filme não é a biografia fiel da fotógrafa, é um passeio por seu imaginário. Embora tenha lido críticas desfavoráveis é o tipo de filme que me captura. Tem a coragem de mostrar alguém que vive o estranhamento de si mesmo. O estranhamento do outro. O outro, por quem ela se apaixona, acaba contornando as arestas da estranheza da mulher, raptando-a para um mundo onde ela se enquadra. Uma vez que ela não se enquadra no glamour de filha de milionário, esposa americana perfeita dos anos cinqüenta. Amo Robert Downey Jr. Sua fragilidade sempre me comove. O olhar triste que ele não consegue despir em nenhum filme cai como luva na pele neste filme. No Brasil o filme tem este título – A Pele. Personagem instigante Diane. O filme não mostra o suicídio dela aos 48 anos. O filme narra apenas o encontro dela com o homem que se cobre e se esconde e que ela desnuda para poder amar, e depois o liberta nas ondas do mar, enquanto ela se liberta para clicar o inusitado, o bizarro, o que incomoda.

Sunday, November 18, 2007

GLOBOCOLONIZAÇÃO

























Terra vista do espaço pela Apollo 17
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Quando o tema é globalização, Frei Betto simplifica e coloca o adendo nítido do que vivemos nestes novos tempos – Globocolonização. Esta realidade é tão implícita que não dá mais para desvincular globalização de colonização, o que não acontece apenas pela via econômica, ela se processa de forma mental, através de uma postura pré-estabelecida, made in Usa. Isto lembra um poema de Fausto Wolff:

DOCE LAR

Nos Anos quarenta
Quando as mocinhas
Queriam se chamar Mary
E os rapazes Joe,
Como os americanos
Escondiam bem
Os planos horríveis
Que tinham
Para os anos noventa. (1)

Antes era o velho oeste, belos índios sendo assassinados, diante do delírio da garotada no cinema, fiz parte destas cenas e me perdôo. Perdôo a inocência dos meus oitos anos, da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais. (2) Hoje as crianças não sabem declamar Casimiro de Abreu e sua aurora é uma jornada nas estrelas, seu astro é um super-man que salva o planeta inteiro, menos os três estrangeiros (vilões) com nítidas fisionomias árabes, ou um Rei Leão que tem como rival um Leão cruel com feições do deserto. Pílulas da mentira plantadas no dia-a-dia. Muitos morrem sem saber que não existem bandidos ou mocinhos, apenas uma Humanidade que deveria encontrar um caminho e dividir a Terra, suas fontes, mares e desertos. Nas Leis e nas Cartas Magnas dos Países, poeticamente se propala a igualdade. Basta lançar um olhar sobre os acontecimentos para ter certeza que as Leis existem apenas na grafia, não no dia a dia. A exploração do mais fraco é gritante.

Os grandes laboratórios farmacêuticos utilizam africanos em seus experimentos, como se eles fossem ratos de laboratório. As grandes plantações com sementes geneticamente modificadas vicejam na pobre África, e em outros países, mais notadamente na África com a desculpa de exterminar a fome e a pobreza, breve um continente exterminado, pela AIDS, a fome, a alienação. As grandes corporações, como Nike implantam fábricas em países subdesenvolvidos, utilizando e escravizando a mão-de-obra, e uma centena de outras manobras legais, mas, totalmente desumanas, imorais, e prejudiciais ao equilíbrio global. Totalmente na contramão de todos os Grandes Sonhos dos Grandes Homens, que parecem a cada dia, mais extintos - tantos os sonhos, quantos os homens.
A colonização enraizada, aquela que citei - a mental - que se fixa em eternidade nos costumes e desejos e sonhos de consumo.

Não surgem pacificadores – como Gandhi – um líder que consiga alterar a rota da Humanidade. Ninguém tem força ou voz para fazer retroceder o caos, re-estabelecer os acordos, aqueles que floriram ao final da Segunda Guerra. Que não veríamos mais campos de concentração. E eles existem e somados a eles um número imenso de refugiados pelo mundo inteiro, sem lar, sem pátria.

