Monday, April 30, 2007

A ÚLTIMA CHUVA


















Convite





LANÇAMENTO DO LIVRO

"A ÚLTIMA CHUVA"
Poesias
Bárbara Lia
Coleção ME-18
Mulheres Emergentes Edições Alternativas
(Belo Horizonte - MG) - 2.007


dia 08/05 - 20h
MERCEARIA SÃO PEDRO
Rua Rodésia, 34
Vila Madalena - São Paulo
fone (11) 3815.7200

http://www.merceariasaopedro.com.br/

Sunday, April 29, 2007

MANDEM-ME CARTAS!







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POETAS


(Florbela Espanca/Tiago Machado)



Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém:

São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida.
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma prá sentir
A dos poetas também!

Ana Mestre surpreendeu-me com uma carta e um CD de Mariza - Fado em mim, que tem a canção acima. Sinto saudades de cartas, de correspondências que não mais existem, agora são teclas, sem a digital gráfica, e a letra dela tão redonda e linda, a menina de Évora, e o pequeno jardim desenhado no final, pois ela estuda paisagismo. Junto com o abecedário tecido nesta ferramenta nossa - a palavra, dança a essência, é como se aproximar da alma. Mandem-me cartas!

Saturday, April 28, 2007

A VIDA É LIQUIDA

I
a Jamil Snege

É crua a Vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturnos pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.


Hilda Hilst

Uma poeta genial, dedica uma poesia a um escritor genial.
... colei do site que visitei e fico relendo tudo que encontro
da Hilda Hilst e da Orides Fontela.
Uma entrevista no site cronópios - Hilda Hilst entrevistada
por Pedro Maciel.
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2324

IGREJA UNIVERSAL E LEI ROUANET

O Ademir Assunção levantou a questão. A Igreja Universal deseja beneficiar-se da Lei Rouanet. Admiro muito mais que a poesia do Ademir, admiro suas bandeiras, e a forma como ele caminha dentro da realidade, quase só. Percebo isto, que ninguém dá a cara à tapa. Mas, em seu blog ele coloca em debate todas as questões de uma forma que eu admiro.
O Pinduca é mesmo o cara que faz a rebelião na zona branca. Então eu coloquei na coluna do site Vejo São José a questão da Igreja Universal do Reino de Deus que quer se beneficiar da Lei Rouanet.
Vamos reagir e exigir que o Congresso vete este absurdo.
Tem um texto no site vejo são josé.
Detalhes no blog do Ademir - link ao lado.

Thursday, April 26, 2007

Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser
-se a luz é tanta,
como se pode morrer?
Eugénio de Andrade



Vê as janelas entreabertas,
cortinas de renda,
dentro uma luz difusa?

Vê as estrelas escondidas
atrás das nuvens ralas?
Vê por entre a água cristalina
os peixes valsando claros,
vermelhos, cinzas,
incandescentes?
Quero olhar-te assim
- vida inteira -
e ver no fundo de tua alma
esta dança de peixes,
lâmpadas e estrelas.

BÁRBARA LIA

Wednesday, April 25, 2007

CÉU FULIGEM



















Picasso



era de aquarius
de cabelos de vidro
máscara azul
sapatilha de areias
pisa o milênio
sutil e solene
nuvens negras
o oriente geme
Krishna, Allah e os astros
nos deserdaram
estrelas apagadas
em um céu de fuligem
entre os cães e as carnes
de crianças do Iraque
uma lágrima rasga
em cicatriz, o poeta
(na selva-relva
acordes & solidão)
15.05.05
BÁRBARA LIA
(O sal das rosas - p. 21
Lumme Editor, 2.007
info@lummeeditor.com)

Tuesday, April 24, 2007

NOITES DE AREIA



Geleiras sonham ser montanhas.
Montanhas sonham ser céu.
Acima de picos nevados
reside a verdade:
Anjos em cidades de gelo.
Chuva de diamantes
engendradas por estrelas
quedam no vazio.*

