Sunday, April 30, 2006

À MEIA-NOITE CHORAREI




















ILUSTRAÇÃO
- HOPE -
ROGÉRIO TERUZ
.

À MEIA-NOITE CHORAREI

À meia-noite, de novo, chorarei.
Por que sou poeta,
chorarei.
No sonho verei velhos amores,
pensarei no infinito finito,
e seguirei.
Vez por outra lembrarei
a voz do irmão caçula:
Esta estrela de Davi
na palma esquerda
significa - protegida pelos céus.

Eu não sou mesmo uma folha perdida,
nem fera ferida,
nem livro esquecido na estante.
Sou uma maluca elegante
que bebe a vida bebe a vida bebe a vida...
E segue sede gritante gritante gritante
mochila gasta atrelada às costas,
poesia minha bagagem,
sendo apenas compreendida
pelos que fazem a mesma viagem.

BÁRBARA LIA

Friday, April 28, 2006

ferlinghetti

























Leonardo Da Vinci


10.

Terrível
um cavalo em plena noite
sozinho atrelado
na rua silenciosa
e relinchando
como se alguém nu e triste
o houvesse molhado e cingido com pernas ardentes
e cantarolado
uma única sílaba
singela estridente e faminta.

LAWRENCE FERLINGHETTI
Um parque de diversões da cabeça.L&PM.
Tradução Eduardo Bueno.

Wednesday, April 26, 2006

solidão calcinada - finalista do Prêmio SESC 2005

*

Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2.005
Romance
“Hoje está um dia morto”
Autor: André de Leones,
26 anos, de Silvânia, GO


FRAGMENTO DO ROMANCE
"SOLIDÃO CALCINADA"


- finalista do prêmio Sesc 2005:
...
Sempre que pensava em Pietra via cenários antigos e rosas murchas em tapetes brancos, carruagens afastando-se meio à névoa, um espinho lacerando o dedo de uma donzela. Cenas de clássicos antigos, e sentia um nó na garganta. A mãe Serena, era uma figura em um cavalo, com um escudo invisível de segredos, uma lança apontada para o infinito, os cabelos soltos espalhados pela roupa transparente branca.
Ela era um Quixote moderno, uma deusa que Cervantes narraria com precisão e delírio. Ela não era Dulcinéia. Ela era o presságio daquilo que as mulheres se tornariam: As lutadoras do terceiro milênio, um sonho guardado na fenda dos seios, aquecido pelo coração.
Serena era a beleza mais nítida, ela inaugurava o anti-romantismo, cravando em nosso tempo uma nova estátua, não mais Vênus de Milo, mas uma Diana, caçadora, audaz, cristalina e eternamente bela. Sentia saudades de Esperança, a avó Esperança, a mais normal das criaturas, a única que via os dias como esta gente comum que se levanta e vive e domina a rotina e não reclama. Ter uma avó normal permitiu à Bárbara viver, e crescer e ser alguém que sabe do porto seguro, da normalidade das horas. Esperança quieta como estes céus de inverno onde tudo brilha em silêncio espectral. Ela nunca saía de seu ritmo e quase nunca falava, só falava quando a neta precisava de carinho. Ou falava quando era outono, como se o sol frágil, a ausência de flores fosse preenchida pela necessidade de revelar a saudade...
BÁRBARA LIA

abril

Claude Monet:














"Quando abril com suas chuvas gentis
ensopa as secas de março até a raiz..."
Chaucer



ABRIL


Cristal de fogo este sol de abril.

Felicidade ardida em oposição
à esta mágoa fendida.
Cerro negras cortinas,
na penumbra rasgo fotos
do passado.
Em rotação errada
nas paredes da memória

a mesma antiga declaração
dos homens sem imaginação...
"Bárbara Bárbara
Nunca é tarde
Nunca é demais”

Há que alguém me amar

sem desafinar letra e canção?
Como um barco sobre o Tejo,
como rosas se abrindo no chão.
Asas de colibri,
fogos de São João.

Uma canção
que não seja tarde,
nem demais.
Que seja abril
nada mais.

Bárbara Lia


Monday, April 24, 2006

transparência



















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TRANSPARÊNCIA


No instante do milagre
Segredos descem penhascos,
Espelhos, memórias, casas.


Trechos da vida à beira da ruína
Todos guardam para si.


Ninguém é transparente feito água Ouro Fino.


BÁRBARA LIA

pasolini






















Pier Paolo Pasolini

«O mundo ainda me foge, já não sei dominá-lo,
foge-me, ah, a cada instante que passa é diferente…
Outras modas, outros ídolos,
a massa, não o povo, a massa
decidida a deixar-se corromper
debruça-se agora para o mundo,
e transforma-o, mata a sede nos ecrãs,
nas televisões, horda impura que irrompe
com avidez pura, desejo informe
de participar na festa.»