Em uma palestra, Adolfo Pérez Esquivel – Prêmio Nobel da Paz - contou sobre sua ida a Bagdad, e de que foi chamado a uma outra cidade do Iraque. E ele foi ver com seus olhos o apocalipse. Um galpão e muitas famílias abrigadas, e enquanto as mães saíram para lavar a roupa e buscar uma forma de abastecer os filhos um míssil americano atingiu o abrigo e seiscentos meninos e meninas iraquianas foram mortas. Não me recordo de uma notícia sobre seiscentas crianças iraquianas mortas, não se propala como a morte de um único soldado americano.

Em março deste ano me vesti de verde e fiz a cobertura do evento da ONU sobre biodiversidade que aconteceu em Curitiba. No coração do evento pude perceber como se definem os rumos da História do Mundo, os caminhos. Quem barra interesses mundiais, humanitários e primordiais. Os não signatários do Protocolo de Cartagena fazendo o seu lobby, que resultou em adiar por mais seis anos acordos que ajudariam a amenizar a rota da degradação, mesmo sabendo, após um relatório que a ONU encomendou a 1.300 cientistas do mundo inteiro, que se não determos a agressão ao Meio Ambiente, o Planeta Terra entrará em colapso dentro de trinta anos. Isto focando apenas a questão do Meio Ambiente, e deve ser assim, em cada setor em escala mundial, um retrocesso à evolução do homem como Ser, como o Centro, única forma de evitar o dano, a deterioração de uma raça inteira.

Como membro voluntário da Anistia Internacional, em alguns dias se materializa em minhas mãos aquela pequena vela branca, símbolo da Anistia, cercada de arames farpados ferindo as mãos em teclas eriçadas, nesta tarefa de tentativa de ajudar os que lutam pelos Direitos Humanos. Única que posso realizar por ser tão pobre quanto os pobres do mundo. Enviar e-mails mundo afora em nome de todos que estão presos por lutarem ainda. Tomada por certo desencanto, passeando pelos escombros do mundo, que a mídia não mostra. Ouvindo os resistentes que são tão poucos, os lúcidos que são calados pelo poder, os guerreiros do arco-íris e os médicos sem fronteiras, lavando as chagas do Universo com sua alma de água eterna. Apenas ali, nos pequenos focos de resistência se pode conhecer e se desencantar e ao mesmo tempo queimar as últimas esperanças neste rastro dos iluminados acreditando que um dia a dominação vai dar espaço à Humanidade repartida.

Quantos caminhos um homem deve andar até que seja aceito como homem? (3) A globalização é uma forma de colonização, mais que econômica, ela é mental, o mundo todo é cúmplice deste momento negro da Humanidade, considerando que nenhuma voz se levanta e que todos apenas dizem seu sim. Vamos dormir depois de uma coca-cola gelada e um enlatado americano. Os selvagens são na verdade os únicos verdadeiramente livres. Os povos da Floresta, guardiões da respiração da Terra, da água de suas veias, de toda a sua grandeza infinita. Eles se reúnem em Fóruns Indígenas de resistência à globalização econômica, vivem em comunhão com a Natureza, e são os nossos anjos neste paraíso perdido. Enquanto os civilizados, à sombra da águia estranha se contentam em salvar a sua pele. Até amanhã, até amanhã, antes que o Sul seja sugado inteiro pelo Norte: petróleo, água, rios e florestas, e nós ocos como as crianças da Etiópia, de olhar vazado espiando o fim. Se diluindo diante da colonização mais cruel.

A conscientização política e até mesmo os Direitos Humanos não chega até a grande maioria da população carente, destes países subdesenvolvidos.

Sem acesso aos conhecimentos básicos, tendo dentro de si apenas aquela centelha de grandeza que todo ser humano tem. Poucos conseguem romper esta corrente, e trilhar uma vida que lhe permita analisar, discutir, questionar. Esta falta de conhecimento da realidade circundante, esta alienação promovida via massificação que distribui as pílulas do consumismo, via rádio, televisão, cinema. Este pensamento em bloco, de uma humanidade que vive em bloco, comunidades, cada dia mais centrados em temporalidades, sem olhar como os Grandes Homens, do alto, feito mesmo um Deus, todos os caminhos intrincados, daquilo que Borges uma vez confidenciou a sua amada Estela Canto - que ele acreditava que um homem é a Humanidade Inteira. E a globalização cortou o Planeta Terra ao meio, enquanto Deus dormia, e alguém está sugando até o fim a parte sul desta laranja, seu sangue, seu néctar imprescindível.