Rede de arrasto de poetas
garimpam as esferas.
Aos mortais comuns
Deus mostra
apenas uma vez a face.
Sem Deus, impossível
chegar ao coração estriado
de Heras em ciranda.
Resta a esperança
- anjo de areia –
que nunca conheceu o desejo
e não sabe
como em mim incendeia
a fina fibra da flor
cada poro em amor
quando a lua beija

meu corpo mascavo,
e goza entre as pétalas
do éden que te pertence.
BÁRBARA LIA


(* texto em itálico, reescrito a partir da leitura
de pequeno fragmento do livro
Versos Satânicos – Salman Rushdie)
*
Ilustração:
Título: "Anja Rosa"
Técnica: óleo sobre tela

Autoria: Ana Luisa Kaminski

Saturday, April 21, 2007

ORIDES FONTELA


Numa hora
secreta
as águas
dormem

(rios detidos
fontes inertes
introvertido oceano)


numa hora
impossível
cessa o
fluxo


e eis a
estrela: amor
cristalizado

ORIDES FONTELA
(1.940-1998)

Orides Fontela nasceu em 21 de abril.
MInha poeta preferida, ao lado de Hilda Hilst.

Thursday, April 19, 2007

MULHERES EMERGENTES - 18 ANOS


Foi na época que eu só mostrava meus escritos totalmente pressionada ou inquirida por um amigo, Carlos Barros, que não cansou de pedir para que eu "tirasse os poemas da gaveta", era praticamente um mantra, e uma inesgotável paciência dele que repetiu isto por pelo menos uns quatro anos... em uma destas conversas ele me apresentou o mural - Mulheres Emergentes -
Uma publicação bonita, não era revista, nem jornal, era um mural de poesias.
Como o sensual sempre me toca, e como era mesmo um belo trabalho da mineira Tânia Diniz, que cansada de procurar editores, resolveu criar sua própria editora, recordo que mandei uma poesia para o Mural e foi publicada, coloquei o mural na parede do quarto, meu pequeno poema ali, penso que o ano era 1.999.
Agora Tânia me convida a fazer parte do projeto que vai comemorar os 18 anos do mural "Mulheres Emergentes". Dezoito mulheres escritoras serão editadas este ano sob o selo "ME" de Tânia Diniz. A festa deve rolar em Belo Horizonte em agosto, tenho a alegria de partilhar desta festa.
O livro?
"A ÚLTIMA CHUVA"
sobre o trabalho de Tânia Diniz

Tuesday, April 17, 2007

FREI TITO DE ALENCAR LIMA













Tito de Alencar Lima (14/9/1945 - 10/8/1974)




Quando secar o rio da minha infância
secará toda dor.

Quando os regatos límpidos de meu ser secarem
minh'alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes
- lá onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relva
e nos dias silenciosos, farei minha oração.
Meu eterno canto de amor:
expressão pura da minha mais profunda angústia.

Nos dias primaverís, colherei flores
para meu jardim da saudade.
Assim, externarei a lembrança de um passado sombrio.


Paris, 12 de outubro de 1.972
- Frei Tito

(pg. 257 - Batismo de Sangue - Frei Betto -
dossiê - VI. Tito, a paixão)

"A VIDA SUPERA A FICÇÃO"






BATISMO DE SANGUE



baseado no livro de Frei Betto
- filme de Helvécio Ratton estréia – 20 de abril.
ElencoCaio Blat (Frei Tito) Daniel de Oliveira (Frei Betto) Cássio Gabus Mendes (Delegado Fleury) Ângelo Antônio (Frei Oswaldo) Léo Quintão (Frei Fernando) Odilon Esteves (Frei Ivo)Marcélia Cartaxo (Nildes)Marku Ribas (Carlos Marighella)


