(revisitação à Desdêmona)
1
Hoje a lua está mais leve
prenhe de presságios.
A sua cisma está mais leve
mas ela ainda pensa que enlouqueceu.
Recorda sempre o tempo
em que andou por casas de saúde
mas nem uma palavra
sobre os abismos meus.
2
Ela desliza num mar platinado
de antigos sonhos e quartos
escondida
da sindrome do pânico
bebe nossas memórias
nos garrafões do vento.
3
Lolita de Egon Schiele
reinaugurou virgens uivos
e reabilitou velhos lobos
Agora arrepende-se por quase tudo
e desmonta-se num choro incomensurável.
4
Hoje
vim buscar seus fiapos
sentir o fogo do seu coração
colher o orvalho de sua testa
ouvir seu pranto (sua lógica infiel)
pelo engano de todos esses anos.
5
Hoje
fui chamado à sua casa
onde enterrei um baú de ossos
e versos lamentáveis.
Muito depois desse tempo
meus braços criaram carnes
minha boca teve fomes
meu sangue latejou de desejos
minha alma nutriu-se
de outros sonhos
6
Vim aqui servir-lhe o café da manhã
na bandeja da ilusão.
A mesma que um dia
também me serviu.
Volto
para trocar as camisas
(de quem é a da derrota?)
ao final do jogo
em que tudo deu errado.
7
Mas sobra ainda nos retratos
a ponta de um sorriso triste
E após uma entrega
das mais felizes
atuamos em outros campos
com camisas desprezadas
(Torcendo um pelo outro?
Não, que a paixão é egoista).
8
Hoje
superado o desastre da perda
(Somos solidários no câncer e no desamor)
amparo, ainda ssim,
outras flores mortas ejaculadas
e dos desertos
teus áridos solos de amor
9
Nossos dedos
não trocaram alianças
nem fomos mais felizes
do que ainda podemos ser.
Somos apenas peixe e anzol, lua e sol,
num horizonte tardio
que se entreolham
num breve sorriso meio triste
cheio de suposições
que podem dizer muitas coisa e nada
ou qualquer clichê, como esse
de um poema que troca sua camisa desprezada;
10
Hoje o sol está mais leve
prenhe de augúrios.
Reverencio a casa
de outra amada
-
(Antologia 44º Femup - 2009
3º Lugar Nacional)
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