Ontem li uma frase de Mia Couto, e fiquei com esta impressão de que Deus cochilou um tempo e permitiu que a globalização se instalasse, em forma de colonização mesmo. Fiquei meditando a frase do Escritor “A terra é a página onde Deus lê” (4). Ou, talvez Deus esteja interessado em um pequeno filme de horror, ou quem sabe ele altere tudo, e se arrependa de ter colocado dentro da centelha da alma humana o livre arbítrio, quando acreditou que viveríamos ansiosamente em busca do Éden Perdido.

Vemos os interesses econômicos serem colocados acima de tudo. Vemos que a colonização se faz necessária para que alguns países detentores deste poderio consigam atingir seus objetivos. Sem um organismo de repressão que tenha força suficiente para barrar, nem mesmo a ONU, que nasceu dos escombros da Segunda Guerra Mundial, quando surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humano
s. Ouvi uma palestra de Saramago e ele dizia que se os países obedecessem ao primeiro artigo da Declaração não haveria guerras. Mas, a ONU ignora a imparcialidade.

A Onu adotou como símbolo uma projeção azimutal centrada no pólo norte. Um ideal de neutralidade sem colocar nenhum país no centro, apenas o pólo norte onde só existe gelo. No entanto, o pêndulo na hora das decisões oscila e não detém a ofensiva contra os Direitos Humanos, e permite que o forte explore o fraco, invada seus territórios, aniquile tudo enquanto não cessar a fome da negra águia e seus adeptos, presos em suas penas metálicas e frias, seguindo o indiferente e cinza olhar cifrado da águia estranha.

BÁRBARA LIA
- escrito em 2.006 para a coluna de debates da Revista Zunái.


1. Do livro – O pacto de Wolffenbüttel e a recriação do homem. Fausto Wolff (2.001, Bertrand Brasil)
2. Verso do poema – Meus oito anos – Casimiro de Abreu.
3. Verso de Bob Dylan da canção - Blowin’ in the wind –
4. Do livro – O outro pé da sereia – Mia Couto (Companhia das Letras)

Friday, November 16, 2007

NOVEMBROS


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SOL NO CIO

p/minha mãe


A mulher coloca a laranja-da-terra no orvalho.
Corta o mamão verde em talhos,
esquenta o tacho em ternura e açúcar.
Mexe até que torne
sol transparente no cio
ou verde-éden passeando no céu da boca.
Também ela, translúcida e doce.
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Minha transparência retira véus e inaugura farpas...
Não sei tornar frutas verdes em delícias vítreas.
Não deito no fogo o espírito indócil.
Não aprendi com ela
a deixar as dores de molho no orvalho,
a calar as palavras que derrubo no amado,
como um branco leite de fogo sem juízo.
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E isto é tudo o que sonho:
Ser bela morena ao redor do tacho,
mudando o duro amargo das frutas e das horas
em verde-éden passeando no céu da memória,
e sol no cio desnudando labaredas de açúcar.
BÁRBARA LIA
(A última chuva - ME ed. alternativas, 2.007)
...
Dezesseis novembros e uma saudade. Novembros. Tantos e tantos depois deles. Meu pai morreu dois anos depois - de saudade. Parou de viver e esperou solenemente o corpo definhar. Meu pai que amou mais que o amor. Ele não conseguiu viver sem a sua querida. Eu que sou leoa, pela primeira vez e única fiquei dias e dias prostrada. Que falta faz o sol!! Uma metáfora talvez dos ciclos da vida, morte-vida, meus três filhos nasceram em dezembro. E eu que não ligo a mínima para datas sofro novembros, fico frágil, órfã.
Na foto minha mãe tem uma menininha adormecida em seu colo. A praça é empoeirada. Campo Mourão é uma cidade de poeira vermelha. Minha mãe tinha uma adoração pelos netos. Eu sempre a visitava para que ela pudesse ver as crianças. Ela está sentada na escadaria da praça e tem a Tahiana adormecida no colo. A Paula vermelha de sol na sua pele clara. E a menininha que dorme acaba de se transferir para São Paulo, vai voar por aí, minha comissária de bordo.

