Thursday, January 11, 2018

As filhas de Manuela - Romance - 2017


Menção Honrosa no Prémio Fundação Eça de Queiroz - Portugal 2015.


Livro Poesia 2017



Link para o livro:

https://revistagueto.com/2017/03/22/uma-brasa-acesa-de-amor-e-morte/

Forasteira - Outubro 2016


A CADELA DE PLATÃO 


Eu sou a cadela de Platão
Só restos do banquete
Só o cheiro do amor
(o osso, o osso, o osso)
Voz de Diotima - eco singelo:
(é belo, é belo, é belo)
Não é belo lamber o chão
Fazer o amor virar lama
(sem cama, sem cama, sem cama)
Alguém arranque este amor até o siso
Nada mais vai brotar nas entranhas
Nas veias, na cava oca do coração
Este que acabei de atirar 
Ao mais amado cão

Bárbara Lia
Forasteira
Vidráguas/2016

Poesia falada



Para ouvir - clicar aqui

Pássaros Ruins #6 - Luciana Cañete (Curitiba)








POEMA PRA ANAS

O que é ver uma filha inerte? O que é um mãe à procura das sandálias da menina? A pequena esperando à porta, desenxuta e, no detalhe: a mãozinha delicada num trinco de metal.

O que é esse clarão que eu quase também vejo no meio da sala, da casa, no meio do mundo, da tempestade?
O que é um homem
que instala um para-raios
e não o aterra?

-O que é, senão,
a mão pesada de Deus a dar lições?-
Ana que deita pra sempre na frente
dos todos irmãos,
recém banhados.
Nem há coração pra ouvir
tanta chuva.

O que é, quando vem,
esse erro, esse raio,
que não volta atrás?
Que atravessa,
num egoísmo de destino,
o destino
de todos?

Nem sei,
nunca sabemos, vejo que existe pelo seu odor de enxofre e porque dele resta uma mãe que em dia de tempestade larga tudo,
senta num banquinho, calça sandálias de borracha,
junta as pernas e
se encurva.
até que volte o sol.

Para conhecer mais sobre o trabalho da poeta Luciana Cañete acesse:
http://deusdobravel.blogspot.com.br/

Cecília Vicuña - Chile





Sol en la edad




                         idade solidão



Cecilia Vicuña
Palavrar Mais
Editora Medusa
Tradução - Ricardo Corona

Maria Alice Bragança - Porto Alegre







Confidências
Quanto mais pensava
inútil
mais amava.
O desespero parecia
fazer com que o amor
se prolongasse.
Maria Alice Bragança
Quarto em quadro
Shogun editora e arte / 1986
página 15


Meu presente de amiga secreta do grupo "Mulherio", de uma amiga nada secreta que conheci no ano "Forasteira", 2016. Obrigada pela poesia. Ganhei o livro dela e o Móbile da Ana Santos (Patuá/2017).


Poda
É com pesar
que corto os braços da avenca
para fazê-la mais forte
Ana Santos

Por um tempo de delicadeza...