Este filme fala sobretudo da vida de Frei Tito, a irmã que o visitou na França, na volta diz – Tito já está morto. A primavera evoca o torturador, cada vez que ouve a palavra fleur, Fleury vem à lembrança. O cão torturador que exigia que Tito beijasse sua mão como se ele fosse Deus, e que pedia para que Tito abrisse a boca para a hóstia, e eletrocutava sua língua. Tito estava na lista dos prisioneiros políticos que foram soltos em troca do Embaixador da Suíça. Banido do país, não sobreviveu ao que lhe haviam feito. O que lhe foi dito na sucursal do inferno – já que não podemos quebrar teu corpo, vamos quebrar tua alma. Tito morreu na França, aos vinte e oito anos, pendurando uma corda em um álamo que existia no lugar que ele vivia L’Arbresle, e saltando para sua libertação. Quando seu amigo Frei Betto visitou seu túmulo em 1.980, a inscrição que existia escancarava a realidade da morte de Tito, na sua cruz a inscrição:
“Frei da Província do Brasil. Encarcerado, torturado, banido, atormentado... até a morte por ter proclamado o Evangelho, lutando pela libertação de seus irmãos. Tito descansa nesta terra estrangeira. “Digo-vos que, se os discípulos se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lucas 19, 40).
Quando li “Batismo de Sangue” há muito tempo atrás, percebi na narrativa de Frei Betto o desejo de contar a vida de Tito, seu calvário, a sua morte precoce. Mais que a história de Marighela, da participação dos dominicanos nos episódios que encadearam a morte de Marighela e a prisão de todos eles. Batismo de Sangue vai falar de uma vida, uma bela vida, de um menino cearense, de uma alma triturada, realidade que supera a ficção.

Frei Betto fala sobre o filme:
http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=6499

site do filme:
http://www.batismodesangue.com.br/

PALCOS DE VIDRO




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Isadora Duncan


Tudo será
capaz de ferir.
Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Orides Fontela



Para lembrar minha letra
escrevo na madrugada
redonda letra lúcida
- freio o frêmito –
Imploro ao Deus DJ
que desça deste palco
e me ensine a dançar:
“são dois pra lá
dois pra cá”
Cessar esta alucinada ópera
-minha vida-
em palcos de vidro
as sapatilhas esgarçadas
nudez morena
sob tules rasgados
em delírio
dentro da 5ª Sinfonia.



BÁRBARA LIA

Monday, April 16, 2007

CACTO & JASMIM



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Busco equilíbrio entre o cacto e o jasmim.
Silêncio abissal de desertos.
Ruidosa rua de pedras.
Sou sempre: solidão ou multidão.


A voz cristal de Deus me apavora.
Meu coração uma gruta:
Com espinhos de cactos.
Com perfume de jasmins.


No varal da alma
o aviso:
Aqui jaz a perfumada ilusão.

BÁRBARA LIA

(O sal das rosas - Lumme editor, 2.007)

LADY SOL



Por invejar a solidão
Da concha,
Da estrela,
Do sino ébrio...
Felicidade singular
De brilho & estrondos.
Mudei meu nome.

Como mão na luva,
Deslizei
Lerda e lenta
Para esta nova identidade:
Tem um calor de chá de anis,
Um pijama macio e quente
– pantufas!
Tem lua lilás e Beethoven.
E tem uma saudade.

Ah! Vedei as portas...
Não tente entrar sorrateiro
Como na noite branca,
Com a beleza de suas mãos
& acordes.

BÁRBARA LIA
(Noir - ed. do autor, 2.006)

CHÁ PARA AS BORBOLETAS




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Janela - espelho meu.

Fragrância de almíscar selvagem
me violenta.


Menino com aura violeta.
Jovem com juba desgrenhada.
Velocidade lenta.


Garganta do poço este túnel cinza,
onde trafego dias.

Penso na infância, sombra
dos eucaliptos, recanto secreto

onde eu servia chá às borboletas.


BÁRBARA LIA

- Chá para as borboletas - edição artesanal do autor.


- ilustração Ane Fiúza.

BEM-TE-VI




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Ramagem arranha janela.
Sonho: Aeroporto fantasma.
Espíritos de náufragos do Titanic.
Ku Klux Kan ateando fogo ao enforcado.

Sequência horripilante:
A mulher sem olhos na cama,

entre lençóis úmidos de chuva.

Acordo com o bem-te-vi
na manhã de sol
na mesma paisagem.


