Tuesday, June 12, 2012

O homem




O homem é o animal mais carente da Terra. Esconde-se entre paredes e vive em grupos. Atualmente o bicho homem está no nirvana, pois existe um mundo onde ele se esconde entre pequenos espaços onde basta clicar – aceito – curti – compartilho - e lá está o bicho homem inserido no universo, aceito, aprovado e louvado. O bicho homem é o único que nasceu para ter um diferencial, por conta de algo que lhe foi doado – o raciocínio. Não tem rotas celestes impregnadas em sua gênese como os pássaros. Não tem a sabedoria das abelhas e nem a paciência das formigas. Tem apenas um bloco em branco à sua frente e quando ele nasce começa a ser aquilo que todo homem é – um narrador. De ato em ato vai narrando seus passos, vai inscrevendo sua vida e vai assimilando os códigos. O bicho homem já nasceu ferrado, pois vários livros se abriram à sua chegada e ele vai ter que obedecer muitos mandamentos: A família vai dizer coisas, a igreja vai dizer, a escola vai dizer, depois a roda de amigos, depois os filósofos se ele se interessar. Muitos não chegam ao patamar maior dos códigos humanos, muitos morrem sem conhecer – os poetas. Alguns passam a vida no vislumbre do belo, à sombra de uma beleza, em nostálgica angústia ao perceber que está perdendo algo, sem saber o que está perdendo. São estes olhares opacos que os fotógrafos captam em suas andanças. São estas vidas sem códigos, quiçá os mais felizes, quiçá os mais cansados da liberdade de existir.  O bicho homem precisa desviar de vírus vários  e eles estão em todo canto. Mas, não escapam destes vírus coletivos e tentam se integrar às leis. Por outro lado, os criadores das leis vivem se arvorando em deuses, em julgamentos vários. Não dá para contar quantos morreram por conta do julgamento humano, da falta de poesia, da suprema petulância dos que se colocam acima em um patamar medíocre a apontar o alvo. As flechas todas caindo em chamas em alguma cabeça que ousou pensar livre. Lá onde não existe o facebook, as siglas e as instituições. Neste lugar onde mora a rosa virgem e o cordeiro branco. As flechas caem, tudo é vermelho em um instante, um coração transpassado, mais um morto pela alcatéia faminta. Mais um pra validar o pensamento de Camus – Não há que se temer o  julgamento de Deus, quando se conheceu o julgamento dos homens.
O animal humano vai sair pela noite, vai fechar todas as portas do seu carro, vai entrar em sua garagem e acionar todos os alarmes, vai trancar todas as fechaduras de sua porta e vai cerrar as cortinas. Vai brilhar numa tela imagens que são de gelo, impenetráveis e inodoras. Ainda assim, ele vai se sentir feliz e vai sorrir. Inserido no universo comunitário a la admirável mundo novo. Todo mundo já tomou sua pílula Somma e todo mundo vai despir a alma para se tornar um, apenas mais na matilha, este feliz animal humano.

Bárbara Lia
junho de 2012

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  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...