Monday, November 12, 2007

TRANS/BORDAR NO NEUROSCÓPIO // MALAGUETA

"PECADO ORIGINAL" é o novo podcast do site Neuroscópio. O poeta Rogério Santos incluiu minha poesia "Trans/bordar" na programação - música e poesia - e para minha alegria, a outra poesia que está neste programa é uma das que eu mais amo do poeta Marcos Prado - "Tristes homens azuis".
REVISTA MALAGUETA # 7
Sete é meu número favorito.
Na Revista Malagueta nº 7
3 poesias do meu livro "A última chuva"

Saturday, November 10, 2007

NO CAMINHO COM CARLOS BARROS
























www.livrorapido.com.br


























Painho de La Mancha
-ilustração do filho de Carlos Barros: George Brayner

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Em 1988 quando Carlos Barros chegou por aqui eu estava grávida do meu filho caçula Thomas e não havia retomado a escrita, o que iria acontecer apenas em 1.992 quando rabisquei meu primeiro poema depois de muitos anos. Eu enterrei por anos o sonho de ser escritora. A semente guardada no escuro de mim, aquecida. Por mais que eu me deslumbrasse diante dos poetas e das poesias não conseguia vislumbrar isto - a minha poesia saindo de mim para o papel. O “culpado” ou um grande grau de “culpa” de iniciar minha jornada poética foi mesmo do Carlos Barros. Lembro do seu interesse e uma ânsia dele, e que era mesmo a bandeira do Carlos - divulgar a poesia. Lembro do disque-poesia. Lembro que deixei por inúmeras vezes livros nos bancos das praças e nos cafés e nos ônibus. Lembro da poesia na vidraça. E sei que cada afago ou chibatada que recebo por conta da poesia tem um “culpado” lá no passado que ficou muito tempo exigindo que eu tirasse os poemas da gaveta. Quando viu que eu não ia mesmo tirar ele decretou que eles iam para o Buffet de Poesia, o que aconteceu em 1.997. Minha estréia, meus primeiros passos como poeta e escritora foram mesmo capitaneados por Carlos Barros. No caminho com Carlos Barros é um passeio para resgatar as audácias poéticas e esperar que os poetas sempre encontrem um Carlos Barros pela vida, e se tornem fortes. Como criança que cresce, mas não esquece os primeiros passos....


NO CAMINHO COM CARLOS BARROS


1. Disque-Poesia

Em 1988, ao chegar em Curitiba, tomei conhecimento de uma experiência de poesia em telefone, na Inglaterra. Propus à TELEPAR, aluguei uma linha especial e fui em busca de poetas interessados em participar. Contatei o Edson Bueno e a Eliane Karas, que toparam falar os poemas, fomos para o estúdio da Rádio Capital, AM, no Bairro Alto e pusemos no ar o "Disque Poesia: 200.2626", o primeiro serviço de poesia por telefone do Brasil. Detalhe: banquei sozinho toda a implantação do serviço, bem como sua manutenção, sendo esta uma das razões seu desativamento em 1995. A TELEPAR me pagava uma pequena comissão pelas ligações recebidas, mas foi insuficiente para a manutenção do serviço.Participaram, além de mim, o Eduardo Hoffman, a Helena Kolody, a Viviane Gral, Tonicato Miranda e o Estevan AS, entre outros. Foi uma luta! Mas deu certo. Funcionou até 1995 e com a curiosidade de, por um ou dois anos, perto de 1995, Curitiba ter sido a única cidade brasileira a ter dois serviços simultâneos de poesia por telefone: é que a Fundação Cultural de Curitiba lançou um serviço semelhante, acho que em 1994, que funcionou, também, até 1995. O DISQUE POESIA, além de permitir que eu entrasse em contato com um bom número de poetas curitibanos, propiciou a esses poetas o alcance a um público maior e, de certa forma, movimentou a cidade. Recebemos ampla cobertura das mídias e fomos notícia em todos os lugares do País e alguns do exterior. Recebi muita correspondência e colaboração dos mais variados lugares. O DISQUE POESIA pôs ao alcance de qualquer pessoa (bastava ter uma ficha telefônica), a poesia que se fazia no País, naquela época. Foi um grande difusor dessa arte.