BÁRBARA LIA
- O sorriso de Leonardo - Kafka ed., 2.004

Friday, April 13, 2007

MARCIO DAVIE CLAUDINO




















Claude Monet



ESTUDO PARA UM JARDIM DE ANIMAIS TRISTES

“Mas tira essa gente invisível que ronda a minha casa!"
(Federico García Lorca)


Um lobo

Quem
te acompanha à tua porta
em vigílias extremas
faz esperas em teu jardim de bichos e flores tristes

E se enoturna de magnólias
e se cobre de relvas
tomba a sua sombra
em canteiros com sede

Espreita entre madressilvas
e idiomas de pintassilgos.
De tua tristeza em olho d’àgua
faz-se arroio

E se transforma em silêncios e outonos
e se alumbra na tua ausência
e se corta com cacos de teus vitrais?

A selva dos desejos

Quem te iludiu e entrou contigo
na selva dos desejos
na cama azulada de sanhaços
invadiu a nossa casa
e fez noites que se entreolham
em espelhos profundos?

Ressurreição

E me ofertas esta taça de ódio!
E me ofertas esta malícia de delícias!
Sevicias o meu pranto!
E me coroas com o cilício do silêncio!

Mas replantando em teu jardim
semeio canteiros noturnos de jasmins
freio auroras para te admirar na janela.

Tu que não me ouves porque és nuvem.
Tu que não me falas porque sou árvore.

Reencanto

Sou todo outono.
Espero a primavera para que voltes.
Terás virtudes de idades maduras,
terei silêncios de lonjuras para te contar
de juventudes idas em agosto.
O prodígio, a festa

Havia rosas na chuva
sob o portão da nossa casa.
Cascas de arroz pelo chão,
calendários, sermões, letras mortas;
editais pregados nas paredes,
recuerdos, datas e aniversários.

Agora a letra viva
aclama e canta em festa o dia da volta

pródiga, agradece

(Um lobo arisco se afasta
arrastando na boca um pedaço de crepúsculo;
contra o albedo da lua vidra o olho
refletido em cacos de vitrais).

Epitáfio

Em nossa casa rodeiam-nos os vivos
que chegam com palmas e ofertórios.
E eu leio alto com tremuras na voz:

“Porque o amor é forte como a morte
e duro como a lápide”

(Um raio cortado de sol mágico fende a janela,
tu repartes os cabelos da boneca e me acordas com um beijo).


Márcio Davie Claudino
(O sátiro se retirou para um canto escuro e chorou
Imprensa Oficial, 2.007
SEEC - Paraná)

KAMCHATKA




















Há alguns anos, quando vi o filme do diretor argentino Marcelo Piñeyro escrevi um texto que está no site Vejo São José.

O menino Harry, antes do desaparecimento de seus pais, vive o seu mundo fantástico infantil, sem saber da perda iminente, no sítio onde a família se refugia, ele e o pai se debruçam em um jogo (war), e ele percebe que quem se refugia - durante o jogo - em Kamchatka, vence a guerra. Kamchatka passa a ser um lugar onde se está a salvo. Kamchatka é um filme de uma sensibilidade que marca. Saber que existe geograficamente na Rússia, terra do fogo, uma península dá legitimidade ao recado do pai... cada qual tem a sua terra aquecida, um lugar onde se está a salvo, razões para abraçar a vida.
Kamchatka, prod. argentina - 2.003 - direção - Marcelo Piñeyro, com Ricardo Darín, Cecilia Roth e Hector Alterio.

http://www.vejosaojose.com.br/barbaralia.htm

Wednesday, April 11, 2007

GABRIELA (Rodrigo Madeira)




