VentreLinhas
por Bárbara Lia
Um
livro é uma espécie de corpo. Tece-se, como os recém-nascidos que só vemos
quando está completo o ciclo da gestação e eles rompem tudo e se materializam
diante de nós. Percebo isto depois de lançar alguns livros e de passar grande
parte do meu tempo organizando esta enormidade de poemas que escrevo há uns
vinte anos. Meu novo livro – Forasteira
- traz em si a essência fêmea. Busquei uma imagem de mulher para a capa: a imagem
do grande Egon Schiele (seated woman in underwear). Há algum tempo o meu amigo Fernando Koproski disse do seu
desejo de escrever a apresentação de um livro meu. Lembrei-me disto enquanto
finalizava o livro e enviei para ele a epopeia forasteira. Mais de uma década
de amizade e, senti-me honrada, abençoada e privilegiada por ter recebido aquela
declaração linda de irmandade poética que é a apresentação do livro. Fernando
afirma que somos irmãos por parte de pai. No mundo poético, onde tudo é
possível, sou filha de Florbela Espanca e Vinícius de Moraes, ele diz. Foi o
toque de leveza, e de beleza, que fechou o ciclo e a saga de – Forasteira.
Uma
tarde, recebi uma ligação da editora Carmen Presotto - poeta que batalha dia a
dia pela divulgação da poesia e que conheci em uma manhã de sábado em Porto
Alegre, na edição 2010 do Festipoa. Ao telefone, Carmen estava entusiasmada e
eu até podia tocar a euforia do novo quando ela disse que Forasteira inspirou
uma coleção e o título da coleção seria VentreLinhas. A coleção abria com meu
livro e seguiria com a edição de poetas mulheres que escrevem na página
Vidráguas. A coleção teria sempre uma capa com uma imagem feminina. E, cada
livro da coleção traria um homem apresentando os poemas. Nada mais natural que
se chamasse VentreLinhas. Todo livro nasce de um ventre metafísico e isto
independe se de homem ou de mulher.
A
razão de uma coleção de livros escritos por mulheres? Se o mundo todo colocasse
homens e mulheres lado a lado, sem distinção, dispensaríamos as coleções para
mulheres, as antologias só de mulheres. Quando pensamos – igualdade – não se
inaugura, ao redor, a igualdade em tudo. Não há divisão de sexos na Arte, pois
a alma da beleza não tem sexo. Não se pode ignorar, no entanto, a disparidade
de atenção que a escrita das mulheres recebe em relação à escrita dos homens. Creio
que este estigma da desigualdade demora a ser varrido totalmente, ainda. Está
impregnado, é preciso lutar, seguir, e – colocar-se ao lado dos homens - para
que o futuro dos textos (em prosa e verso) escritos por mulheres. tenha o mesmo
olhar e as mesmas oportunidades. Enquanto isto é preciso quebrar a desigualdade
com coleções e antologias. Por isto, saber desta coleção me deixou bem feliz.
Longa
vida à coleção VentreLinhas.
link para a loja vidráguas