2. Tem Poesia no meio do caminho

Em 1994, com o afã de difundir a poesia e a leitura, realizei o "Tem Poesia no Meio do Caminho". Consistia em deixar livros em locais públicos (bancos de praças, bancos de ônibus, orelhões, etc.), com etiquetas identificando o projeto e a proposta, para que as pessoas pegassem, lessem e os devolvessem a um local público, formando uma corrente de literatura, criando o que chamei de "a primeira biblioteca pública do Brasil". Sem carteirinhas, contas de luz, prazos para devolução, etc.
Partindo do princípio de que livro guardado é livro morto (lembro de ter dito à Folha de Londrina que manter um livro guardado era um "livrocídio") coloquei, nesse projeto, cerca de 400 livros de minha biblioteca, e os distribuí em Curitiba, São Paulo e Recife.
Esse projeto tem umas coisas bem interessantes. Recebi doações de vários livreiros (Chaim, Livrarias Pirâmide e Curitiba), autores e editores de Curitiba. Recebi colaborações de vários poetas querendo doar seus livros e, pelo menos um, Adélia Maria Woellner, me pedia para "comprar" as etiquetas do projeto para que ela pusesse seus livros para circular, ao tempo em que ajudava na manutenção do projeto. Em reportagem par a TV (Band, se não me engano) pudemos verificar como as pessoas se reprimem diante de um livro "abandonado" em um local público. Vi na Rua Senador Soares Alencar, crianças querendo pegar um livro, serem impedidos pelo pai ou mãe, que os puxava para seguir caminho.
E, talvez, o mais interessante: O projeto foi aprovado pela Fundação Cultural de Curitiba, para captar recursos pela Lei de Incentivo à Cultura. Recebi a informação de sua aprovação e da condição de que eu "deveria doar 10% da tiragem para as Bibliotecas Municipais". Ao responder que não tinha como cumprir esse requisito, uma vez que o projeto não previa tiragem alguma, mas compra de livros para distribuição, o projeto foi "desaprovado", de maneira que fiquei sem poder realizá-lo.
Outro fato interessante é que dois anos depois (em 1996) o Ministério da Cultura iniciou uma campanha nacional pelo incentivo à leitura, com o mote de "Ler é Viajar".
Em 2003, um sítio americano propôs a distribuição de livros de forma semelhante, em alusão a derrubada das Torres Gêmeas de Nova Iorque, no 11 de setembro de 2001.
Já há uns dois ou três anos, as Livrarias Curitiba promovem projeto semelhante, com distribuição de livros em cidades onde elas possuem filiais.


3. Poesia na Vidraça

Poesia na vidraça começou em Recife, na casa de uma amiga, em 1989. Escrevi, com bastões corretivos, na vidraça do terraço de sua casa, alguns poemas meus que ficaram ali por quase dez anos. Curioso que a cada diarista que chegava ela recomendava, veementemente, que limpasse a vidraça sem remover os poemas. Até que chegou uma mais desatenta e foi tudo embora.Como projeto propriamente dito, começou em Nova Prata (RS), em 1990, durante o I Congresso Brasileiro de Poesia. Depois de escrever poemas nas janelas do ônibus que nos conduzia pela cidade, fui aos comerciantes pedir, uma a um, permissão para escrever um poema em suas vitrines. A coisa funcionou tão bem que teve comerciante exigindo que eu escrevesse em sua vidraça.
A proposta do Poesia na Vidraça, como a maioria dos meus trabalhos, é difundir e desmitificar a poesia. No caso, colocamos a poesia diretamente em contato com o leitor, ao ensejo em que "valorizamos" o espaço utilizado apenas para vender produtos (as vitrines) como veículo poético. Esse projeto obteve o apoio maciço dos comerciantes de Bento Gonçalves (RS), onde é realizado anualmente, durante os Congressos Brasileiros de Poesia. Foi realizado, também, em Recife e Montes Claros (MG).


