Sunday, January 29, 2006

karl e Norek



















Tristan - Claude Théberge



O ENIGMA DE MO-TSI
O filósofo Mo-tsi escondeu as palavras. Depois foi ao centro da cidade ver as pessoas que andavam de lá para cá, incomunicáveis. Sentiu remorso, pena, medo, pois até ele ficou mudo.
Pensou em libertá-las. Mas cadê a chave? Procurou entre as flores, nos olhos, no semáforo, no vento que levantava saias, e nada de palavras. Foi aí que percebeu que se as palavras não estavam por perto, pelo menos as coisas estavam, e decidiu morar em todas as coisas.
FERNANDO JOSÉ KARL (SC)- do livro - Cadernos de Mistérios - Letra D'água Editora.
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NOTAS À MARGEM
6.Rezava um verso, ele não era meu, mas raptava todo meu amor em seus enigmas,
mais que suas luzes seus enigmas e eu só pensava em roubá-lo, roubar
o verso e ir pra Calicute, Serendipti ou qualquer destino de nome impronunciável,
tanto que lhe impedisse o aceso às almas não iniciadas,
almas que batem portas quando passam, àquelas que olhando a si mesmas
não vêem que delicadeza lhes estende um gesto. E por me disfarçar
na viagem, vesti o verso roubado até perceber que nele me tornara,
sua melodia na música de meus dias, seus silêncios em meu silêncio e
seu enigma em meus olhos, indelével marca. Agora, no meio do caminho,
Serendipti não existe, Calicute, ou que Oriente além de nunca termos sido –
Só esta lembrança de um verso que rezava um mistério, e nunca houve mistério
que não fosse eu – e o mais é uma lembrança de peixes
aos quais nada importa, o gélido futuro em que tornados fósseis
farão visada à poeira das estrelas
e seu olhar será apenas um oco onde se irá perguntar imagens tão belas,
imagens belas, abissais e belas, e sal e areia
e espuma.
ALDEMAR NOREK- Rio de Janeiro (RJ)

Thursday, January 26, 2006

elegia















Monumento em Mar Del Plata - no rochedo,
onde Alfonsina se atirou ao mar.


En el fondo del mar hay una casa de cristal.
alfonsina storni
(1.892-1938)


Voy a dormír

Alfonsina Storni

Dientes de flores, cofia de rocio,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos encardados.

Voy a dormir, nodríza mía, acuéstame.

Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelacíón; la que te guste;
todas son buenas; bájala un poquito.

Dejame sola: oyes romper los brotes...
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases

para que olvides... Gracias. Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido...

Vou dormir

Dentes de flores, toucado de orvalho,
mãos de ervas, tu, fina nutriz,
prepara-me logo os térreos
lençóis e o édredon de musgos espinhentos.

Vou dormir, minha nutriz, recosta-me.

Põe uma lâmpada na cabeceira;
uma constelação; a que quiseres;
todas são boas; aproxima-a um pouco.

Deixa-me sozinha; ouves romper os brotos...
te avassala um pé celestial desde o alto
e um pássaro te desenha uns compassos

para que esqueças... Obrigada. Ah, um favor:
se ele chamar novamente ao telefone,
diga-lhe que não insista, diga-lhe que saí...


[Poema enviado ao jornal La Nación poucas horas antes de sua morte]
tradução Álvaro Machado

ELEGIA

Bárbara Lia

Belo é o fim das estrelas
chuva de diamantes no vazio
despedem-se em lágrimas
de beleza.

Alfonsina-estrela
pássaro rasgado adormecido.
- en una casa de cristal en el fondo del mar-

Quando piso as águas,
veludo nos passos, pé ante pé,
cubro sua casa de cristal
com minhas lágrimas
e escuto tua voz cobalto
de paz enfim coberta
- No despiertes los pájaros que duermen-

Saturday, January 21, 2006

rasgar o vidro







EL SOL
Edvard Munch
(1863-1944)




RASGAR O VIDRO

Lâmina brilhante beija
o vidro recôndito
das dobras da alma.

Secreto sofrer
adeja do olhar fendido,
de estar ferido
sem estar.

Nem a lâmina do sol
rasga a alma,
pois vidro não rasga vidro.

Estala a rir e estanca.
Cínico semblante,
dentro da alma, um gemido.

Uma certa saudade – fina agulha –
de quando era a alma uma mínima fagulha
do sol-lâmina que o fere agora.


BÁRBARA LIA

Friday, January 20, 2006

Rûmi







Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!


Jalaluddin Rûmi 
poeta persa do século XIII.


Saturday, January 14, 2006

tristão e isolda
















Sir Tristão de Lionesse – cavaleiro e poeta – e
Isolde, filha de Gormond – escandinavo.
Amor narrado em escritos celtas antigos – Mabinogions.
Também narrado por Maria de França, irmã do Rei Henrique II,
da Inglaterra, em um conto conhecido desde o ano 1.000
– Chévre Feuille – (A Madressilva) – As madressilvas
quando mantém os galhos emaranhados, crescem, florescem,
quando separados, morrem, um após o outro.
Assim como Tristão e Isolda.
Estréia amanhã, nos Estados Unidos, o filme Tristan & Isolde,
com James Franco e Sophia Myles.
Ando mergulhada na lenda de Tristão e Isolda.