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Pier Paolo Pasolini - Poemas
Assirio & Alvim


A SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE SÂO PAULO – BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE – COLÉGIO DE SÃO PAULO – APRESENTAM:

OS MALDITOS


Local: auditório da Biblioteca Mário de Andrade
– Rua da Consolação, Centro, São Paulo, SP
Datas e horário: às quintas-feiras,
de 23 de março a 18 de maio de 2006, às 19:30 h.
Inscrições e informações: tel. (11) 3256 5270, ramal 206, ou
kbocchi@prefeitura.sp.gov.br


27 de abril

Antonio Bivar – dramaturgo, narrador e ensaísta, autor entre outros das peças Cordélia Brasil e Alzira Power, e de O que é punk e Verdes Vales do Fim do Mundo, acabou de lançar Bivar na corte de Bloomsbury, ed. Girafa:


– Bloomsbury Babilônia
Roberto Piva – poeta, autor de Paranóia, Piazzas, Antologia Poétioca, Ciclones e vários outros livros, acaba de publicar Um Estrangeiro na Legião, volume 1 de sua obra reunida, pela Editora Globo.

-
Pasolini poeta maldito

Monday, April 17, 2006

luzes de marfim



















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Vincent Van Gogh


LUZES DE MARFIM


Agora a poesia segue.

É só o que me segue, afinal.
Sentidos de sol.
Primaveras de cerejas.

A tarde tocando teus cabelos
brisa ao redor - teu lábio.
Aquele beijo paterno
na testa menina.

Vôos meus que seguiam borboletas.
As belas horas tatuadas no espírito
liberto do grito inútil.

Fixado no etéreo, os sonhos
flanando quimeras em asas de seda,
o infinito aplaudindo em luzes de marfim.

Bárbara Lia

- Estrada bifurcada, dúvida destas almas regidas por Mercúrio - ir prá Sampa ver minha irmã e amigos; ou isolar-me no sítio do meu irmão e começar a escrever um novo romance? Lá ou cá, sem acesso, vou dar um tempo no blog, enquanto os concursos não liberam os poemas todos, e romances, etc. etc. etc...

Friday, April 14, 2006

sylvia plath




























Electra on azalea path
(Electra na aléia de azaléias)
SYLVIA PLATH
Poemas extraídos da Biografia de Sylvia Plath - Amarga Fama (Anne Stenvenson).- Ed Rocco. Plath fêz uma correlação de seu nome Plath, com path - aléia.
In Plaster (18/03/61)
Jamais sairei disso! Agora há duas em mim:
Esta pessoa nova, absolutamente branca. e a antiga amarela,
E a pessoa branca é certamente a superior...
Sem mim ela não existiria, de modo que naturalmente estarei agradecida.
Eu lhe dei uma alma, desabrochei nela como uma rosa
Desabrocha num vaso de porcelana não muito valioso.
...
Electra on azalea path(1959)
Sou o fantasma de uma infame suicida,
Minha própria lâmina azul enferrujando em minha garganta.
Ó perdoa aquela que bate pedindo perdão no
Teu portão, pai - tua cadela, filha, amiga.
Foi meu amor que nos levou ambos à morte.
...
... Ó Deus, não sou como você
Em seu vazio negror
Estrelas fincadas por toda parte, brilhantes estúpidos confetes.
A eternidade me entedia,
Eu nunca a desejei...
...
... Saindo desta pele
De velhas ataduras, tédios, velhos rostos
Salto para você do carro negro do Letes
Pura como um bebê...
...

Monday, April 10, 2006

dez anotações para não morrer de amor














Do filme Moça com brinco de pérola:
Scarlett Johansson (Griett) Colin Firth (Johannes Vermeer)

DEZ ANOTAÇÕES PARA NÃO MORRER DE AMOR.
1. Procuro um sábio antigo, tradutor de silêncios.
2. Te ouço como alguém que coloca um estetoscópio em nuvens.
3. Você é o pintor silencioso, ama com aquele olhar do pintor holandês Vermeer.
4. Você é uma tempestade silenciosa, que me molha noite e dia, dia e noite.
5. Ando perguntando ao pó... das estrelas, qual caminho seguir para não te ferir.
6. Curar minha síndrome de Raskólnikov de saias: perdoar meus grandes crimes e dizer que os castigos foram merecidos.
7. Só você mesmo para virar o disco, e lembrar meu nome com outra canção...
8. As mulheres sempre sabem pra qual corpo se perfumam.
9. E foram “felizes” para sempre - a gente raramente encontra na Literatura, só na vida real e na pasteurizada rotina.
10. Aprendi a te olhar com olhos de brisa.