4. Buffet de Poesia

O Buffet de Poesia é uma forma revolucionária de publicar literatura. É um Buffet, tal como os inúmeros buffets que encontramos em restaurantes brasileiros: a pessoa lê, escolhe o que quer, como pretende levar (livro, com ou sem capa, ou folha solta) e paga só que escolher.Diante da falta de espaço com que nós, autores marginais, nos deparamos na Indústria Cultural, foi a maneira que encontrei de viabilizar a publicação e distribuição de nossa produção. Ao tempo que revolucionamos a própria indústria editorial. Eu não tenho conhecimento da produção de livros dessa forma, onde o leitor/comprador tem irrestrita liberdade de escolha. Ele escolhe, não só o que pretende levar, mas o(s) autore(s), a forma como deseja levar e, até, o preço do que deseja comprar, já que os poemas são expostos em folhas soltas, com a capa em separado, cabendo ao leitor/comprador montar, na hora da aquisição, o livro que deseje, se desejar.
Serviu, também, para expor a um público maior alguns autores inéditos que, até então, não haviam tido a oportunidade de mostrar sua produção. Do Buffet de Poesia participamos eu, Eduardo Hoffman (Jacarezinho-PR), Luiz Renato S. Pinto (Cuiabá-MT), Gisele Brayner (Recife-PE), Bárbara Lia Soares (Campo Mourão-PR), Adélia Maria Woellner, Horácio Portela, Glauco Neto e Etelvina Frota (Curitiba).
O Buffet de Poesia foi exposto, em Curitiba, na Feira do Livro da Faculdade Tuiuti, na praça de alimentação do XV Street Shopping (hoje Lojas Renner), além de Belo Horizonte-MG, Bento Gonçalves-RS, e Nova Roma do Sul-RS.


5. O século passado era ontem


O século passado não passou. É hoje. Será amanhã.
Talvez os historiadores, se algum se ocupar de mim, façam essa distinção.
Na verdade, eu não consigo fazer, talvez porque continue vivo. No século vinte, nasci, fui alfabetizado, comecei a escrever, comecei a publicar, casei, tive filhos, me separei... No século vinte e um, continuo aprendendo, continuo escrevendo, continuo publicando...Não casei novamente, porque a gente deve aprender com os próprios erros, e dois séculos é muito pouco tempo para cometermos o mesmo erro duas vezes.
Assim, a sucessão de tempo que os calendários dividem, não funciona muito bem em nossas vidas particulares. Por isso que, ou ainda vivo no século passado, ou já vivo no século vindouro. Deixo a definição para os outros...


6. Quest e outros trabalhos


QUEST, meu quarto livro, é a reunião de trabalhos de mais de dez anos. Procurei reunir trabalhos em prosa e verso, além de alguma experiência em visual, sem ousar "poesia visual". QUEST é, como a maioria de meus trabalhos, mais uma experiência de vida, que uma obra literária. Nunca tive a preocupação de escrever livros. Meus escritos, minhas fotos, meus quadros sempre foram produzidos mais por uma necessidade pessoal de manifestação, que algo para ser lido, visto, publicado. A publicação é uma conseqüência natural do próprio fazer. Depois de feito, o trabalho pulsa por um vôo maior, anseia por amplidão.Meu primeiro livro, "PUNHESIAS", foi um trabalho feito manual e artesanalmente para uma Exposição de Arte Correio, no Recife, em 1976. Fiz somente doze exemplares. Depois, participei de algumas outras exposições, com outros trabalhos mais ligados à Arte Correio que à poesia propriamente dita.
Em 1989, saiu o FÊNIX, meu primeiro livro propriamente dito, editado pela Arte Quintal de Belo Horizonte. É um trabalho que me abriu inúmeras portas, circulou por várias cidades brasileiras (cada cidade que eu passasse, deixava exemplares para a biblioteca local) e foi incorporado ao acervo de inúmeras bibliotecas públicas e universitárias no Brasil e Exterior. A partir de 1990, dediquei-me a jornais literários, principalmente o POEMIA, com Marcelo Miguel, através do qual chegamos com a poesia que se fazia no Brasil ao País inteiro. Fizemos festas, procissões (passeatas poéticas), e um sem número de eventos, difundindo a pesia em todas as suas manifestações.
Em 1992, comecei a editar cartões poéticos, com meus poemas e ilustrações de alguns amigos, tais como Kátia Horn, George e Thiago Brayner (meus filhos) e outros.Paralelamente idealizei alguns projetos tais como o "Poesia na Vidraça" do qual falo acima; o "Pise Poesia", que realizei em vários eventos; o "Poesia Nossa de Cada Dia", programa diário de rádio, que foi ao ar, por seis meses, na Rádio Educativa de Curitiba; o "Buffet de Poesia", também acima referido; o "Série Poesia Brasileira em Cartões Telefônicos", não realizado por falta de patrocinador, apesar de aprovado pela Lei Rouanet; o "Pitangueiras Poéticas", também realizado anualmente em Bento Gonçalves-RS, entre outros.
Em 2001, já de volta ao Recife, publiquei, junto como poeta gaúcho Paulo Rocha, o livro "POESIA", pela TIÊ Editorial, um trabalho lúdico em que fizemos dois livros em um, que podem ser lidos independentemente e que nos remete a um círculo, uma vez que ao terminar a leitura de um é só virar o livro e começar o outro, e assim sucessivamente.
Em 2003, voltei a fotografar, produzindo alguns cartões com fotopoemas e, agora, estou desenvolvendo um trabalho com fotografias para "selos" para Arte Correio, o "sigilfoto".Em 2007, publiquei o QUEST, acima descrito, pela Livro Rápido, de Recife, em que publico pela primeira vez, em livros, trabalhos em prosa. É, também, minha primeira experiência com uma "editora virtual". O QUEST existe apenas na internet. É vendido somente pela Livro Rápido (www.livrorapido.com.br) e Mercado Livre (
www.mercadolivre.com.br), sendo impresso à medida em que for pedido, no que se convencionou chamar de "impressão por demanda".E em 2008...
Bem, 2008, deixemos para falar depois...


