Friday, November 16, 2007

NOVEMBROS


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SOL NO CIO

p/minha mãe


A mulher coloca a laranja-da-terra no orvalho.
Corta o mamão verde em talhos,
esquenta o tacho em ternura e açúcar.
Mexe até que torne
sol transparente no cio
ou verde-éden passeando no céu da boca.
Também ela, translúcida e doce.
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Minha transparência retira véus e inaugura farpas...
Não sei tornar frutas verdes em delícias vítreas.
Não deito no fogo o espírito indócil.
Não aprendi com ela
a deixar as dores de molho no orvalho,
a calar as palavras que derrubo no amado,
como um branco leite de fogo sem juízo.
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E isto é tudo o que sonho:
Ser bela morena ao redor do tacho,
mudando o duro amargo das frutas e das horas
em verde-éden passeando no céu da memória,
e sol no cio desnudando labaredas de açúcar.
BÁRBARA LIA
(A última chuva - ME ed. alternativas, 2.007)
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Dezesseis novembros e uma saudade. Novembros. Tantos e tantos depois deles. Meu pai morreu dois anos depois - de saudade. Parou de viver e esperou solenemente o corpo definhar. Meu pai que amou mais que o amor. Ele não conseguiu viver sem a sua querida. Eu que sou leoa, pela primeira vez e única fiquei dias e dias prostrada. Que falta faz o sol!! Uma metáfora talvez dos ciclos da vida, morte-vida, meus três filhos nasceram em dezembro. E eu que não ligo a mínima para datas sofro novembros, fico frágil, órfã.
Na foto minha mãe tem uma menininha adormecida em seu colo. A praça é empoeirada. Campo Mourão é uma cidade de poeira vermelha. Minha mãe tinha uma adoração pelos netos. Eu sempre a visitava para que ela pudesse ver as crianças. Ela está sentada na escadaria da praça e tem a Tahiana adormecida no colo. A Paula vermelha de sol na sua pele clara. E a menininha que dorme acaba de se transferir para São Paulo, vai voar por aí, minha comissária de bordo.

La nave va...

2025

Quero contar sobre os três desejos realizados em 2025. A Poesia. Sempre a Poesia. Eu não percebia enquanto tudo fluía, distraída e ao redor ...