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(foto de Rebecca Loise, que aciona a máquina, e corre para a cena,
segurando a sacola branca que é minha, dentro dela tem o livro
do Madeira)
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Gabriela abriu o guarda-chuva na noite, depois ficou assim, leve sempre, agachada na calçada. Quando li o livro do Rodrigo Madeira, mesmo sabendo que a poesia da página 38/39 não era para a nossa gabriela, a poesia é dela. Gabriela Caramuru, uma poeta que tem como ídolo Rosa de Luxemburgo, e briga com a guarda municipal quando não trata com carinho os moradores de rua. Todo mundo merece amor. Este é o socialismo mais poético, estar perto da Gabi me faz crer de novo - fico olhando e pensando - são perseverantes - Ela, Pedro Carrano, Frei Betto, eu queria ter esta fé na utopia mais bela - Niemeyer comunga desta certeza que fatalmente o futuro viverá este socialismo verdadeiro, eu ando desencantada, a ponto de pensar em colar o lema da minha amiga Gabriela na parede do meu quarto... "Ela virá, a revolução garantirá a todos o direito não somente ao pão mas tambem a poesia". Gabriela existe!
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gabriela
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não há beleza de vedete, de corista, de cigana.
precisa-se de dedos longos para enxergá-la:
um quadro de joan miró.
é preciso dar-lhe uma segunda chance.
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seus cabelos soltos pactuaram com os incêndios.
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ela se recolhe em algum lugar onde as palavras
já não prestam, ou de repente
abre um guarda-chuva
de silêncios.
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ela caminha, ela caminha.
tem a delicadeza de uma criança tomando aulas de balé.
com charme trivial, parada e volitante, uma sobre a outra,
fecha as mãos em concha. quer resguardar
um passarinho ferido que colheu no jardim.
antes de dormir, aninha-o em sua boca, e de sua saliva
ele bebe as águas.
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assim que desabrocha o dia, assim que içam o sol, inundada
de um amor que deseja muito matá-lo - a ele que já se recobrou
-,
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gabriela gentilmente cospe-o nas pequenas mãos e as abre:
sonha ir junto.
o vôo.
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onde pousará tanta alegria?
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de onde em onde, a pele de gabriela desmancha
como asas de borboleta e gradações do ocaso.
gabriela existe?
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sua santimônia tem coxas grossas
e um resfôlego que voto ao mar.
gabriela e as coisas, faço parte?
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não importa.
esta estranha casa já foi minha.
este edifício de luzes acesas no meio da insônia.
este garimpo de globos oculares (à noite)
este cavalo atravessando o quarto (à noite)
estes coveiros cortando as unhas. não importa.
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embora olhe com penetrantes vocativos, cuido-a dizendo
umas poucas dúzias de palavras: passe o pão, por favor!
mãe, vai chover, melhor recolher as roupas!...
coisas simples.
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e, no entanto, olha-me com olhos tagarelas.
olha e pensa.
olha e olha.
gabriela,
aprendi o sotaque de teu silêncio.
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RODRIGO MADEIRA
(Sol sem pálpebras -
Curitiba - Imprensa Oficial, 2.007)
A Secretaria da Cultura do Estado do Paraná acaba de publicar os livros dos poetas Rodrigo Madeira, e Márcio Davie Claudino (O sátiro se retirou para um canto escuro e chorou). Breve teremos lançamentos e recitais e etc e tais.

Tuesday, April 10, 2007

FLÁVIO DEALMEIDA


































Uma amostra das charges geniais do Flávio, meu mais querido personagem é o Fido Rex...

Mais?... lá no FLÁVIO DIÁRIO


Monday, April 09, 2007

GERMINA LITERATURA & CAIOWAS

O site Germina Literatura colocou o meu livro "O sal das rosas" na sua Estante, Noir já está lá também:


Caio Carmacho incluiu a poesia "Profana", do meu livro Noir em uma seleção de poesias e músicas em um podcast, no endereço que segue..

http://caiowas.podomatic.com/entry/2007-03-31T19_10_52-07_00

Sunday, April 08, 2007

OZIAS FILHO


o encontro
e tu chegaste
como a palavra que
de súbito
irrompe a madrugada
de tempestades
e eras a calmaria
aparente
com a tempestade
dentro de ti
e eu, tempestade
aparente,
aguardava a calmaria
que vinha de ti
e de repente
encontramo-nos
tempestade e calmaria
calmaria e tempestade
uma dança inevitável
como o sentimento
que escolhe
o par perfeito
OZIAS FILHO
(Rio de Janeiro, 1.962)
Páginas Despidas
Ed. Pasárgada

ANA MESTRE











Ana Mestre

minha amiga do Alentejo






Gotas de limão à flor da pele


Chuva agressiva no vidro da janela,

no telhado...
Música no rádio que me acalma.
Um toque de Jazz, um saxofone
que me entra no ouvido como aguas calmas a cair,
na fonte.
Um fio de estrelas,
flores de algodão,
gotas de limão à flor da pele.