7. Carlos Barros por Carlos Barros...

Carlos Barros chegou a este plano, como Carlos Alberto Fernandes de Barros, em maio de 1952, sob o signo de Touro, filho de um pequeno comerciante e uma dona de casa. Tímido, aos 14/15 anos começou a escrever poemas para louvar suas paixões, já que não tinha coragem de louvar, pessoalmente, suas musas. Com o tempo, percebeu que poderia, além de louvar paixões platônicas, dizer algo mais geral, colocando suas opiniões sobre mundo, vida, etc.
Desde pequeno, privilegiou o trabalho em detrimento, até, do estudo. Assim, aos 16 anos já estava no balcão de uma loja de tecidos, em Recife, sem contar que desde os 11 ajudava o pai na mercearia. Assim foi que só concluiu o primeiro grau, através do Supletivo, aos 22 anos. O segundo, também através do Supletivo, foi concluído em 1990, aos 38!! E o terceiro ainda está por concluir. Já tentou Filosofia na Federal do Paraná, e hoje tenta História na Federal de Pernambuco.
Trabalhou como motorista de táxi, motorista de caminhão, vendedor, pesquisador, bancário, produtor cultural, criador publicitário e, até, garçom.
Em 1988, mudou-se com a família, mulher e três filhos, para Curitiba, onde encontrou campo fértil para suas idéias. Foi ali que desenvolveu a maioria de seus projetos poéticos e a partir dali encontrou uma estrada aberta para a participação em inúmeros eventos. Antes, ainda em Recife, participou de alguns eventos ligados à poesia, arte postal e música. Também, ainda em Recife, começou a publicar seus poemas em jornais do Brasil e Portugal. Em 2000, voltou para Recife, onde mora até hoje. Desde então, publicou dois livros de poesias, e vem retomando seus trabalhos com fotografia, através do qual desenvolve um trabalho de poesia com fotografia, unindo suas duas expressões em cartões postais.


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CARLOS BARROS nasceu em Recife-PE, em maio de 1952, onde reside, desde fevereiro
de 2000, depois de 12 anos residindo em Curitiba-PR.
Tendo começado a escrever na adolescência, publicou os livros “PUNHESIAS”, edição artesanal, de bolso, em 1976, “FÊNIX”, pela Editora Arte Quintal, de Belo Horizonte-MG, em
1989, POESIA, junto com o poeta gaúcho PAULO ROCHA, pela Editorial Tiê, de Recife, em
2001 e QUEST, pela Livro Rápido, de Recife, 2007. Desde 1990, edita e publica cartões postais com poesias e ilustrações suas e de outros autores e, a partir de 2004, com fotos de sua autoria.
Participou de várias Antologias Poéticas, entre as quais “POETA, MOSTRA A TUA
CARA”, volume 4, em Bento Gonçalves-RS; “POESIA E LIBERDADE”, Edições Maria, de
Juiz de Fora-MG; “ALGUNS POETAS BRASILEIROS - 50 ANOS DA AABB RECIFE”, Edição
da AABB-Recife-PE; “ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA”, Fundação Rio/ Editora
Hipocampo, Rio de Janeiro e “INTERNATIONAL POETRY”, editada por Teresinka Pereira,
Bluffton College, Ohio, USA, e POESÍA BRASILEÑA PARA EL NUEVO MILÉNIO, publicada
em fevereiro de 2.000, em Havana, Cuba, sob a coordenação de Ademir Antonio Bacca. Teve
seu conto “SEMPRE ALERTA” selecionado para a mostra BANCO DE TALENTOS
FEBRABAN 2007, São Paulo-SP, novembro de 2007.

