
La vague - Bouguereau
Qasîda de Dionísio
Com Dionísio
ergo-me e brindo-te comigo:
borbulhas
palavras!
Bebe-me,
terás o ar da vida.
Bebe-me, e esquece
o que teus ombros inclina.
Estou em flor
nas encostas da vinha,
afasta de mim
a triste ermida.
Olha-me menino
reviro a areia...
Molusco em concha
esquecida, descobre-me
nas dobras do sal
nos enlevos do mar.
Nas dobras do sal
enleve-nos o mar.
Uva
sem sumo,
saliva
sem residência.
Não resistas,
desejo o teu alarme de vida.
Embriaga-te
e deixa falar-te o meu idioma.
Sereia nos ganchos
de anzol de delírios,
sou a margem,
o costado solitário.
Colhe-me e terás
o céu de tempos idos.
Tempo incriado, eu
faço-me a tua origem,
a mãe que te levou
oxigênio às artérias.
Vê-me,
estou no espelho de tuas águas.
Sabe-me a cor
que em mim deleitas,
sou a refração,
sou a refração.
E adeus,
se fui o que me foste...
casca da árvore, a seiva...
esta é a última chuva.
Michel Sleiman
Poeta e Professor de Língua e Literatura Árabe na Universidade de São Paulo (USP). Publicou A Poesia Árabe-Andaluza: Ibn Quzman de Córdova.