Tuesday, June 21, 2011
Tem um pássaro cantando dentro de mim
DECRETO:
Proibido derrubar
qualquer árvore
(exceto para
construir
berços
e violinos)
***
EM CARNE VIVA
Um poeta em carne viva
abriga a terrível pulsação
de um coração-estrela
e um silêncio
encravado nas entranhas
como filho bastardo
que nasce
à revelia do seu canto
Um poeta em carne viva
pisa as pedras
imaginando-as
seda da China
Um poeta em carne viva
é um louco no tribunal
das almas de chumbo:
culpado sempre
Culpado de ser humano da fala ao falo
***
Jardim do Caos
III
Signo de Salomão
na palma
Napalm na pele
Da alma
Tatuagem recebida
no berço
Caligrafia de Deus
- risco estrela -
Que oblitera
A pele canela
O mel de flor evaporada
Os traços arcaicos
Incinerados no espelho
Reflete em branca fogueira
Intacta
Minha alma
Ignorata
Bárbara Lia
Tem um pássaro cantando dentro de mim
capa - Cinthia Casagrande
Venda - barbaralia@gmail.com
Constelação de Ossos
foto - Darlan Cunha
CAPA DE GELO EM SUAS ASAS DE VIDRO
A primeira poesia que fiz eu tinha dez anos. Tomada de uma tristeza estranha ao ver uma abelha morta coberta de uma fria camada de gelo no vaso de antúrio que existia nos fundos da casa. Mortificava-me o medo das abelhas nas tardes de primavera temendo uma ferroada, temendo a dor que era ser picada por uma delas. Elas chegavam sempre apavorando a minha infância. Ficava temerária esperando o instante da dor. E no final, a dor foi outra. Vi uma abelhinha morta em uma flor vermelha. Uma camada de geada a cobria, como o açúcar que cristalizava os doces que minha mãe fazia. Sob o gelo ela estava inteira. As asas de vidro e o corpo amarelo forte. Amei aquela abelha como quem ama pela primeira vez. Quis ressuscitá-la, mas, estava nítida a sua rigidez, sua vida estancada em um inverno, petrificada. Não recordo os versos, a poesia se perdeu. Falava de uma amizade desperdiçada, por medo, por puro medo de enfrentar a sua natureza. Minha professora disse que era filosófico demais para uma menina da minha idade. Depois disto, cada descoberta, ou perda, ou alegria ou dor, eu delineava em versos. Catarse. Pura catarse. Quando cresci, aprendi que a poesia merecia certo apuro e um carinho estético. Então eu comecei a compor poesia com cuidado, pura reverência. Guardei-as, guardei-as por anos a fio. Como quem guarda um pedaço de sua alma em uma concha secreta.
Bárbara Lia - Constelação de Ossos = Romance = ed. Vidráguas / 2010
Venda: Livraria Cultura
O Sal das Rosas
KAMIKAZES
Doze kamikazes
arrastam a delicada açucena.
Doze kamikazes.
As lágrimas descem
feito fontes.
Nenhuma música
de anjos sonoros,
nenhuma.
Nas nuvens que passeiam,
exausto de tédio, atira longe
o grão da maldade – o dragão da guerra.
Bárbara Lia
O sal das rosas / Lumme editor 2007
Venda - Livraria Cultura
Doze kamikazes
arrastam a delicada açucena.
Doze kamikazes.
As lágrimas descem
feito fontes.
Nenhuma música
de anjos sonoros,
nenhuma.
Nas nuvens que passeiam,
exausto de tédio, atira longe
o grão da maldade – o dragão da guerra.
Bárbara Lia
O sal das rosas / Lumme editor 2007
Venda - Livraria Cultura
A Última Chuva
UM TANGO COM DEUS
tranquei os covardes na sacristia
e explodi o templo
desci a rua de pedra rasgando em fúria
os ídolos e seus pedestais
as estátuas e seus ancestrais.
tranquei os covardes na sacristia
e tombei as torres áridas
que nunca chegarão ao céu
e impedem o tráfego
da poesia & pássaros.
tranquei os covardes na sacristia
guardei nas dobras da alma
os que amo e são meus,
na clareira incendiada de papoulas
dancei um tango com Deus.
Bárbara Lia
A última chuva / 2007
Venda - Livrarias Curitiba
A Senhora Selvagem
tutto il viaggio è metafora del viagggio interiore
quando sono attraccata a Venezia
lo sapevo
approdavo anche in me stessa
toda viagem é metafora da viagem interior
quando desembarquei em Veneza
sabia que
aportava também em mim mesma
**
"inquieta era qui una bambina im-
palpabile, una donna intangibile una signora
selvaggia andava sempre fino in fondo"
Epitafio
"inquieta-se aqui uma menina impal-
pável, uma mulher intangível uma senhora
selvagem que ia sempre até o fundo"
Epitáfio
A Senhora Selvagem
Berenice Sica Lamas
Capa: colagem de Berenice Medeiros
Evangraf/2011
Coleção Sempre Viva ALF
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