O PIANISTA DA FLORESTA DE VIDRO

Bárbara Lia



Veio a mim,
de uma página de Tolkien:
Aragorn.
Olhar de névoa
de uma floresta de vidro,
pisando pedras antigas,
pisando meu coração de vidro.
Falava em esperanto
sobre o encanto
das estrelas.
Entre pedras
&
astros:
o milagre.
Clave de sol nos enlaça
ele me oferece a taça
poção do amor
que bebemos juntos.
Tristão & Isolda.


Nuvens rascantes de Piazzola.
Pássaros de Mozarth.
Cascatas de Bach.
Flores de Wagner.
Tudo ressoa
e ainda arde
o olhar
verde vidro
em minha carne.

Wednesday, January 11, 2006

moreninha - mano melo








MORENINHA


Quer ir pras ilhas Malvinas
Gritar que elas são argentinas?
Ou você prefere um carnaval de confetes
E serpentinas?
Ou quem sabe dois tabletes
De chiclétes?


Quer se transformar na Princesa Narda
E ir embora pra Pasárgada?

Ou você prefere ser Nyoka,
Heroina de estórias em quadrinhos
E ir pra Áfrika
Viver uma aventura na selva?
Poderias voar pelos caminhos
Se balançando pendurada em cipós.
Subir a nada as cachoeiras de Foz.
Ou singrar os mares no trem azul da música do mundo.
A Eternidade é feita de milésimos de segundos.

MANO MELO

http://www.almadepoeta.com/manomelo.htm


MANO MELO é poeta, ator, roteirista.
Lançou entre outros livros - O lavrador de palavras (poesia)
e VIAGENS E AMORES DE SCARAMOUCHE ARAÚJO (romance)
pela editora Fivestar.

Em 1.998 recebi do Mano este poema, juntamente com o romance de Joaquim Manuel de Macedo - A Moreninha - Mano é alguém que mora no meu coração, e entre todas as perguntas feitas, a moreninha diz que gostaria de ser a Princesa Narda, ir embora para Pasárgada - lá sou amiga do rei, e tenho o homem que eu quero, na cama que escolherei.

eugénio de andrade















jeanne carbonettti






Respiro o teu corpo

sabe a lua-de-água
a cal molhada
ao amanhcer
sabe a luz mordida
ao sangue dos rios
sabe a brisa nua
sabe a rosa louca
ao cair da noite
oca
sabe a pedra amarga
sabe à minha

Eugénio de Andrade

Tuesday, January 10, 2006

a última chuva



Sepultei dois mortos na última primavera,
Cavei minimamente suas covas brancas,
Envolvi em lençóis de linho, com óleos almiscarados.
Jamais voltarei aos seus túmulos.
Eles, que não se sabem mortos,
Passeiam por paraísos com queixas
De anis


Bárbara Lia

A Última Chuva

Thursday, January 05, 2006

da herança






Meu pai dizia que ela era forte,
e era fiel ao seu amor.
Bárbara Bela – de Alvarenga.
A conjurada. A louca.


Sou guerreira – este é o nome.
Estigma na alma,
a vida uma batalha,
amores degredados.


Nome marcando
passos, destino, travessia.
Quem dera ser Beatriz.


A moça bela canção do Chico,
A musa de Dante.
Uma mulher feliz!
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- BÁRBARA LIA -

Tuesday, January 03, 2006

fernando aguiar


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FERNANDO AGUIAR




Folha de plátano
Baila ao sol
Acha crepitante.
Lenta folha desaba
No solo triste.


Epitáfio da folha:
Não desapareço

– espumas nas ondas.
Regenero o solo

com ternura feroz.
Para colorir azaléias,

gardênias e girassóis.

- BÁRBARA LIA -

Fernando Aguiar e Julien Blaine conheci em 1.997 no Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves. São expressões da Poesia Visual Européia, algumas palavras e imagens de amigos além-mar, amei o poema visual do Fernando - intitulado - poema - e este poema meu é o único que fala em folha de plátano.

fernando aguiar



FERNANDO AGUIAR - Nasceu em Lisboa em 1.956 -
poeta visual - artista plástico.
Site de poesia concreta e visual portuguesa:
http://www.po-ex.net/galeria/index.php?cat=0

julien blaine


















juan miguel giralt

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Le soleil est blanc
comme le parachute d'une méduse.

O sol é branco
como o pára-quedas de uma medusa.


Julien Blaine
Pagure
Éditions Al Dante
collection Niok

julien blaine




TEXTE à LIRE
AU FOND
(FLEUVE / MER)
&
à TRAVERS
UNE EAU DE FAIBLE
PROFONDEUR
(Cet été emmenez le texte à la plage)
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BASSINE - JULIEN BLAINE
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Julien Blaine est né en 1942, à Rognac, au bord de l’Étang de Berre, flaque de mer jadis bleu-azur, aujourd’hui marron glacé. Il vit Ventabren et à Marseille et nomadise le plus possible.
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Julien Blaine nasceu em 1942, em Rognac, a bordo de um navio - Lago de Berre, em um charco de mar outrora azul-azul-, hoje castanho congelado. Vive em Ventabren e em Marselha e leva uma vida nômade, tanto quanto possível.

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...