Grãos de açucar na ponta dos dedos,
entranhados nas unhas, cravados na pele.
Gotas de sei lá o quê a bater,
a ficar, a escorrer......
a desfazer os grãos de açucar.


Cristais de gelo nos meus olhos.
Derretem, descem por mim,
congelam de novo a tocar no peito.
Alma de malagueta, que sentes na minha lingua
quando me beijas.


Dispo-me devagar,
de olhos fechados,
a sentir cada milímetro da minha propria pele.
Chuva no rosto,
abraço teu,
múrmurios...


Chuva agressiva no vidro da janela,
no telhado...
Mãos negras dedilhando notas,
saxofone, jazz...
Um fio de estrelas,
Violetas e negras tulipas,
gotas de limão à flor da pele.

ANA MESTRE


www.dflyworld.blogspot.com

LILLIAN HELLMAN















Lillian Hellman veio me visitar em uma noite, era final dos anos oitenta e a rotina fosca e asfixiante havia eclipsado a minha veia literária, os meus anseios de menina, tudo esquecido. Até que coloquei as minhas crianças para dormir, apanhei um filme que havia alugado e fui para meu quarto no andar de cima. No andar de baixo, meu ex assistia -perdidos na noite- eu achava muito propício o nome do programa, e éramos mesmo dois perdidos na noite, na vida, na estrada. Só não sabia que ao ver o filme Júlia ia vislumbrar dentro chispas da antiga luz, e ia ter vontade de voltar para meu lugar. Sei que foi naquela noite, diante da vida de Lillian Hellman, vestindo a pele dela, sentada ao lado de seu Dash, olhando estrelas, envoltos em uma manta. Foi percebendo o meu sonho ali na tela que comecei a romper as amarras com o que me desviava da escrita, da busca do amor que é partilha. A química perfeita: Jason Robards - Dashiell Hammett. Jane Fonda - Lillian Hellman. Sempre volto ao inverno antigo, à cama vazia, ao silêncio do sobrado, as crianças dormindo e eu olhando a cena e pensando: É isto que eu quero para a minha vida! Escrever. Olhar as águas calmas de um rio, ao lado do amor maduro, e mesmo ao lado do amor, ser livre, e ter coragem para lutar por esta liberdade...
e então, eu mudei de idéia, e pintei diferente o quadro dos meus dias...
...
À medida que o tempo passa, a tinta velha em uma tela muitas vezes se torna transparente. Quando isso acontece, é possível ver, em alguns quadros, as linhas originais, uma criança dá lugar a um cachorro e um grande barco não está mais em mar aberto. Isso se chama pentimento, porque o pintor se arrependeu, mudou de idéia".
Lillian Hellman

Saturday, April 07, 2007

FABRÍCIO CARPINEJAR


MEU FILHO MINHA FILHA





"...Meus poemas buscam entender a dor e a alegria dessa criação difícil, desafiadora.
Uso a linguagem que um dia desejei ouvir de meus pais, também separados. Não acredito que o silêncio ou uma imagem seja melhor do que a palavra. O silêncio só começa depois da palavra. É uma recompensa por ter dito, não uma desculpa para não tentar."

Fabrício Carpinejar

SANDRO STARLING


GRUPO MUNDARÉU


REBECCA LOISE





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Rebecca Loise - uma menina que escreve
feito gente grande, amiga de mi alma,
estrela.




