RUE NOTRE-DAME-DES-CHAMPS
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Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
Entre nós não foi apenas valsa
Como a que dancei com Debussy
E talhei em mármore.
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Não foi espanto e encanto
Meu olhar azul na onda
- Fuji ao fundo -
Terna reverência à Hokusai.
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Lampejo de esperança – nosso encontro -
Sem saber que em minha vaga
Ao tecer crianças prestes a um naufrágio
Reproduzia o meu destino trágico.
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Antes um plágio – roubar o barco
De Hokusai, não colocar-me aos pés da onda.
Mas, com minhas mãos pequenas
Esculpo apenas o que pulsa
Cão criança mulher amado.
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Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
A minha agonia
Que nem podia
Esperar o novo dia
Estar em tua porta
Deitar-me
Natureza morta
Para que me eternizasse
- Danaide.
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Rue Notre-Dame-des-Champs
Tua criança amorável eu era
Amiga feroz e soberana.
Dezoito anos, olhos de céu no dia da criação
Lábios sensuais em flor. Comecei a esculpir
– Pés, pés, pés...
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Sem saber que dentro
Da alma feminina e fera
Esculpia um coração de vidro
Sem imaginar que um dia os estilhaços
Ergueriam em onda fria
E me soterraria – VIVA!
Bárbara Lia
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Camille Claudel morreu em 19 de outubro de 1943, ao acaso passei alguns dias revendo estas poesias escritas há quase dois anos, com o título - Para Camille, com uma flor de pedra.
Uma mínima homenagem.