Os homens que não sonham
(Bárbara Lia)
No duerme nadie por El cielo.
Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de La luna huelen y
rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder
a los hombres que no sueñan.
(Federico
Garcia Lorca – fragmento de Ciudad sin sueño)
Os homens que não
sonham demolem pontes catedrais parques cânions praças
Os homens que não
sonham incineram as rosas cálidas das núpcias da moça feia
Os homens que não
sonham afogam pássaros em nuvens escarlates enquanto riem
Os homens que não
sonham pisam prímulas pálidas em varandas centenárias
Os homens que não
sonham pintam máscaras de dor em crianças, com traços de Dali
Os homens que não
sonham queimam o violino roto do último anjo que passou aqui
Os homens que não
sonham armazenam cédulas, pepitas, moedas, esmeraldas, royalties
Os homens que não
sonham caminham vestindo Armani olhos foscos atrás dos óculos
Os homens que não
sonham trituram sonhos dos reais sonhadores como quem respira
Os homens que não
sonham pisam pontes de gelo e alçam asas em pássaros niquelados
Os homens que não
sonham nunca leram Lorca, não sabem de Las
criaturas de la luna
Os homens que não sonham pisam flores de cerejeiras -
tapete aveludado - e nem rezam
Os
homens que não sonham odeiam flores nascidas pós-bombas em beleza voluntariosa
Os
homens que não sonham ignoram iguanas vivas seus dentes de serra e olhar de
vidro
Os
homens que não sonham não veem os dentes afiados de iguanas tristes na pedra
fria
Os
homens que não sonham ignoram a mordida de iguana e ignoram que não sonham
Os
homens que não sonham fecharam a via estreita que nos aproxima de um éden
Os
homens que não sonham não amam iguanas, cidades, pedras, éden, cerejeiras,
anjos
Os
homens que não sonham não amam nada, não tocam nada, não vivem nada...
- poesia da série AZUL DESMORONADO