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em valsa
céu azul Magritte
(pano de fundo
para esta dor
azeviche)
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O SAL DAS ROSAS
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Leito de um rio de sal.
Cresce em mim
o desnecessário.
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Apodreço em rosas.
Rio sem foz.
Lua duplo espelho
no coração das águas.
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Lembranças,
esperanças
naufragam abraçadas
no involuntário rio
onde acordo.
(O sal das rosas / Lumme Editor - 2007)
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DELANTE DE LA VENTANA , EL ROSEDAL
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Testamento enterrado
a la sombra del rosedal:
Le dejo mi guitarra
al vendedor de la panadería.
La hierba bendita
a la vieja del balcón.
La caldera
que silba Villa Lobos
al Fray Gustavo
que cose almas
los miércoles por la mañana.
El libro de poesía
de Augusto dos Anjos,
al cobrador del Expreso 022.
Firmado:
La niña de los ojos tristes.
Chico Buarque me llamaba de Carolina,
Pero era sólo un disfraz.
Soy yo la niña
que vio el tiempo pasar en la ventana,
sin ver.
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DIANTE DA JANELA, O ROSEIRAL
Testamento enterrado
à sombra do roseiral:
Deixo meu violão
para a balconista da padaria.
A erva benta
para a velha do sobrado.
A chaleira
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta.
O livro de poesia
de Augusto dos Anjos,
para o cobrador do expresso 022.
Assinado:
A menina dos olhos tristes.
Chico me chamava de Carolina,
mas era só um disfarce.
Sou eu a menina
que viu o tempo passar na janela,
sem ver.
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- O sal das rosas (Lumme editor/2007)
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tinha medo da cortina
que lembrava
o quintal do mal.
Era adornada de pecado
rosas em gritos menstruais
sangrando folhas descomunais.
Durante o dia eram bizarras.
Na noite me assombravam
formando rostos
na contra luz da lua azougue.
Eu farfalhava no colchão
cerrava os olhos
encolhia-me em posição fetal.
Nunca disse à minha mãe
(que trocaria a cortina – para minha paz)
Nasci de frente para os fantasmas.
Contemplo.
Não expulso.
Não acendo a lâmpada.
Enfrento.
No quarto escuro
(agora da alma)
os mil rostos
de rosas mortas
a me contemplar.
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A última chuva - (ME - 2007)
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Mulheres
Sofrem meio às rosas
Espinhos escondidos
Em seus cabelos.
Seios nus
Beijados pelo amado.
Lençóis ao vento.
Vela de um barco
Onde o timão balança
Entre a neve
E a primavera.
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Todos sofrem:
A gota prata
Do orvalho na rosa
É lágrima fêmea
Que brilha
Enquanto sofre.
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(O sal das rosas - Lumme Editor -2007)
...
Ela:
...
Sépala, pétala, espinho.
Na vulgar manhã de Verão –
Brilho de orvalho – uma abelha ou duas –
Brisa saltando nas árvores –
- E sou uma rosa!
EMILY DICKINSON