O JOVEM DE UM PULMÃO SÓ


Passos curtos e lentos e a sensação de cansaço. Calculou uns três passos para chegar até a parede de pedras e inspirou um mesmo ar acompanhando o ponteiro dos segundos do relógio até dar um minuto: precisava de fôlego. A idéia de morrer na tentativa de subir um muro de pedras nasceu e morreu cinco vezes enquanto fazia todo o esforço dos mundos na escalada. Lá de cima, lembrou do Muro das Lamentações – que circundava o templo de Herodes, na antiga cidade de Jerusalém –, e teve vontade de fazer preces. Mas antes: um cigarro para ver se o medo de altura se esvaía junta à fumaça.
Que pudesse existir no dia 16 de Junho de 1904 nem que por três minutos no livro “Ulisses” foi a sua primeira súplica. Sabia que pedir para ser Leopold Bloom, o anti-herói do livro de Joyce, não era para ele - o jovem de um pulmão só. E agora cogitava sobre se nasceu com dois pulmões ou se perdeu um deles vivendo demais. Aproveitou para culpar o vazio no peito pela ausência de pulmão. E antes que pudesse ocupar sua mente pensando em outra prece, começou a sentir dores. Dores! Dores!
Contorcia-se como conseguia no espaço que mal cabia seu traseiro. Por se desequilibrar em meio às pedras, lembrou-se de que o vento era o único apoio do seu tronco e reuniu todas as dores na sua pupila dilatada num susto. A imagem estranha do seu corpo morto caído no chão se pintou duas vezes enquanto procurava sentir a dor até a última fisgada. Não sabia de onde vinham aquelas dores e lembrava de como a dor do vazio no peito era menor. Rogou uma coragem maior, ou simplesmente: coragem para apagar o cigarro no seu próprio olho. Talvez sendo cego fosse mais feliz, ou menos triste, porque uma sensação iria embora e a respiração tornar-se-ia mais fácil, ou menos complicada.
Engraçado foi o sorriso que apareceu na boca dele só de ele imaginar numa dor feito cócegas. E as cócegas fizeram-no lembrar dos dedos dela na barriga dele, depois nas costas, depois nos cabelos compridos dele, depois lembrou da boca dela no pescoço dele, depois ela rindo da cara de bobo dele, depois ela dormindo nua, mas delicada, depois ele se esquecendo num sono que bem podia ser a morte.
Ela roubou o último pensamento dele – morto, caído, corpo – e devolveu o castanho das pupilas antes dilatadas e mergulhadas num quase preto total. Imaginar o som da voz da menina dele também doía, mas era como sentir a saudade da primavera estando no inverno; ele achava bonito. O corpo estremecia e o coração se preparava para congelar quando um vento gélido veio acariciar suas costas. Riu um riso tremido e se sentiu menos só quando viu alguém atravessando em trocas rápidas de pernas a rua à sua frente. Acabou o riso em menos de dois segundos por sentir inveja daquele alguém que parecia ser feito de um começo certo e que parecia ter uma direção. Mais dores por ainda não ter se acostumado com a felicidade efêmera! Por muito pouco não pulou do muro para seguir o mesmo rumo: recordou-se da sua incapacidade de acompanhar os passos desesperados do alguém. Não que ele não fosse desesperado, ele era - e muito -, aliás, ele era o próprio desespero, mas era também o jovem de um pulmão só e isso lhe tirava o poder de caminhar feito os alguéns de começo certo e com destino.
Acendeu outro cigarro para ver, ainda, se o medo de altura fosse embora com a fumaça.
O pensamento a esmo fisgou sua mente quando a brasa do filtro do cigarro fez queimar seu dedo. Ele sempre se esquecia. Arriscar-se a lembrar do pensamento que o fazia morrer por algumas estações era como perseguir o sopro da sua menina no pescoço dele, num quarto escuro – inútil.
O-so-pro-da-me-ni-na-no-pes-co-ço-de-le. Ah! Agora o riso ganhou temperatura e ele desatou a gargalhar. Era a segunda vez que lembrava dela na noite e a terceira vez que se lembrava dela desde quando a deixou dormindo na poltrona do cinema, na última sessão de anteontem. O medo de estar amando era pior que o medo de altura: cigarro nenhum disfarçava. Ele achava graça porque era uma sensação de ter alguém dentro, como se quase completasse o lugar vazio no peito. Era estranhamente bonito ouvir o riso dele mergulhando a imaginação nela, em toda ela. Mas o ver gargalhando era pavoroso: havia um terror na face. Talvez ele tivesse medo, também, de não sentir mais as dores. Ele não saberia se ser sem elas.
Felicidade efêmera de novo e de novo: o medo de amar se fundiu com o medo de nunca mais a ver e o riso se apagou, perdendo o desenho do corpo dela. Dores! Dores! E, mais do que sempre, sentia o frio, a falta de apoio das costas e a vontade de existir no dia 16 de Junho de 1904 do livro de Joyce.


