Thursday, July 27, 2006

livro do desassossego


"Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições."
"Eu não sou pessimista, sou triste."
"Tão supérfluo tudo! Nós e o mundo e o mistério de ambos."

"Uns governam o mundo, outros são o mundo."
"O sonhador é um emissor de notas, e as notas que emite correm na cidade do seu espírito do mesmo modo que as da realidade."
"Escrevo demorando-me nas palavras, como por montras onde não vejo, e são meios-sentidos, quase-expressões o que me fica, como cores de estofos que não vi o que são, harmonias exibidas compostas de não sei que objetos. Escrevo embalando-me, como uma mãe louca a um filho morto."
"Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar - ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas."

Fragmentos:
Livro do Desassossego
ÁTICA, LISBOA, 1982
BERNARDO SOARES
(um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...