Cansada desta era binária. Como se tudo fosse preto e branco. Dois extremos que não correspondem ao real. Os discursos esticados à radicalidade total. Ser feminista é vestir a liberdade de ser igual. Ponto final. Isto em uma sociedade patriarcal, onde a mulher não tem a mesma remuneração, o mesmo respeito ou direitos, eleva tudo ao patamar da superação.
Sempre tive facilidade para conseguir trabalhos via concursos ou com meu diploma universitário. Passei em três vestibulares e interrompi dois cursos, todos bem diferentes. Não terminei o curso de Administração de Empresas. Parei no início do Curso de Psicologia. Restou a Professora de História que lecionou menos de sete anos pela vida. A minha trajetória parece que foi apenas para me colocar em lugares para contemplar o humano. Minha mente desperdiçou o lado material, eu só queria o néctar da vida e o que há no fundo do fundo do fundo. Ou, a metafísica como ouvi de um editor, como crítica: "este teu excesso de metafísica".
Quando a Oprah disse na cerimônia do "Globo de Ouro" que - o tempo deles já passou - ela quer dizer que para nós, que nos colocamos ao lado dos homens, este tempo já passou. Difícil é para quem carrega fragilidades e não consegue explodir correntes. É por elas e para elas que penso o movimento feminista como essencial, fortalecer, tirar a venda dos olhos, mostrar outras vias, pois algumas pessoas se acomodam no rito patriarcal e isto não é viver em plenitude, pois dá a outro o encargo de seu Ser. Ser é o que traz a completude, engrandece, faz o ar da vida penetrar tudo. E nada mais libertador que o Ar da vida que nos faz leve.
Também vivi o tempo da inocência ultrajada. De ser desejada por quem eu não desejava. Também me senti extremamente mal quando alguém "me comia com os olhos". Era assim que a gente dizia antigamente. Era como ser uma flor rara que não é colhida, arrancada, asfixiada, simplesmente por estar em um lugar onde isto não se faz possível. Ou, quiçá a flor soube ser sua própria defensora, como quem diz não e tem a sorte de conhecer apenas homens que aceitaram o seu não. Resta aqueles olhares, até tentativas de aproximação, uma agressão é embebida em algo que não traz em si a leveza do sentir dentro que reverbera na carne. Aquele momento que você acaba por ser alvo como se fosse para um abate. Alguém que te quer para saciar algo em si, alienado da beleza, da ternura. E era um tempo de ternura, era uma cidade interiorana, era outro espaço. Nunca fui abusada sexualmente. Nunca sofri na pele o que sofrem mulheres pelo mundo. Vivi a - sorte de um amor tranquilo - no tempo que durou meu casamento. Pós-separação convivi com poetas, isto significa estar bem distanciada de coisas mais banais e agressivas (sim, sei de poetas agressivos, vi Bukowski chutando uma mulher em um documentário), os poetas que amei primavam pelo belo, sem enredos rodriguianos, sem violações. Há algum tempo percebi o Facebook como um palanque para todas as causas, e os discursos inflamados, quando não contém veracidade e semente de futuro, cansam. Não apenas cansam como não trazem o resultado real. Uma angústia grave a revolução dos megabytes que não salva o País, a fala que não vira ação.
Agora, pessoas famosas diante dos holofotes, enquanto mais uma menina é morta por um amante covarde.
Um amante covarde não apaga o brilho de um homem bom. E esta radicalidade de algumas correntes feministas; odiar os homens, isto eu não visto.
Este tema é delicado como quem deseja narrar Deus, caso Deus exista. Vivemos milênios a ainda estamos na casca do fruto da Árvore da Vida. Talvez falte poesia, ou o Amor real, não confundir com desejo, este que leva homens a matar, e até mulheres a trafegar por lugares estranhos. Desejo sem amor diminui um pouco o nosso elemento humano, eu sinto assim. Há quem consiga o desejo pelo desejo, e isto é liberdade de cada um. Eu não consigo. Desejo com amor é roçar alturas.
Aliás, parece que o desejo virou pecado (para muitos, ele sempre foi). Logo ele que poderia ser explorado para alcançar um pico/ápice de realização como beleza. É que o Amor, este que tantos cantam, ele também ainda é um fruto desconhecido.

E como sou caótica, quando escrevo um textão eu me perco...
Mas, não escolho nenhum discurso neste embate Oprah x Deneuve. . Achei um pouco rasa a ideia das francesas, mas não abro mão de dizer que o desejo não pode ser matado a pauladas, e seria um pouco cínico negar o desejo. Há algo de dar asas ao corpo lá na França. Uma vez, em um elevador, um poeta francês me roubou um beijo. Mas eles se jogam com extrema paixão e isto não configura invasão. É como se ele dissesse: te quero demais para que me negues isto. Sabe-se lá como funciona a linguagem do corpo como se em um continente o beijo fosse a nossa sutil cantada. Enfim... Eu apenas sigo, pensando em como transmudar o humano sem perder suas delícias, esta é a grande batalha que perdemos sempre, o caos nosso de cada dia. Caos maior para quem faz Poesia. Essas alminhas delicadas... Ou, era pra ser, não sei de mais nada.

Friday, January 05, 2018

um poema para o ano que começa...




O Rio de Janeiro
é uma brasa acesa
de amor e morte

Iemanjá pranteia
o diabo goza
as estrelas gritam
as areias respiram
a dor e a glória

o Cristo quer
descascar a pedra
descer ao asfalto

sambar na quarta-feira
e em cinzas
diluir

Bárbara Lia
Uma brasa acesa de amor e morte
(gueto editorial)

fotografia - Lucas Landau

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...