REBECCA LOISE


Wednesday, April 04, 2007

HOMENAGEM A CHICO BUARQUE





HUMANA E PEQUENA


O vaso de alabastro
derrama poemas.
Eu, uma Madalena,
descalça e maltrapilha,
prostituída,
corpo rasgado
de saudades
de um lugar,
onde existia
apenas um sonho,
no sonho
apenas um amor,
e neste amor,
todo o poema.
Em meus braços
vaso de alabastro
nele:
água cristalina,
alephs,
girassóis,
arco-íris
a pele dele,
olhar de estrelas
escondidas.
Sou uma Madalena
humana e pequena,
pisando pedras
derramando poemas.


BÁRBARA LIA

ilustração: Vicente Simas
Jaboatão - Pernambuco
Umas e Outras
(inspirada na canção de Chico Buarque de Hollanda)
- Com um beijo de Madalena, esta poesia - olhando a tela do Vicente e apoiada na música que inspirou a cena... Um beijo de uma Bárbara, que não cala a boca, na minha paixão - mor - Francisco, de todos nós, um post todo para o Chico Buarque, imagens do Vicente - palavras minhas - ele que hoje canta no Guaira, e eu não vou ver , mas - vou te seguir - até o fim - no Barco de Lia, no Rio de Cora, enquanto -todos os meus nervos estão a clamar- ele vai ser o meu deus sereno, vai subir ao palco - sem Beatriz - ah! se eu pudesse entrar na tua vida!! -
Umas e Outras
Chico Buarque


Se uma nunca tem sorriso
É pra melhor se reservar
E diz que espera o paraíso
E a hora de desabafar
A vida é feita de um rosário
Que custa tanto a se acabar
Por isso às vezess ela pára
E senta um pouco pra chorar
Que dia!
Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar
Se a outra não tem paraíso
Não dá muita importância, não
Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão
A vida é sempre aquela dança
Aonde não se escolhe o par
Por isso às vezes ela cansa
E senta um pouco pra chorar
Que dia!
Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar
Mas toda santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
E a outra, triste namorada
Coitada, já deitou com os seus
O acaso faz com que essas duas
Que a sorte sempre separou
Se cruzem pela mesma rua
Olhando-se com a mesma dor
Que dia! Cruzes, que vida comprida
Pra que tanta vida pra gente desanimar

Tuesday, April 03, 2007

A MARGEM DO POEMA


EZRA POUND





Porão Loquax com Ezra Pound.
HOJE - 03/04 - O PORÃO ABRE 22H
Desde março de 2006, um grupo de pessoas interessadas em poesia, entre poetas, tradutores, músicos, artistas de um modo geral, reune-se regularmente uma vez por semana para ler e discutir os célebres The Cantos, do poeta norte-americano Ezra Pound. Passado um ano, concluída a leitura dos 30 primeiros Cantos (A Draft of XXX Cantos), o grupo resolveu comemorar tal cometimento com uma leitura pública, com Bárbara Kierchner, Keila Kern, Ana Madureira, Ieda Godoy, Octavio Camargo, Rodolfo Jaruga, Paulo Bearzoti e Marcelo Sandmann. Venha ser apresentado a um texto exigente e provocativo de um poeta radical, polêmico e incontornável como Pound.

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entrada R$ 1,99

Wonka Bar

R Trajano Reis, 326

Curitiba

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...