BÁRBARA LIA

Saturday, April 08, 2006

pergunte ao pó














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Meu conselho a todos os escritores novos é completamente simples. Eu adverti-los-ia: Nunca fuja de uma experiência nova. Eu incitá-los-ia a viver a vida cruamente, para atacá-la com bravura, para atacá-la com punhos despidos.
Arturo Bandini
(Pergunte ao Pó – John Fante)


Arturo Bandini, sempre com uma revista verde embaixo do braço - a American Mercury - para quem conseguiu vender um único conto. Este homem que toca acidentalmente as moças e desculpa-se, depois passa horas infindas imaginando-as a heroína de seu grande livro. As cores do luminoso do hotel em frente jogando cores em sua cama, ele batucando sua velha máquina, até o dia em que entra naquele café, até o dia em que Camilla Lopez se aproxima, com as sandálias de couro e a flor vermelha nos cabelos, com sua mexicana beleza entrando pela sua respiração, dominando Arturo.
Arturo do lado de fora do café vê seus poemas lidos entre risos para Sam, o Bartender que Camilla ama. Que não ama Camilla, pois ele – the american boy – não amaria uma menina da raça inferior, mexicana. Bandini e Camilla, o mar, Arturo e Camilla ao luar, nus enlaçados em uma manta, esquecidos do desejo. Camilla a menina rejeitada por Sam, que sumiu no deserto do Mojave, com o cão Pancho. Pergunte ao pó, o livro de John Fante, que seduz, e nos leva a caminhar em 1933, por Los Angeles, e que agora virou filme.
Preciso reler Pergunte ao pó. Preciso ouvir o coração de Bandini. Preciso caminhar pela noite e nadar nua ao luar, dormir enlaçada ao amor sem fazer amor. Preciso acreditar que um escritor pode e deve ser quem trafega a vida para colher o fogo, depois filtrar o fogo em noites insones... E o nosso amor sempre nos braços de outro. E o deserto sempre escondendo miragens.

Colin Farrel e Salma Hayeck estão em Ask the Dust. A dúvida é ver o filme, ou, não ver o filme. O livro que tocou tão dentro pode ser nublado por esta produção, ou não. Mas, ver o trailer e ver a câmera focalizar as sandálias de Camilla... O grito de desespero dele, ao pó que nada responde. Talvez se traduza no filme a poesia do amor de Bandini por Camilla, talvez o Mojave traga o calor, talvez magia na tela... quem
sabe?

Friday, April 07, 2006

rua xv















Rua de pedestres de Curitiba - Rua XV - pintada por João Carlos Moreira, comprei este quadro na Feira do Largo da Ordem, há mais de uma década, minha rua amada. Em 1.997 eu escrevi - Se essa rua, se essa rua fosse minha - uma crônica que recebeu menção honrosa da UBE-RJ (Projeto Orpheu). Minha vida passa por esta rua. Gosto dela vazia, na madrugada, geralmente com as pedras da rua molhadas. No site cronópios tem um poema - Saudades de Marcos Prado - que fala do GRANDE poeta, dedicado aos seus herdeiros poetas tão belos quanto, e fala, de novo, desta rua que corre nas veias de todos curitibanos, ou como eu, quase.

Wednesday, April 05, 2006

asas de nietzsche



















ASAS DE NIETZSCHE

A essência da felicidade é não ter medo.
(Nietzsche)

Em urdidura silenciosa
escondem o pássaro
no crânio branco
-arapuca tétrica-
caveira fria.
Asas em valsa
coloridas de raios
que entram pelos olhos vazados,
e aquecem feito o fogo
e as papoulas
da primeira primavera.
Asas de pluma se ferem
no osso-cárcere, sangram;
asas metafísicas
voam céus de antes.

BÁRBARA LIA

cop8 mop3














Durante o mês de março Curitiba recepcionou delegados da ONU de mais de 180 países, e discutiu Biossegurança e Biodiversidade em dois eventos MOP3 (Meeting of the Parties), que discutiu biossegurança, com os 132 países integrantes do Protocolo de Cartagena, e em seguida a COP8 - Convenção da Biodiversidade que acontece a cada dois anos, desde a Eco - 92 o Brasil é o País chave para o futuro, que detém os maiores mananciais de água e o maior número de biodiversidade em sua natureza. Foi para mim um aprendizado estar lá, entre os jornalistas, participando do evento e enviando matérias para o jornal virtual - Vejo São José - da cidade de São José dos Campos, a pedido do jornalista Ricardo Faria.
Um resumo destes dias de evento:
http://www.vejosaojose.com.br/adeuskarugua.htm

Karuguá é arco-íris em guarani. Como o mineiro que entra nas entranhas da gruta e só então descobre se há ou não diamantes, estar dentro, enfronhada entre os representantes dos países, ongs, indígenas, lobistas, jornalistas, e personalidades. Perceber o fluxo da vida, as discussões, leva a um baque: não está sendo dada a merecida atenção a este tema tão sério. 
Adeus arco-íris. Foi o que pensei. Adeus arco-íris, se as coisas continuarem assim neste ritmo e com este descaso.

Saturday, April 01, 2006

EU TRADUZO A TUA RESPIRAÇÃO PARA O GREGO


















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olga sinclair
EU TRADUZO A TUA RESPIRAÇÃO PARA O GREGO
Em alfa respiras
farfalhando o sigma
de tuas asas.
Pelas avenidas,
teu riso-ômega
altera o ar.
Só Afrodite traduz
o que respiras e vives.

BÁRBARA LIA


La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...