Tuesday, November 06, 2007

O SAMIT BRANCO

O caixão coberto com o samit branco cai do barco. Nele, a moça da aldeia que morreu de tifo.
O caixão é levado pelas ondas à terra e lá inteiramente encoberto por ericáceas. Os que ficam no barco não sabem o que dizer. O pai desfia as contas de seu rosário fúnebre.
Adormecida, a morta não abre os olhos. É sempre a mesma moça que não apodrece.
FERNANDO KARL
Caderno de Mistérios - Letradágua-2001
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Fernando Karl é poeta e já lançou mais de dez livros de poesias, e alguns contos que estão nesta raridade - Caderno de Mistérios - Ele me presenteava - em cada livro com uma dedicatória-poesia:
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No altar das estrelas
teu nome mais antigo
que o primeiro nome da água
F. Karl
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ou, aquela de Brisa em Bizâncio:
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No altar da brisa
duas flores:
olhos teus.
F. Karl

Monday, November 05, 2007

OS POETAS MENORES

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Os poetas menores vão conversar nas livrarias,
frequentam palestras, congressos, seminários
e tardes de autógrafos pensando nas suas.
Os poetas menores participam de semanas culturais
e feiras do livro até no interior.

Só não estão em casa trabalhando.
Não têm tempo.
Os poetas menores fazem visitas e são visitados.
Assistem a sessões em que conhecem a mesa e a platéia
e cumprimentam cada um.

São os primeiros a abraçar pelo prêmio ou a homenagem
e apesar disso
têm emprego, mulher, filhos, fumam,
ou não fumam,
comem nas horas regulares
e escrevem.
Não sei como.

Já os poetas andam atrás da sua poesia.
Segundo Faulkner, por elas deixariam morrer as tias.
E tias é um eufemismo, a Bíblia diria pai e mãe.

Ninguém mais fácil de contentar que um poeta menor.
Lembre algo que ele publicou
e logo receberá em sua casa suas obras completas,
sempre mais numerosas do que previa
e com dedicatórias de enrubescer seu ego,
por desproporcional que seja, como é a regra.

Folheia os livros e viu tudo,
se aproximam, não chegam, repetem, não dizem.
Mas o autor deseja opiniões precisas
e se refere a páginas que não estão
entre as vinte e duas que não leu
e não gostou.

A sorte é que supõe a favor o que é reserva
e sorri.
Para o poeta basta o que escreve,
o poema dá sentido à sua vida.
Sem o poema, restam ao poeta menor os comentários.
Não estranha que seus tímpanos dobrem de sensibilidade
ao menor sinal de interesse.

O poeta menor ri, fala macio, é prestimoso,
evita problemas na vida como na arte.
Por isso justamente é menor,
embora sofra tratando de não sofrer.
Na arena das relações e das letras,
não enfrenta os leões,
mas não acaba menos devorado,
pois há leões onde menos se espera.

Não se pode dizer que o poeta menor viva uma vida atribulada.

Busca se preservar de riscos,
o que às vezes é tão incômodo como corrê-los,
mas a falsa poesia que faz mostra que leva uma vida falsa.
Vivesse para valer, podia não ser poeta,
mas não seria um poeta menor.
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O poeta menor não chora de noite como o poeta,

de noite ele dorme.
No outro dia, refeito, ocupa-se tanto
que não sobra espaço para o poema.
Já o poeta,
mesmo sem pensar no poema, o vive
e assim, quando vai ao seu encontro,
pode dar com ele.

Diante destes fatos, e outros de teor semelhante,
vê-se que os poetas não costumam ser agradáveis
e que os poetas menores são encantadores.

É ir ao poeta pelo poema
e folhar em pessoa o poeta menor.

PAULO HECKER FILHO
(1926-2005)
do livro Vento, Águia, Coelho
(Ed SMC-POA - Coleção Petit-Poa/1991)
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La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...