A palavra é Deus, com ela constrói-se – o mundo. Só nela quero morar, beber suas seivas lácteas, todas, só dela o esperma bruto, com gosto de sal, vida, concha e pérola. Só da palavra, retirar o gozo tênue desses que seguem como o estrondo de uma castanhola, expandindo em ritmo com os passos da bailarina – aumenta, aumenta, aumenta, aumenta de forma angustiada, mas, não pára.
Como pensar que uma simples ordem altera um reino de mesmas palavras. Antes – Pedra de brisa – Mesmo sendo pedra, eram asas, solfejos, eram pura Babilônia no dia do recomeço. Agora – Brisa de pedra. Não dá para respirar como antes, lambendo o meu coração, agora arranha. Brisa de pedra. As pedras naquela caixa cibernética transparente inacessível. Em cada manhã eu colhi uma pedra de vidro colorido em uma areia branca, em cada manhã depositei em uma caixa diante das mãos de um menino de olhos invisíveis. O vidro transparente em aurora boreal luxuriante. Pedra de brisa, pedra de brisa, qual a magma da alma do anjo que alterou a ordem do universo em Brisa de pedra?
_Bárbara Lia.
photo by logan troxell
photo by logan troxell