Fernando Koproski: poeta paranaense, escritor e tradutor
Bárbara é minha irmã
por parte de pai. Ainda que hoje ela negue veementemente isso, e diga que é
filha do seu Ladercio com a dona Patrocínia, tenho certeza que ela é filha do
Vinicius de Moraes com a Florbela Espanca. Daí vem nosso parentesco. Só não me
perguntem como meu pai Vinicius pode ter tido em agosto de 1955 uma filha com a
poeta Florbela Espanca que uns dizem morreu em 8 de dezembro de 1930... Esse
tipo de coisa não se explica, pelo menos não no nosso mundo. Mas é o tipo da
coisa mais natural que pode acontecer no mundo de Alice. No país das
maravilhas, de onde ela veio, deve haver uma centena de explicações razoáveis
para que tal encontro aconteça. Posso até imaginar essa e outras questões,
completamente plausíveis na boca do Chapeleiro, enquanto ele toma um
tradicional chá das cinco com a Lebre de Março. Enfim, mas não é de Alice que
falamos aqui e sim de Bárbara. Embora a menina Bárbara, na seção que abre este
livro, intitulada “a menina de sua mãe” guarde muito da menina Alice, dançando
entre assombros e deslumbramentos, em seu percurso de descobertas pelo país das
maravilhas que é a infância. Sim, a infância é este país de saudades doces onde a menina poeta se
inaugura em versos e se descobre num mundo de magia, afetividades e
delicadezas. A magia da poesia, nessa instância é regida pela beleza, ternura e
o mais puro encantamento (naquele tempo
eu colhia o sol mesmo nos dias cinza). Não à toa, a autora quando encontra
a ternura revisitada na fase adulta, a abraça de forma irreversível, pois sabe
o valor que ela tem e, sobretudo, compreende a raridade e a preciosidade que há
nessa ternura em tempos de caos e decadência: quando alguém rasga uma nesga de humanidade terna/ você quer sugar esta
veia/ comer pelas bordas a pessoa inteira/ guardá-la em ti de todas as maneiras.
Mesmo quando se
revolta diante da ríspida realidade da fase adulta, e é atirada na dimensão angústia, isto é, nesta
dimensão onde se descobre que os poetas
mentem e tudo que é belo se deteriora, Bárbara ainda é impulsionada pela
magia e não se conforma com a decadência humana. Em certo sentido, sua busca
por compreender e rastrear a beleza em tempos de pobreza, e de empunhar buquês
de delicadeza em meio ao terror de nossos tempos, é ainda uma forma de ver
Alice revisitada na fase adulta, lutando por nossos últimos resquícios de
humanidade. Essa nova Alice, já senhora e ainda menina, veste uma armadura
delicada, se arma de fragilidades e de compaixão, e com certeza sabe de suas
impossibilidades... mas isso pouco importa. Nada vai convencer Bárbara a ser de
outra maneira. Ela há muito já atravessou
as grandes águas e desvendou o poder transformador da Arte. Tanto que sente
na maior naturalidade que sua casa é o
olhar azul de Van Gogh/ dentro dele as estrelas enlouquecem/ e o girassol
incorpora o sol. Assim é que a encontramos nesse livro, como uma bárbara
Alice disposta a experimentar, escrever, se reescrever e amar, e principalmente
isso: Amar em tempos inamáveis. Como ela mesma diz, como um rouxinol eletrocutado, temo partituras/ ainda que siga amando
loucamente a música.
Como o bolo mágico
que faz Alice crescer, essa crença na poesia como profissão de fé (e de febre)
faz o texto poético de Bárbara crescer aos olhos incrédulos do leitor e o
convida a uma incrível jornada noite e dia adentro de uma menina, que um belo
dia surgiu em Assaí em 1955 e de lá partiu para deliciar o mundo. Portanto, ao
entrar nesse livro, se preparem para provar várias delícias em versos. Pois
minha irmã é ótima confeiteira. Disso eu tenho certeza. Digamos que ela tem uma
mão boa pra isso. Ou talvez isso seja coisa de família mesmo... E por falar em
família: pra finalizar digo que seus versos têm a grandeza dos versos de
Vinicius conciliada com a espontaneidade das melodias do canto da Florbela
Espanca. Tanto que é possível sair desse livro, com pelo menos um coração
em flor, abraçado por seus poemas ou acarinhado por suas músicas de ideias.
Um abraço do seu
irmão,
Fernando Koproski
(filho do Vinicius
de um outro casamento...)
Forasteira
Poesia
Vidráguas
Coleção VentreLinhas
(2016)
80 páginas
link para editora vidráguas:
https://www.facebook.com/vidraguas/app/206803572685797/
Forasteira
Poesia
Vidráguas
Coleção VentreLinhas
(2016)
80 páginas
link para editora vidráguas:
https://www.facebook.com/vidraguas/app/206803572685797/