
la vie en harmonie - marcio melo
CHÁ PARA AS BORBOLETAS
(BÁRBARA LIA)
TRANSPARÊNCIA
No instante do milagre
Segredos descem penhascos,
Espelhos, memórias, casas.
Trechos da vida à beira da ruína
Todos guardam para si.
Ninguém é transparente feito água Ouro Fino.
PULMÃO DE DEUS
Sussurro suave ao redor, nuvem
de seda embalando astros.
Aqui, onde respira a vida
perfume de malva, silêncio de córrego
entre pedras. Ar lúcido de luz.
DIÁFANA
O som do oboé abafa
a melodia da caixa de música.
Cristal filtra o raio lilás
do sol que adormece.
Bicicleta atirada na calçada,
velhinho com olho antigo
no horizonte.
Abraço a vida quando o dia acaba
refrescante e calma.
cerro cortinas diáfanas
beijo tua foto desejando beijar tua alma.
MISANTROPO
Tempestade á vista, vento abissal.
Recolher as roupas do varal.
Penetrar a gruta de cristal
onde a voz de Deus ecoa.
Incenso, cantata de Bach.
Equilíbrio = solidão total.
SEGUNDA MORTE
O pelotão avança, cascata de passos
Em adágio, botas resvalando relva.
Coração acelera. O homem calvo cobre
Meus olhos. Aguardo o fim.
Lembro negro olhar em chamas, encanto.
Fatal certeza... Morrer? Já morri por ti.
LEQUE DE NUVENS PARA O DEUS DAS ONDAS
O leque de nuvens se reflete
na areia de mármore.
Alento de tarde pagã.
Distante, a carranca do deus das ondas
escureceu o mar.
O coqueiro se eriça.
Cais sobre mim
feito neve nos Alpes.
E a tarde abraça o nosso abraço.
(Alguns poemas do livro "Chá para as borboletas"
ainda inédito)